Crítica publicada em O Globo – Rio Show
Por Luciana Sandroni – Rio de Janeiro – 15.11.1991
Fábulas com lições no final
“La Fontaine” transporta para o palco, com sucesso, o universo mágico do escritor
Falar em ética e moral no Brasil é tarefa árdua. A Lei de Gérson ou de Zélia, de quem quer levar vantagem em tudo, está aí, firme, sem nenhum sinal de estar se retirando. Mas há um grupo de teatro infantil que, como todos os brasileiros, quer acreditar, que “quem com ferro fere com ferro será ferido”. Não seria má ideia: afinal, quem não gostaria dever mais moralidade e ética nesse País? Mas por enquanto estes conceitos só estão acontecendo no Teatro Cândido Mendes com a Companhia da Arca, que está levando a ótima peça La Fontaine em Fábulas.
Dulce Bressane, autora do texto, adaptou para o teatro as inesquecíveis fábulas de Jean de La Fontaine, como A Cigarra e a Formiga e O Corvo e a Raposa. São Histórias cheias de lições no final – aquelas que ouvimos desde crianças como “as aparências enganam” ou ”quem ama o feio, bonito lhe parece”. As fábulas mostram a ironia e a crítica de La Fontaine diante da nobreza da época.
Bressane, além de criar um texto simples e fiel, teve a ideia de por La Fontaine como personagem que é recebido pelos atores da Companhia da Arca. Assim, os espectadores ficam sabendo quem foi e onde viveu o autor.
Mas nem por isso a peça se torna didática. Maria Cristina Gatti, que assina a direção, dá um toque bem-humorado e ágil à montagem, aliviando o peso que algumas histórias têm no final, casos de A Cigarrra e a Formiga e A Coruja e a Águia.
O elenco – formado por Milton Quadros, excelente como Corvo e mãe Rata; Sonali D’Ávila, uma formiga impagável; Armando Sagui; Fátima Bernardes; Gedivan de Albuquerque, e Ronaldo Ramires – é de nível superior, com um domínio de cena total, uma ótima técnica vocal e uma boa integração entre si e o público. O figurino de João Gomes Rêgo alegra o visual da peça. La Fontaine em Fábulas é uma ótima atração, tanto para crianças como para adultos.