O elenco mistura atores profissionais com muitos novatos

Crítica publicada no Jornal O Globo
Por Mànya Millen – Rio de Janeiro – 1995

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Um Baile Funk na Zona Sul

Rogério Blat e Ernesto Piccolo fazem contagiante musical sobre “funkeiros” 

Música, alegria, violência, preconceito, amizade. Em Funk-se, espetáculo criado pelo autor Rogério Blat e dirigido por Ernesto Piccolo, todos esses elementos misturam-se para contar, de forma ágil, a primeira história de uma galera funk levada ao palco. Numa atitude esperta, a dupla criadora encenou a peça, que acontece em duas noites num baile funk, com poucos atores profissionais e muitos atores novatos, entre eles funkeiros de verdade, padeiros e senhoras, pinçados de uma oficina de teatro promovida no Centro de Artes Calouste Gulbenkian. O resultado da fusão funcionou para dar mais realismo à montagem.

A história de um romance entre uma patricinha da Zona Sul e um frequentador dos bailes funks do subúrbio é apenas um pretexto para Blat falar sobre o preconceito que cerca essa galera. Responsabilizados pelos arrastões nas praias e por provocarem violentas brigas nos bailes, os funkeiros ganharam de Blat duas versões para sua história. Numa são vítimas e na outra são algozes. E num final onírico, talvez um futuro imaginado pelo auto (e pela sociedade?) um Deus negro se materializa num baile para promover a paz entre as galeras. No todo, a montagem é criativa, o som é maneiro e as coreografias contagiantes. Um baile funk na Zona Sul, em pleno Teatro da Praia.