Crítica publicada em O Globo – Caderno B
Por Rita Kauffman – Rio de Janeiro – 25.07.1986
A imaginação trabalha a sério
Indicado para o Mambenbe 85 como revelação de diretor por Morangos e Lunetas, Beto Crispun confirma, nesta temporada, seu talento, com o espetáculo Pedro e o Lobo cartaz do Teatro Cândido Mendes. Crispun optou por montar o clássico conto russo e mais uma vez contou com a habilidade de sua irmã Denise na elaboração do texto, adaptação para os dias de hoje. A história é muito simples: um lobo vive assustando uma longínqua aldeia, impedindo Pedro de brincar na floresta com seus amigos. Ao mesmo tempo que a rainha designa um caçador do lobo, o intrépido Pedro também sai em busca do animal e acaba capturando-o.
O Teatro Cândido Mendes é um espaço especial de trabalho, porque seu palco é minúsculo e a platéia fica literalmente grudada nos atores. E o que em princípio pode parecer mais simples é, na verdade um exercício de imaginação e criatividade para conduzir o espectador ao clima desejado.
Em Pedro e o Lobo, a ambientação foi resolvida com figurinos que remetem as aldeias russas, da música homônima de Prokofiev, e com o narrador, que dá unidade ao enredo e aproxima o público da trama – ótimo trabalho do autor Luiz Saleam, que, ao trocar os escassos cenários, introduz uns cacos para brincas com o despojamento do espetáculo.
Vale ressaltar ainda a narrativa que, em outras mãos, poderia ter resultado em espetáculos maniqueísta e moralista.
Com muito senso de humor, valores como coragem, fidelidade e rebeldia entram em cena sutilmente, como ingredientes. Não há imposição, nem didatismo, o que em se tratando de teatro infantil, é coisa rara.
O elenco é integrado por atores competentes e o trabalho de preparação corporal de Márcia Rubin se faz presente. Pedro é protagonizado por Jonas Torres, cuja experiência de palco é neutralizada por causa da empatia. Sente-se em Pedro e o Lobo a preocupação em produzir um trabalho sério, que resultou num dos bons espetáculos desta temporada.