Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 23.11.1991

Barra

Um convite à vontade de sonhar

São 36 enredos originais. A afirmativa é de Platão, e por certo o filósofo deve ter deixado de incluir na estatística as mil e uma armações do duvidoso jogo do amor. Açucarado, impossível, sofrido ou equivocado, pode levar o ser humano da extrema euforia a profunda depressão em tempo recorde. Para alguns, no entanto, pode ser bem lucrativo. O cinema americano, por exemplo, passou as décadas de 50 e 60 faturando alto com a mesma trama: moça encontra rapaz, moça encontra rapaz novamente e são felizes para sempre. Mas isso é o cinema e Hollywood, hoje só existe na memória de uns poucos nostálgicos.

Perto daqui, no entanto, mais precisamente no Teatro Cacilda Becker, o amor também está em cartaz, com muita desenvoltura. A Princesa de Élida, um delicioso Molière infanto-juvenil, dirigido por Fábio Pillar, ocupa pela primeira vez um espaço experimental com todos os ingredientes de uma superprodução. Montado pela primeira vez no Palácio de Versailles, em 1664, por encomenda de le roi soleil Luís XIV, o espetáculo reproduz o gestual da época com bastante elegância e conserva a musicalidade original do texto.

A direção de Fábio Pillar é nitidamente a de um ator apaixonado pela arte de representar. Sem se descuidar da concepção geral, induz seus atores a criarem os personagens da maneira mais livre possível. Em alguns casos, o resultado é excelente, como o obtido pelo ator André Dias com um engraçadíssimo príncipe pretendente, tirando proveito de seu molejo natural e de suas expressões faciais. O over acting fica por conta do Bobo da Corte representado por Jorge maia, que desperdiça o texto e enxerta brincadeiras, na maioria das vezes dispensáveis, ao já bem – humorado espetáculo.

Ana Borges mostra um porte de princesa mimada e desempenha seu papel brilhantemente, com a presença cênica marcante que caracterizava suas atuações. Suely Franco faz da sua Aia do Castelo o que quer, tirando o melhor da comicidade apresentada pelo texto.

Os cenários e figurinos, também creditados a Fábio Pillar, são de muito bom gosto e preenchem todo o espaço do teatro, inundando o palco de magia para contar essa história de reis, príncipes e princesas. Um convite certo a certo a fantasia e a vontade de sonhar.

Cotação: 2 estrelas (bom)