Critica publicada no Diário Popular
Por Fausto Fuser – São Paulo – 1985
Farsa de Molière revela novo ator do Grupo Tapa
O Grupo Tapa, sob a direção de Eduardo Tolentino, apresenta-nos agora, no Teatro da Aliança Francesa, um texto pouquíssimo conhecido de Molière, O Senhor do Porqueiral. Escrita rapidamente, por encomenda real, esta farsa reúne cenas e momentos do repertório de Molière, autêntico patrimônio cultural do mundo civilizado. Que ganhou realce ainda maior nas mãos do Grupo Tapa.
De todas as montagens do Grupo Tapa, esta é a que, como um todo, mais nos satisfaz. Pelos figurinos (como sempre!), pelo desempenho do elenco, em geral, e de Guilherme Sant´Anna e Noemi Marinho, em particular. Noemi vem de surpreender o mundo teatral paulista com sua atuação em Risco e Paixão, no Teatro de Arena Eugênio Kusnet – trabalho soberbo; mas Guilherme Sant´Anna nos era desconhecido, até ontem. Trata-se, para nós, de uma revelação entusiasmante: um comediante estupendo, expressivo, comunicativo, inteligente. Guilherme Sant´Anna, sozinho, justifica a encenação dessa peça. Mas é de direito acrescentar a linha de direção que lhe foi dada, ao procurarmos as causas desse sucesso.
O Senhor de Porqueiral narra as desgraças de um velho caipira endinheirado que vai á capital para casar-se com uma graciosa filha de outro velho sovina endinheirado, contrariando o amor da moça por um jovem mancebo. Os aliados dos jovens apaixonados caem sobre o Senhor de Porqueiral como uma tempestade, uma tormenta que só se aplaca para se transformar na festa das bodas dos jovens depois de todas as torturas e vergonhas serem aplicadas com afinco sobre os velhos tontos, símbolos de males sociais.
Os médicos, os advogados, os agiotas, os falsos fidalgos são impiedosamente atacados, como sempre, em Molière. Nessa peça temos cenas antológicas de consulta médica e de julgamento em tribunal, momentos altos do espetáculo – que podemos recomendar a todos os públicos, sem restrições, com nossos aplausos.
Obs. Estreia em 15.06.1985