Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Celina Cortes – Rio de Janeiro – 05.03.1995
Quarta montagem traz de volta personagem famosa de Maria Clara Machado
Em 1963, depois de um ano submetendo-se á psicanálise, Maria Clara Machado – a maior autora de teatro infantil do país e a mais representada no exterior – tomou coragem para enfrentar, no papel, a família, as autoridades e princípios repressivos, escrevendo um de seus maiores sucessos: A Menina e o Vento. A peça foi encenada no mesmo ano, no Teatro Tablado, com direção da própria autora. Naquela estreia, o hoje ator e diretor Wolf Maya subia ao palco pela primeira vez, aos 16 anos. Agora em sua quarta montagem, A Menina e o Vento volta aos palcos cariocas, iniciando dia 11 de março temporada no teatro Villa-lobos. Dessa vez, quem estreia é a filha de Wolf, Maria Maya, 13 anos, inaugurando sua carreira teatral no papel de sua xará, Maria. Três gerações estão juntas na montagem: a avó de Maria Maya, Lupe Gigliotti, co-assina direção e produção do espetáculo com a mãe da atriz iniciante, Cininha de Paula.
Maria clara, 73 anos, lamenta não poder acompanhar a nova montagem, por estar há dois meses de cama em tratamento contra uma leucemia crônica. “Mas vou ficar boa”, avisa por telefone, com vigor na voz. “Quando a menina monta na corcunda do vento, vai conhecer o mundo que a repressão não deixava. A escola os pais, guardas, perseguem o vento: são os castradores da minha vida e de todos nós”, descreve a autora. A Peça apresentou ao público outros nomes ilustres, como Miguel Falabella e Maria Padilha, atuaram na montagem dirigida por Marília Pêra, em 1979, no Teatro Clara Nunes.
Para Cininha, o espetáculo continua absolutamente atual, 32 anos depois de sua estreia: “Sempre existira uma menina á procura de liberdade, simbolizada pelo vento, disposta a conhecer o mundo com seus próprios olhos, e não através das tias repressoras.” Lupe Gigliotti destaca ainda a modernidade da montagem, “delicada, romântica e simples, e com o toque da trilha musical de Tim Rescala”.
A peça conta à história da menina Maria, que contempla o mundo a borda do vento e se impressiona com barbárie das regras que asfixiam sua liberdade. Essas regras são ditadas por suas três tias: a ufanista Adelaide, sua copia exata Adalgisa e a caçula e sonhadora Aurélia. “É uma montagem musical, alegre e bem humorada”, define Cininha. Tim Rescala sublinha os anos 50 na versão 95, abrindo o clima de época com o rock Porque hoje é domingo. “Procurei fazer uma trilha a mais variada possível, incluindo até chorinho, como na hora em que as tias cantam em trio, como se fosse num programa”.
Cotação: 2 estrelas.