Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 07.06.2013

Barra

A guerra contra um professor libertário

Com um talentoso elenco jovem, espetáculo da Cia. Arthur-Arnaldo traz um tema forte, voltado ao público adolescente

Carú Lima, Fábio Rhoden, Júlia Novaes, Luísa Taborda, Taiguara Chagas e Vagner Valério. Guardem bem esses nomes. Que elenco! Vale a pena prestigiá-los no espetáculo Coro dos Maus Alunos, texto do português Tiago Rodrigues, com direção de Tuna Serzedello.

A peça – com entrada franca – é de temática jovem e os atores são todos muito jovens. Fazem parte da Cia Arthur-Arnaldo, que, desde 2007, com idealização de Soledad Yunge, nos proporciona excelentes espetáculos de um filão ainda muito incipiente no Brasil: a dramaturgia voltada para os adolescentes. Já fizeram Bate-Papo, Cidadania, DNA e Feizbuk, muito premiados.

É incrível como o elenco é bom, bonito e talentoso. Fiquei impressionado com suas vozes e a forma correta com que falam o texto, pronunciam as palavras, preocupando-se com articulação, volume, compreensão e projeção da voz. Isso é raríssimo nos elencos em geral, ainda mais num grupo assim tão jovem.

O espetáculo todo se passa numa escola de ensino médio, em que um professor se destaca por sua vocação libertária, por falar de filosofia e outros temas densos de um jeito que conquista de cara os adolescentes mais rebeldes e desatentos. Ou seja, um professor carismático, nem um pouco preocupado em seguir currículos oficiais, mas louco para contribuir para arejar a mente de seus alunos. A educação como prática da liberdade.

Claro, logo a direção da escola e os pais começam a protestar e a questionar seus métodos. O amado mestre, por exemplo, no primeiro dia de aula, estimula os alunos a falarem palavrões, a xingarem da forma mais cabeluda que conseguirem, justamente como ponto de partida para uma aula de iniciação à filosofia.

O que é “ser educado”? Para que serve um professor? Qual a atitude esperada de um aluno? Qual a função da escola? São as perguntas – levantadas no programa da peça – que perpassam toda a trama. Existe uma intenção clara do autor em aproximar sua peça, que submete o professor a um processo e a uma condenação final, do famoso julgamento de Sócrates, em Atenas, magnificamente retratado na obra de Platão.

Todos os atores, além de seus papéis fixos de alunos, revezam-se no papel do professor, da diretora e da assistente pedagógica, ou seja, os adultos – num jogo muito bem arquitetado pela direção. Boa é a sacada do figurino, que os veste a todos com moletons e camisetas típicos de colégio, mas no lugar da logomarca da escola vem escrito apenas “uniforme”.

O espetáculo se inicia no hall do teatro, antes de o público entrar na sala. Pena que a acústica dessa área externa, na Oficina Cultural Oswald de Andrade, no bairro paulistano do Bom Retiro, é péssima. Mas o recurso é válido por oferecer ao público, assim de antemão, justamente aquela que será a cena final – mas, claro, ninguém sabe disso ainda. O público se acomoda e começa todo o flashback que explica e culmina na cena já apresentada como prólogo.

Um único porém. A iluminação é ineficiente e chega a ser irritante. É toda construída com base em retroprojetores, que os próprios atores manipulam, acendendo e apagando, ligando e desligando, durante todo o espetáculo. Depois de 15 minutos desse jogo excessivamente criativo de iluminar e escurecer, o truque’ já fica mais do que explícito para o público – e aí essa brincadeira cansa. É curioso no início, mas não deveria persistir por toda a duração da peça.

Serviço

Oficina Cultural Oswald de Andrade
Rua Três Rios, 363, Bom Retiro, São Paulo
Telefone: (11) 3221-4704.
Sextas às 20h e sábados às 19h
Até 22 de junho
Grátis