Entrevista publicada no Jornal O Fluminense
Por Iale Renan – Niterói – 03.08.1976

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E Com Vocês Sílvia Orthof!

Cheguei no Teatro Senac, o espetáculo já havia começado, e Sílvia assistia preocupada, pois por motivo de doença um ator foi substituído às pressas. Pensei na minha fiel fotógrafa, que está com a gripe “Geni” e por isso não está podendo trabalhar, tal como o ator.

Terminado o espetáculo, sentamos lá fora, escondidos, para que ninguém atrapalhasse nosso bate-papo. Como sempre foi uma dificuldade achar o gravador dentro da bolsa. Vitaminas, livros sobre teatro, fitas K-7, e até uma garrafinha de vinho que eu ganhei estava ali! Achei! Afinal o gravador! – Ufa! Agora podemos começar…- Disse eu meio sem graça.

Conheci Sílvia Orthof no ensaio de sua atual peça. No final ela sentou-se ao meu lado e perguntou o que eu estava achando do espetáculo. Vibrei, pois sempre admirei muito Sílvia, aquela coisa de fã mesmo. E na época, a coisa que eu mais fazia era assistir a ensaios nos fins de semana. Onde eu pudesse entrar, lá estava eu! Mas hoje tenho o prazer de entrevistá-la; de apresentá-la como se apresentam as grandes estrelas: – Senhoras e senhores, Sílvia Orthof!

Sílvia é autora, diretora e também a figurinista da sua atual peça em cartaz, Eu Chovo, Tu Choves, Ele Chove.

– Comecei a fazer teatro aos 15 anos de idade, hoje estou com 47. Comecei com o Paschoal Carlos Magno, fazendo a Julieta de Romeu e Julieta. Na TV Record eu fiz o 1º teatro em televisão. Eu fiz muita coisa, e só me afastei um pouco do trabalho teatral quando casei. Depois de casada fui morar numa aldeia de pescadores no sul da Bahia. Lá, eu escrevia peças e havia uma escola onde apresentava meus trabalhos. Depois fui para Brasília, onde apresentei o primeiro teatro de bonecos para a TV. Também dei aulas em faculdades, onde ensinava tudo o que havia aprendido na França sobre teatro. Lecionei lá. O 1º espetáculo que montei que não fosse com fantoches, mas com gente, foi no Rio. Eu tirei o 1º lugar no concurso de Guaíra, Curitiba, com a peça A Viagem do Barquinho. Com o dinheiro do prêmio, montei a peça no Museu de Arte Moderna. A peça foi muito bem recebida, e teve o prêmio de Melhor Espetáculo do Ano. Montei também uma segunda: Zé Vagão da Roda Fina e Sua Mãe Leopoldina.

– O Eu Chovo, Tu Choves, Ele Chove, ganhou no Guaíra também, não é?

– Foi em 1976. Tirei de novo o primeiro lugar, foram dois anos seguidos. E agora estou com essa remontagem do Eu Chovo, gostando muito de trabalhar com esse grupo. Estou remontando também em fantoches para as escolas da Roda Fina e Sua Mãe Leopoldina. As escolas que estiverem interessadas já podem entrar em contato com a gente.

– Como surgem suas histórias?

– Em geral de desenhos que faço. E através de perguntas para crianças. No Eu Chovo, perguntei a uma criança quem é que mandava a chuva, e ela respondeu o chuveiro. Eu acho que já te contei isso, não é?

– Já sim. Você também é pintora?

– Não, eu já estudei muito pintura, inclusive minha mãe era pintora, e papai também. Por isso eu gosto de bolar eu mesma o cenário e figurinos, já que quando escrevo faço os desenhos. Muita gente pensa que eu quero fazer tudo. Não é isso, é porque tudo vem junto.

E eu quero dizer mais uma coisinha para você aqui na entrevista. Eu fico muito contente em ver você, uma pessoa que gosta muito de teatro, escrever críticas, por amor ao que faz. E é de gente assim que a gente está precisando! Você pode dizer para o dono do jornal que ele escolheu muito bem a pessoa para escrever sobre teatro infantil! Diga a ele que pode escrever que eu assino embaixo! É isso aí…

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