Primórdios
Meu primeiro contato com teatro foi no ensino fundamental, o antigo primeiro grau. Eu estudava numa escola pública da minha cidade, Santana do Livramento, no RS, na fronteira com o Uruguai. Na aula de artes, a professora sempre deu ênfase às artes plásticas, que era a área de formação dela. Mas revendo aquele tempo com olhos de hoje, eu percebo que ela abria relativamente bastante espaço para o teatro, certamente por perceber um interesse maior por parte dos alunos por teatro, ou pelo menos, por parte de alguns alunos. Entre eles, dois colegas, que sempre participavam dos jogos e das cenas que a gente montava em sala de aula, e eu, é claro. Nossa participação chegava a ser tão “insistente”, para dizer o mínimo, que lembro de a nossa professora nos pedir, com todo cuidado, para que nós também deixássemos os outros participar. Lembro também do auditório da escola e do clima, meio mágico, meio sombrio, meio bagunçado do “backstage”, e do “camarim”, que, na verdade, era uma sala de aula, que alguns anos mais tarde seria a minha sala de aula no último ano do ensino fundamental. Ainda hoje quando visito a minha cidade e passo em frente à escola, sinto uma nostalgia imensa e boas lembranças me percorrem. Nunca mais tive contato com essa professora, não sei nem ao certo se ela ainda é viva. Dos dois colegas “CDF”, só com uma eu ainda mantenho contato pela internet. Acho que nunca voltamos a nos falar sobre isso. Mas gostaria muito que ela soubesse o quanto aquelas aulas me marcaram e quanto a parceria e a motivação dela e do nosso outro colega foram determinantes para a minha escolha profissional.
Mais ou menos naquele mesmo período, lembro de ter assistido, pela primeira vez, um espetáculo de teatro. Não lembro o título da peça, mas lembro que era uma peça musical, sobre a Revolução Farroupilha, dirigida por Camilo de Lélis, com o grupo Face & Carretos, de Porto Alegre. Pelo menos, eu acho que já era este o nome do grupo, que tantas vezes depois eu assisti em Porto Alegre, principalmente em um espetáculo inesquecível, que me marcou muito, chamado Macário, o Afortunado. A ida ao teatro naquele dia foi algo transformador, uma descoberta, uma revelação. Era como se um mundo novo se descortinasse à minha frente, cheio de criatividade, de ritmo, de possibilidades, de encantamento. Lembro que o teatro não era um teatro de verdade, mas pra mim era como se fosse. Era uma sala, de uma antiga agência do Banco do Brasil, que tinha sido adaptada para uma sala de teatro. Até hoje ela funciona, tão ou mais precariamente do que naquela época.
O Teatro Amador
Não lembro exatamente quanto tempo depois – talvez três ou quatro anos – eu já estava no ensino médio, ou segundo grau, quando fui assistir, naquele mesmo espaço adaptado, batizado de Sala Cultural, uma peça montada por uma companhia local, a COTIL, Cia. Teatral Ielense. Aliás, esse nome estranho vinha da sigla de uma escola particular – I.L., ou Instituto Livramento – onde o diretor da peça era, então, professor de artes. Era uma peça densa, bastante sombria, baseada num conto russo, chamada “A Conversão do Diabo”. No elenco e na direção, aquele que veio a se tornar meu primeiro mestre em teatro, José Newton Canabarro, ou J. N. Canabarro, ou só Canabarro para os amigos, alunos, ex-alunos e tantos colegas que iniciaram no teatro através dele. Assisti o espetáculo com toda a gravidade, achando tudo muito bem realizado, com gente “séria” na plateia. Foi um reencontro com o teatro. E uma nova revelação: de que o teatro podia ser feito por gente “como eu”, gente próxima a mim, nascida na minha cidade. Pouco tempo depois, uma grande amiga, que tinha sido minha colega no curso de inglês, me convidou para uma reunião na casa dela. Nessa reunião estariam outros amigos dela, que estavam montando uma peça de teatro para crianças, A Bomba Atômica, de Pernambuco de Oliveira. Eu sempre fui uma criança muito tímida, e acho que ela intuiu que o teatro seria uma forma de eu encontrar um canal de comunicação e de expressão. Estranhando um pouco aquela gente toda, mas ao mesmo tempo fascinado por aquele universo novo, que parecia conectar vários pontos daquelas minhas poucas experiências anteriores com o teatro, comecei a ensaiar a peça. E também a fazer algumas amizades, área em que eu não tinha sido especialmente bem sucedido até então. A peça não chegou a estrear, não lembro exatamente porquê. Ela funcionou, no entanto, como um “trampolim” para minha próxima experiência teatral, dessa vez efetiva e definitiva. Lembrar-se disso é com uma viagem no tempo, em que imagens muito vivas circulam pela minha memória.
Essa mesma amiga me levou para um encontro com um diretor que estava buscando jovens para compor o elenco de um espetáculo que ele estava começando a ensaiar. O diretor era J. N. Canabarro, e a peça, Bons Tempos, Maus Tempos, texto do próprio Canabarro sobre a evolução da humanidade. Um texto bastante ambicioso, que todos nós abraçamos com muita vontade. Aquela foi a minha primeira experiência de teatro fora da escola, numa estrutura amadora, é certo, mas que tinha um aspecto bastante “profissional”, mesmo para os padrões de hoje. Tivemos pelo menos dois meses de ensaios regulares, tínhamos figurinos e cenários especialmente elaborados para o espetáculo (do próprio Canabarro, que é também artista plástico), uma produção, com apoios e parcerias, uma temporada de um mês em cartaz, com apresentações de sexta a domingo, naquela mesma Sala Cultural. Aquele grupo de pessoas acabou se tornando para mim uma minha segunda família, e até hoje mantenho contato com alguns deles. A Bons Tempos… seguiram-se outros espetáculos: O Bicéfalo, Para Sempre Carlos Drummond de Andrade, O Julgamento de Lúculo e Um Homem sem Profissão. Esta última já da “última fase”, em que eu estava prestes a me mudar para Porto Alegre, onde iria fazer faculdade. Roteiro que reunia fragmentos da obra de Oswald de Andrade e passagens da vida do autor, Um Homem sem Profissão foi um grande desafio também por ser minha primeira experiência com roteiro e direção, compartilhados com Canabarro. O desafio foi proposto a mim por ele, e eu prontamente aceitei.
Formação
Um Homem sem Profissão serviu, de alguma forma, como uma ponte para mim, entre Santana do Livramento e Porto Alegre. Com esta peça, fomos nos apresentar pela primeira vez na capital, em uma mostra de artes da fronteira, no Teatro Renascença, no Centro Municipal de Cultura. Afinal, um teatro de verdade! Daí surgiu a possibilidade de uma pequena temporada, no Teatro Museu do Trabalho, em que eu conheci algumas pessoas que se tornariam referências pessoais e profissionais para mim na nova cidade.
O tema “formação” teve idas e vindas, como acontece com quase todo mundo. A princípio, eu tinha escolhido cursar Letras, habilitação em tradução de inglês, na UFRGS, já que estudava inglês desde os nove anos e gostava do idioma. Mas não consegui me manter mais do que um ano e meio no curso, logo quis pedir transferência para o curso de Artes Cênicas, na mesma Universidade. Na época já tinha passado por uma experiência igualmente transformadora: as oficinas livres de teatro na Terreira da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, uma verdadeira febre na época, já que o grupo foi e ainda é uma referência em teatro experimental, e tem no currículo espetáculos inesquecíveis, como Ostal e Antígona. Sua sede na época, na Cidade Baixa, era um caldeirão cultural, sempre cheio de jovens idealistas e revolucionários. Devo ao Ói Nóis e ao Canabarro, ainda na minha terra natal, boa parte da minha consciência política, já que o teatro era e é para eles, antes de tudo, um elemento de transformação social. São inesquecíveis as oficinas que eu cursei com alguns dos atores do Ói Nóis na época, como Marcos Castilhos e Kike Barbosa. Mas a uma pessoa especialmente eu devo muito: a grande atriz Arlete Cunha. Fazendo as oficinas com Arlete e assistindo seus desempenhos arrebatadores em espetáculos viscerais como Ostal e Antígona eu posso dizer que comecei a entender onde o teatro pode chegar. Mas a formação acadêmica me chamava e, mesmo sem conseguir transferência para o curso de Artes Cênicas, voltei a fazer o vestibular – por quatro anos seguidos, já que o curso era bastante concorrido – até conseguir uma vaga no Departamento de Arte Dramática da UFRGS. Curso com formação bastante tradicional, na época, e também bastante consistente, o DAD era um celeiro que reunia alguns dos meus maiores mestres até hoje. Impossível não citar a inesquecível e saudosa Maria Lúcia Raymundo. Lucinha, como todos a chamavam, tinha o dom de despertar naqueles jovens aspirantes a atores uma chama inextinguível de amor pelo teatro e a consciência da responsabilidade de sermos artistas no nosso meio social. Lá também conheci uma grande mestra, que nos deu – a mim e a inúmeros artistas gaúchos – todo o alicerce da voz do ator no teatro, Marlene Goidanich, com grande generosidade, senso estético e inconfundível bom humor. E também conheci um outro lado de uma das maiores atrizes que eu já tive a oportunidade de ver em cena: Mirna Spritzer, uma professora e pesquisadora rigorosa e, ao mesmo tempo, extremamente afetuosa.
Falar no DAD e não falar nos meus colegas seria impossível, já que lá encontrei alguns dos meus parceiros de vida, que até hoje me acompanham aqui no Rio, como Rô Milani e Marcus Fritsch. Foi lá também que me arrisquei, pela primeira vez, na formação de um grupo de teatro, ao lado colegas que, como eu, já ansiavam por transpor os limites da Universidade e começar a construir uma carreira profissional. Assim surgiu o Grupo Gromerô, com amigos e colegas queridos: Marina Oliveira, Gabriela Greco, Lúcia Panitz, Simone Buttelli e Jéferson Rachewsky. Outros parceiros queridos estiveram juntos naquele momento: a atriz e cantora Viviane Juguero, o diretor Jessé Oliveira, a professora e diretora Gina Tocchetto, o produtor Giancarlo Carlomagno, o músico Roger Kichalowsky. O resultado foi meu primeiro espetáculo profissional para crianças, “O Equilibrista”, uma adaptação coletiva do belo e poético livro de Fernanda Lopes de Almeida.
Antes disso, pouco depois da minha mudança para Porto Alegre, minha única experiência com teatro para crianças tinha sido um espetáculo que acabou não tendo a trajetória que nós queríamos, por problemas de produção, chamado Cadê o Bicho que Tava Aqui?, que fez apenas uma temporada no Teatro de Arena. Uma das melhores heranças dessa experiência foi o contato com o grupo Caixa do Elefante – Mário de Ballenti e Paulo Ballardim – que começava a formar-se então, no início dos anos 90.
O Teatro de Arena foi, aliás, o local do que eu considero a minha estreia profissional, em 1992, com Quem Sabe a Gente Continua Amanhã, direção de Mauro Soares, que reunia textos de diversos autores, entre eles Vera Karam, que se tornaria uma grande e querida amiga, e uma referência na minha formação como ator, especialmente nos espetáculos Dona Otília Lamenta Muito, também dirigida por Mauro, e Aspargos Uruguaios em Oferta, ambos textos dela. Vera se tornou uma referência fundamental para mim também como dramaturga e como artista engajada em todas as etapas do processo de criação. A partir da Vera, deixou de fazer muito sentido para mim a ideia de um dramaturgo de “gabinete”. Ela tinha prazer em estar na sala de ensaio e acompanhava todas as apresentações das montagens originais dos seus textos. Aspargos surgiu como resultado da meu projeto de graduação em Interpretação. Já havia, bastante claramente, o interesse pela intercessão entre a escrita narrativa e a dramaturgia, pois Aspargos era originalmente um conto. Sob a orientação da professora Gisela Habeyche, adaptei e me auto-dirigi (!!!) naquele imenso desafio de estar sozinho em cena. A peça começou a ganhar vida própria após a minha formatura, em 1999. Com ela fiz algumas temporadas em Porto Alegre e participei de festivais no RS e em SP. No Festival de Marília, SP, Vera ganhou o prêmio de texto e eu, o de atuação. Naquele mesmo ano, para minha surpresa, recebi uma indicação ao Prêmio Açorianos, principal prêmio do teatro gaúcho.
Mudança para o Rio
O desejo de encontrar novos desafios em teatro, e percebendo um grande fascínio que o Rio de Janeiro exercia sobre mim – e sobre qualquer brasileiro – em 2001 decidi de mudar para cá. É claro que o fato de alguns amigos morarem aqui me ajudou bastante na escolha. E talvez tenha sido o fator determinante mesmo: sabia que aqui estaria cercado do afeto e do apoio deles, já que estaria, pela primeira vez, morando efetivamente longe da minha família. Essa “rede de proteção” talvez também seja minha melhor resposta às várias pessoas que, nos meus primeiros anos no Rio, me perguntavam: “se você quer fazer teatro, porque você escolheu o Rio e não São Paulo?” Além disso, já conhecia o Rio desde 1987, quando vim aqui pela primeira vez, enquanto São Paulo ainda permanecia, ainda que atraente, um lugar bastante estranho para mim.
Minhas primeiras referências aqui passaram a ser os meus amigos, que me receberam de braços abertos. Foram também eles que me ajudaram a trilhar o caminho das pedras: seja me ajudando a desbravar algumas oportunidades de complementação na minha formação, ou buscando oportunidades de trabalho, e também na minha “aclimatação” ao novo território. Não exagero quando digo que, até hoje, vivo um certo choque cultural aqui no Rio de Janeiro. Continuo sendo aquele menino nascido no interior, que, de súbito, se viu morando numa cidade que é o oposto de quase tudo aquilo com que ele se habitou a conviver na sua infância e parte da juventude. Mas a verdade é que não me arrependo, de forma alguma, da escolha feita pelo Rio de Janeiro.
Criação da Pandorga Cia. de Teatro
Posso dizer que o maior divisor de águas na minha trajetória profissional é a realização do espetáculo Infanto-juvenil O Menino que Brincava de Ser. O livro que deu origem ao texto teatral, de autoria da escritora carioca Georgina Martins, me foi apresentado por um ex-companheiro e querido amigo, Gabriel Junqueira, professor da Faculdade de Educação da UFRGS e um grande amante da arte, especialmente da literatura e do teatro. Sem dúvida, Gabriel intuiu que aquele livro daria um caldo excelente no teatro, já que a história originalmente criada pela Georgina é justamente uma grande homenagem ao fazer teatral, ao apontar para um dos seus elementos mais fundamentais, que é o jogo, o brincar de ser, vivenciado tanto pela criança que brinca quanto pelo ator que interpreta um personagem. Trouxe o livro comigo de Porto Alegre, e gestei o desejo de adaptá-lo para o teatro, até encontrar as parcerias certas. A incubadora, digamos assim, desse projeto não poderia ter sido mais especial. Eduardo Almeida, então meu companheiro, e eu cursamos algumas das oficinas que a Cia. dos Atores deu, no ano de 2006, na sua sede na escadaria Selarón, na Lapa. Ali conheci diversas pessoas que se tornariam amigos e parceiros de futuros projetos. E tive a oportunidade de ver e vivenciar o teatro sob os olhares instigantes de duas extraordinárias atrizes e professoras: Bel Garcia e Susana Ribeiro. Olhando agora para aquele período, vejo como foram importantes aquelas oficinas da Cia. dos Atores, não só para nós, como também para inúmeros artistas aqui no Rio. Alguns coletivos, se não surgiram ali, sem dúvida foram fomentados por uma visão artística criativa e verdadeiramente contemporânea.
Aquele foi o ambiente e o estímulo que eu precisava para, finalmente, materializar o sonho de colocar em cena O Menino que Brincava de Ser. Com muita coragem, e uma quantidade equivalente de cara de pau, eu diria, encarei o desafio de adaptar o texto, ao lado de um elenco de amigos e de pessoas que selecionamos a partir de nomes pré-indicados por amigos, e também de dirigir o espetáculo. A forma dada a ele, para mim um verdadeiro ovo de Colombo, surgiu a partir de muitas tentativas e experimentações, não só no processo de ensaios, como também após a sua estreia. Vem daí, eu acredito, a sensação de que esse espetáculo em especial é um ser vivo, que se mantém tão forte e verdadeiro quanto na sua estreia, em junho de 2007, apesar de – ou talvez por conta de – elencos que se sucederam, da ressignificação ao longo de nove anos e de uma reelaboração artística regular, que, de tempos em tempos, injeta fôlego novo ao espetáculo. Isso tudo se soma à urgência de falarmos sobre afeto, sobre respeito ao outro, sobre diversidade, sobre liberdade para crianças e jovens. E vem daí também, eu não duvido, a força que tem agregado um número grande de artistas que colaboram ou colaboraram com a Pandorga nesses nove anos de vida. Difícil não citar seus nomes: André Roman, Jan Macedo, Cristina Froment, Fernanda Sal, Eunice Simeão, Diogo Villa Maior, André Arantes, Francisco Leite, Gustavo Finkler, Tiago Mantovani, Viviane Cavalheiro, Rui Faleiro, Renata Siciliano, Jiddu Saldanha, Joana do Carmo, Thiago Monte, Daniele Geammal, Ricardo Lyra Jr., Tatiana Henrique, Giuseppe Marin, Leo Campos, Renato Mangolin, Fernando Nicolau, Mar Ferreira. E a lista só se ampliou com os espetáculos seguintes, Cabeça de Vento (2012) e Juvenal, Pita e o Velocípede (2015): Rô Milani, Luciana Zule, Susana Nascimento, Arthur Schreinert, Fernanda Guimarães, Daniela Calazans, Patrick Stoffel, Wellington Fernandes, Maria Amellia Silva, Cristiane Freitas, Rudi Garrido, Cadu Cinelli, Renato Marques, Mônica Riani, Paula Catunda, Bianca Senna, Jane Celeste Guberfain.
A propósito, ainda que possa parecer bairrismo, o nome da companhia, Pandorga (pandorga é o nome dado à pipa no RS), foi sugerido pelo ator e produtor Eduardo Almeida, um carioca.
CBTIJ
Minha relação com o CBTIJ teve início em 2007, quando, a convite de Ludoval Campos, me associei à instituição, juntamente com Eduardo e outros colegas da Pandorga. Em 2008, O Menino que Brincava de Ser participava do 8º Circuito SESC CBTIJ de Teatro para Crianças, que significou para a Pandorga, além de tudo, o início de uma parceria importante com a Rede SESC Rio, em cujas unidades depois apresentamos também nosso repertório, em algumas delas mais de uma vez. Foi também através do CBTIJ que estabelecemos contato com o SESI Cultural RJ, pelo qual já levamos o repertório da Pandorga aos teatros da rede. Pouco tempo depois, passei a fazer parte do Conselho de Administração do CBTIJ e, entre 2011 e 2016, ocupei o cargo de Secretário do Conselho.
Posso falar do CBTIJ por dois aspectos, ambos muito importantes para mim. O primeiro deles é a busca que temos tido, como uma associação, de qualificar o teatro para infância e a juventude e de discutir e buscar novas oportunidades para a produção e circulação dos espetáculos produzidos pelos associados. Por outro lado, vejo a função política que o CBTIJ tem ocupado ao longo dos 20, quase 21 anos de existência, ao representar uma parte significativa da classe teatral carioca junto a órgãos municipais, estaduais e federais, e empresas públicas e privadas, na apresentação das demandas e na defesa dos interesses de artistas e produtores da área da infância e da juventude. Vejo estes dois aspectos como fundamentais, tendo em vista a forma que, mesmo dentro da classe artística, o teatro para crianças e jovens ainda é visto, como uma forma de arte “menor”, menos “elaborada”, e por isso, menos merecedora de estímulos e de incentivos, sejam eles simbólicos ou materiais. Desde que comecei a me educar como espectador de teatro no RS, me habituei a assistir teatro feito por artistas e companhias que se dedicavam a todos os públicos, com igual paixão e nível de engajamento artístico, e acho que a partir disso eu acabei criando uma visão de teatro em que apartar os artistas de “teatro adulto” dos artistas de “teatro infantil” não faz nenhum sentido. Teatro para crianças e jovens é teatro e ponto! Assim, rendo homenagem a grupos e companhias como o Teatro Vivo, a Cia. Etc e Tal, a Cia. Face & Carretos, o Grupo Cuidado que Mancha, o Ói Nóis Aqui Traveiz, a Caixa do Elefante, e outros que me formaram como espectador e artista.
Novos Parceiros
Em 2000 eu conheci a técnica Michael Chekhov de teatro e desde então ela vem influenciando a minha criação. Naquele ano, ainda em Porto Alegre, fiz uma oficina intensiva com o professor norte-americano Scott Fielding, que me marcou muito. Foi como uma revelação, mas eu a percebi como algo que ainda não poderia desenvolver plenamente naquele momento. O tempo passou e em 2011 encontrei outro mestre da técnica, Hugo Moss, já no Rio. Com espírito investigativo e aguçado senso artístico, Hugo conduz a Michael Chekhov Brasil, com a qual venho fazendo oficinas e treinamentos desde aquele ano. A parceria se solidificou quando passei a fazer parte da equipe do espetáculo Boa Noite Mãe, dirigido por Hugo, estreado em janeiro de 2015, como assistente de direção e produtor. Foi o início do Grupo Assik, braço de experimentação e produção teatral da Michael Chekhov Brasil. Por estímulo de Hugo e Thaís Loureiro, parceira e gerente da MCB, participei do Michael Chekhov Association International Festival and Workshop, nos Estados Unidos. Lá tive a oportunidade de reencontrar Scott, meu primeiro professor chekhoviano, e completar um ciclo de estudo e de aprendizado dentro da técnica, além de estudar com outros grandes mestres da técnica. A confirmação de que um novo ciclo está se iniciando vem através de novos projetos, do convite para fazer parte do Conselho Consultivo da MCB e pela manutenção de uma parceria que tem gerado muitos e bons frutos.
NO RIO DE JANEIRO
2011 – Tem Bola na Cola, de Sergio Fonta, direção Fernando Berditchevsky
2008 – O Neurônio Apaixonado, de Cláudia Valli, direção Ivanir Callado
2015 – Juvenal, Pita e o Velocípede, direção Cadu Cinelli
2012 – Cabeça de Vento, direção Cleiton Echeveste
2007 – O Menino que Brincava de Ser (inspirado no livro homônimo de Georgina Martins), direção Cleiton Echeveste
2007 – O Menino que Brincava de Ser (Teatro Maria Clara Machado)
2009 – O Menino que Brincava de Ser (Centro Cultural Justiça Federal)
2012 – Cabeça de Vento (Centro Cultural Justiça Federal)
2012 – O Menino que Brincava de Ser (Galpão Gamboa)
2013 – Cabeça de Vento (Teatro Dulcina)
2013 – O Menino que Brincava de Ser (Festival Mix Brasil)
2014 – Cabeça de Vento (Teatro Gláucio Gill)
2015 – O Menino que Brincava de Ser (Sesi)
2016 – O Menino que Brincava de Ser (Teatro da UFF, Cândido Mendes)
NO RIO GRANDE DO SUL
1999 – Dráuzio, um Vampiro Diferente, Autora e Diretora: Vanise Carneiro (adaptação do livro homônimo de Lúcia Pimentel Góes)
1998 – Equilibrista, criação coletiva do Grupo Gromerô (adaptação do livro homônimo de Fernanda Lopes de Almeida), direção Gina Tochetto
1992 – Cadê o Bicho que Tava Aqui?, de e direção Jarbas de Oliveira
NO RIO GRANDE DO SUL
1999 – Aspargos Uruguaios em Oferta, de Vera Karam, direção Cleiton Echeveste
1998 – Apareceu a Margarida, de Roberto Athayde, direção Marina de Oliveira
1993 – Dona Otília Lamenta Muito, de Vera Karam, direção Mauro Soares
1993 – Ilusões de Homem, de William Shakespeare, direção Eduardo Fachel
1992 – Quem Sabe a Gente Continua Amanhã, de Vera Karam, direção Mauro Soares
1999 – Aspargos Uruguaios em Oferta, de Vera Karam
NO RIO DE JANEIRO
2012 – Traição, de Harold Pinter, direção Ary Coslov
2009 – Ano Novo, Vida Nova, de Vera Karam, direção Marcelo Aquino e Nicola Lama
2006 – Programa de Família, de e direção Raquel Grabauska
2005 – A Tuba, de Lauro César Muniz, direção Mário Faini
2005 – Traição, de Nelson Rodrigues, direção Gabriela Linhares
2015 – Boa Noite, Mãe, de Marsha Norman, direção Hugo Moss (como Produtor e Assistente de Direção)
2014 – Ana – Ensaios sobre o Tempo e o Vento, de Érico Veríssimo, direção Marcelo Aquino (como Assistente de Direção)
Depoimento dado à Antonio Carlos Bernardes, na sede do CBTIJ, em 24 de junho de 2016.