A nova peça de Rogério Blat e Ernesto Piccolo: diversão e panfletagem

Crítica publicada na Revista Veja Rio
Por Bernardo Araujo – Rio de Janeiro – 19.11.1997

Barra

Multidão Em Cena

Elenco multiplica a animação de DNA Brasil

Ver dezenas de atores e atrizes de todas as idades pulando e se esgoelando não é novidade para quem frequenta o Teatro Gonzaguinha, no Centro de Artes Calouste Gulbenkian.

Lá o autor Rogério Blat e o diretor Ernesto Piccolo conquistaram seu público com populosos espetáculos sobre viagens de ida e volta ao passado e ao futuro, variações sexuais diversas, drogas e a mais dura realidade de uma grande cidade como o Rio elevada ao cubo. Mesmo com essa zorra no currículo, a dupla consegue surpreender mais uma vez. Sua quinta peça jovem, DNA Brasil, em cartaz no Teatro Laura Alvim, tem todos os elementos que causaram sensação em espetáculos como Funk-se e Com o Rio na Barriga, e um detalhe a mais. A peça é quase um musical, com canções carnavalescas e até coreografias no melhor estilo cancã.

As maluquices já tradicionais da dupla continuam em cena. Desde o início a multidão de rapazes e moças esbanja garra em rápidas cenas de personalidades da História do Brasil.

Pedro Álvares Cabral, Zumbi dos Palmares, Tiradentes, Pelé e outros são paralisados por simpáticos alienígenas cor-de-burro-quando-foge que se aproximam para coletar material genético. Eles têm uma combinação com o Instituto Brasileiro de Relações Interplanetárias, Ibri, para, a partir das amostras, fecundar uma mulher com o brasileiro perfeito, herdeiro de pessoas de destaque em diversas áreas.

Os vilões da história são membros do governo brasileiro que, comprometidos com os EUA fazem de tudo para interromper o trabalho do tal Ibri. O tenente-brigadeiro Amado (Natálio Maria)), um homem mais que suspeito, obedece cegamente ao picareta americano Mr.Dickson (Marcos Maya), empregado da Nasa encarregado de proteger o planeta de ataques extraterrestres. A história fica dividida entre cenas coletivas, com ótimas coreografias de Sueli Guerra, e a trama de personagens como Amado, sua mulher insatisfeita e seus filhos, o afrescalhado Marcélio e a alcoólatra-prodígio Lúcia.

Exagerados como sempre, Blat e Piccolo soltam os demônios em invenções como um programa de auditório onde menininhas querem passar ETs na cara e uma criativa coreografia com lanternas. A história tem aquela pontinha de panfleto, fala-se até em estatal leiloada, além dos pobres que se drogam por não ter o que comer, e o desenrolar não chega a surpreender. Mas, como sempre, o texto correto de Blat serve de pano de fundo ideal para as extravagâncias e piadinhas da direção de Piccolo. E o público ainda sai cantando que “todo estrangeiro quer ser brasileiro/Em outra encarnação”.

DNA Brasil

Teatro da Casa de Cultura Laura Alvim (265 lugares)
Avenida Vieira Souto, 176, Ipanema
267.1647
90 min.
Sexta (21) e sáb. às 21h
R$ 15,00

Estreou em 07.11.1997
Figurinos de Khalma Murtinho
Cenário de Analu Prestes

Com o Rio na Barriga / O Passado a Limpo / O Futuro Era Hoje, de Rogério Blat.

Quem não teve a pachorra de ver as três peças que lotaram o teatro do Centro Cultural Calouste Gulbenkian a partir de 1995 pode ir a Ipanema correr atrás do prejuízo. A primeira peça da trilogia é Com o Rio na Barriga, em que um pau-de-arara, após sofrer o calvário por aqui, lidera uma cruzada por um Rio melhor.

Depois, pela ordem, vêm O Passado a Limpo e O Futuro Era Hoje. No melhor estilo de De Volta Para o Futuro, personagens de épocas diferentes agem para enfrentar problemas como a pobreza e o império do tráfico de drogas no Rio.

Programão. Reestreou em 09.11.1997
Teatro da Casa de Cultura Laura Alvim (265 lugares)
Avenida Vieira Souto, 176, Ipanema
267.1647

Com o Rio na Barriga: quinta (20) às 21h. R$ 15,00
O Futuro Era Hoje: dom., às 20h. R$ 15,00.
O Passado a Limpo: Sáb. e dom. às 17h30. R$ 10,00