Crítica publicada em O Globo – Rio Show
Por Luciana Sandroni – Rio de Janeiro – 06.09.1991
A poesia e os símbolos dos contos de fada
A adaptação de A Bela e a Fera tem um bom ritmo, apesar do enredo confuso
A adaptação de Luca Rodrigues para o teatro do conto A Bela e a Fera de Mme. Leprince de Beumont alcança bom ritmo através do diálogo informal, sem perder, no entanto, a carga poética e simbólica do texto original. Rodrigues caracteriza os personagens como de costumes nos contos fada: Bela e seu pai são bons e trabalhadores, enquanto as irmãs só pensam na aparências. Os personagens bem delineados contrastam com o enredo, confuso logo no começo. E o desfecho se perde na adaptação: fica vago, deixando o espectador na dúvida.
A direção de Gilberto Gawronski imprime tom dramático; cada cena é trabalhada como um quadro, com pouco movimento. Toda manifestação de raiva ou alegria se conecta na expressão dos atores. A cenografia de Doris Rollemberg abriga o elenco em três espaços, colaborando com a inovação de Gawronski de colocar duas cenas ao mesmo tempo. No espaço superior, a Fera dialoga com Bela; e embaixo, o pai doente trabalha com a filhas. A iluminação de Paulo César Medeiros também se destaca. E a trilha sonora de Leandro Braga contribui para a dramaticidade com músicas densas. A sensualidade é marcada pelo figurino de Ermel Ribeiro, que capricha na transparência do vestido da Bela.
Luca Rodrigues, como Azor e a Fera, é o ator mais espontâneo e o único que não segue a linha dramática da direção. Jaqueline Sperandio, bela presença, passa o amadurecimento da personagem dosando bem a sensualidade e o medo. Flávio bruno constrói um pai triste. Fabiana de Mello Souza, como irmã de Bela marca todo o espetáculo com ar pesado, fazendo contraponto com Ana Achcar, a outra irmã má, que tem um toque de bom humor.