Matéria publicada no Jornal do Brasil
Por Maria Helena de Almeida – Rio de Janeiro – 19.11.1982
Uma história de 28 anos faz sucesso total
O Rapto das Cebolinhas, de Maria Clara Machado, está sendo remontado pela segunda vez no Rio, 28 anos depois que Napoleão Muniz Freire, então estreando no papel de Camaleão Alface, chegou a ser apedrejado à saída do espetáculo pelos indignados espectadores mirins.
– A peça é a mesma – diz Maria Clara – os diálogos foram todos conservados, apenas eu, como diretora, evoluí e acrescentei algumas marcações. A cenógrafa e figurinista Kalma Murtinho é a mesma da primeira montagem, o palco é o mesmo e a alegria também é a mesma.
Lembrando esta montagem, ela conta que Cláudio Correia e Castro, Roberto de Cleto, Napoleão Muniz Freire e Carlos Murtinho, todos começaram ali sua carreira teatral. Quatro anos depois, em 58, foi feita outra montagem, com Yan Michalsky no papel do médico e Fernando José como o Camaleão Alface.
O Rapto das Cebolinhas recebeu o primeiro prêmio do Teatro Infantil, no concurso anual de peças infantis da Prefeitura do antigo Distrito Federal em 53, mas o Getúlio morreu e Maria Clara não chegou a receber o prêmio. Tem sido montada em todo o Brasil, e ainda na Alemanha, Holanda, e em toda a América Latina.
– Na Rússia, onde foi montada durante cinco anos, no final da peça, quando o Vovô vai buscar a espingarda, eles substituíram pelo ancinho – conta ela.
O Rapto das Cebolinhas é uma história bem simples, que já tem versão para o alemão, russo, francês, ídiche e espanhol, esta feita por Maria Julieta Drummond. O Vovô plantava uma cebolinha especial com a qual fazia um chá, que dava longa vida e alegria. O Camaleão Alface, disfarçado em detetive, aparece no sítio, e rouba uma das cebolinhas. O cachorro da horta, Gaspar, é injustamente acusado de ser o ladrão. A peça vai justamente desvendar o mistério.
– Ela e o Pluft são o meu carro-chefe – diz Maria Clara – mas O Rapto das Cebolinhas é a peça preferida pelas nossas escolas. A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo acaba de comprar uma edição inteira, 4 mil 500 exemplares, de um livro meu, onde ela é uma das cinco peças, para distribuir nas escolas públicas do Estado.
Maria Clara acha que a peça é muito atual. Tem roubo, ladrão, falso detetive, tudo o que está no noticiário policial. O bandido, o Camaleão Alface, causa a mesma indignação de antes, o vovô, que representa a figura paterna bondosa, a mesma simpatia, e o cachorro Gaspar, injustamente acusado de roubo, o mesmo sentimento de solidariedade.
– Apenas a plateia de hoje – diz ela – viciada em fazer aquela gritaria que acontece na maioria dos espetáculos infantis, está mais mal-educada, berra mais do que fazia antigamente, são mais tipo macaca de auditório. Mas a emoção é a mesma.
Como alteração na montagem, apenas na cena final em que os atores batem com um pau no camaleão, Maria Clara conta que foi obrigada a reduzir a carga de violência da cena, porque estava dando a ideia de um linchamento.
– O mundo nestes 28 anos tornou-se tão mais violento que o papel do educador é o de evitar alimentar esta violência.
Para esta terceira montagem, Maria clara tem uma explicação bem simples:
– Montei o Leonce e Lena, que é uma peça de época, muito bonita, mas que me saiu muito cara e não está se pagando. E O Rapto das Cebolinhas é uma peça fácil de montar – foi montada em 16 dias – que só tem oito personagens e, além disto, o cenário cabe dentro do de Leonce e Lena. É a mesma floresta que desce dentro do cenário. E espero com uma tirar o prejuízo da outra.
Maria Clara conta que não costuma fazer muitas remontagens:
– Apenas Pluft foi montada três vezes, e O Cavalinho Azul, duas. Mas não tenho tempo de remontar minhas peças porque escrevo cada ano uma peça nova e quero montá-la.
Conta que está escrevendo no momento uma história de herói e dragão, em que o dragão surge destruindo a cidade e o rei oferece a mão de sua filha a quem seja capaz de derrotá-lo. “Mais ou menos como a de São Jorge e o Dragão”.