Crítica publicada em O Dia – Caderno D, Fim de Semana
Por Armindo Blanco – Rio de Janeiro – 06.12.1996
Acabam os contos da doce Priscila
No teatrinho do Museu do Telephone, ali no Flamengo, a atriz Priscila Camargo encerra, neste domingo, a carreira do seu bonito espetáculo De Boca a Boca, em que canta, dança e interpreta seis contos orientais, acompanhada de música ao vivo (flauta, violão, percussão e o inevitável sintetizador) e a participação de José Loyola manipulando bonecos.
Os contos são: A Princesa Obstinada, sobre um rei que tenta determinar o destino de seus três filhos e encontra grande resistência por parte da jovem do título; O Menino do Palácio do Dragão, sobre um garoto sujo e maltrapilho que tem o condão de atender desejos de quem o acolhe; Ahmad e a Mulher Resmungona, sobre um homem que dois ratinhos ensinam a lidar com a rabugenta mulher; Fátima, a Fiandeira, sobre uma jovem que tece sua vida destruída três vezes e, em cada uma delas, aprendeu um novo ofício, começando tudo outra vez; A Canção de Yunus, sobre um rapaz que, em busca da iluminação, ficou durante 18 anos varrendo o templo do grande mestre Taptuk; e O Urso da Meia-Lua, sobre uma camponesa crédula que recorre a complicadíssimas poções para tornar o marido menos amargo. O charme de Priscila e seu jeito doce de representar tornam muito agradáveis essas edificantes histórias, valorizadas pelas músicas instrumentais que Caíque Botkay, também diretor, compôs especialmente.
A novidade da semana é a estreia de Ubu, espetáculo com que o grupo Sobrevento comemora dez anos de carreira. Desta vez não utiliza bonecos, mas “atores-bonecos”, segundo técnicas do teatro Kabuki. O texto é uma adaptação do Ubu Rei, com fragmentos de Ubu Acorrentado, Ubu na Colina e outros “Ubus” de Alfred Jarry. Interpretação exacerbada, furiosa, ao som de música heavy e trash-metal.