Matéria publicada no Diário da Tarde – Caderno 2
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or Magda Lenard – Belo Horizonte – 10.12.1998

Os 50 Anos de Teatro Infantil

Teatro infantil faz 50 anos e ganha ONG cujo objetivo é valorizá-lo. O Centro Brasileiro de Teatro para a Infância e Juventude – o CBTIJ – e a Funarte lançaram a campanha ” 50 Anos de Teatro para a Infância e Juventude”. O teatro surgiu no Brasil com os jesuítas, como instrumento de catequese dos índios. No século XVIII apareceram, tanto no Rio de Janeiro como no interior do País, as primeiras notícias da existência do Teatro de bonecos ou mamulengos, como são chamados no Nordeste. Divertimento igual para crianças e adultos.

Antonio Carlos Bernardes, presidente do CBTIJ, dá depoimento sobre a evolução da dramaturgia e das produções do teatro infantil. Antonio Carlos nasceu em São Paulo: “No bairro Belenzinho, numa casa onde nasceram três gerações: meu avô, meu pai e eu. E já há 16 anos estou no Rio. Morei 6 anos na Bélgica antes de vir pra cá. Na minha vida profissional, já fiz alguns espetáculos infantis. No momento, faço aqui no Rio produção de teatro e também na TV Educativa. Estou trabalhando também num projeto para gravar espetáculos infantis que estão em cartaz. E agora estou presidindo o Centro Brasileiro de Teatro para a Infância e Juventude. É uma ONG, entidade sem fins lucrativos, que é filiada à Assitej (Associação Internacional de Teatro Infantil), que é ligada à UNESCO e existem em 70 países. O grande objetivo é valorizar a arte do teatro infantil, dando condições aos atores, diretores, produtores, de mostrarem seus trabalhos e abrindo campos de trabalho, aumentando locais para apresentação, tentando fazer com que o teatro infantil seja tão valorizado quanto o teatro adulto E nossa preocupação agora é divulgar o CBTIJ, pois ainda é uma entidade que poucas pessoas conhecem. E este ano de 98 é uma data histórica para o teatro infantil porque faz 50 anos que estreou O Casaco Encantado, da Lúcia Benedetti”.

Lúcia Benedetti foi a primeira autora a fazer um espetáculo infantil nos moldes do teatro de hoje, conforme afirma Antonio Carlos Bernardes: “Com texto escrito especialmente pra crianças, com cenário, figurino. Fez tanto sucesso na época que cumpriu longa temporada. Em outubro de 48, estreou O Casaco Encantado. Estamos realizando uma campanha comemorando estes 50 anos. São 50 anos que temos de história e realizamos algumas etapas. Com o apoio da Telerj, conseguimos a emissão de nove cartões eletrônicos, totalizando quase 3 milhões de material onde a gente homenageia alguns dos espetáculos que fizeram história. Homenageamos O Casaco Encantado, Flicts, do Ziraldo, Pluft, o Fantasminha , de Maria Clara Machado, História de Lenços e Ventos, do Ilo Krugli, o Grupo Giramundo com Cobra Norato, A Ema da Gema do Ovo, de Sílvia Orthof, que morreu no ano passado, A Gaiola de Avaitsiú, do Grupo Hombú, da Sílvia Aderne. Um dos cartões eletrônicos é o nosso cartaz, que foi feito pelo Elifas Andreato, de São Paulo, e o nono cartão é a logomarca do CBTIJ. Ainda abrimos uma home page, que deve ser colocada em atividade a partir de novembro, onde vamos contar a história do teatro infantil no Brasil com os maiores grupos de teatro para a infância e juventude”.

Antonio Carlos Bernardes tem uma notícia que não é boa: “Acabamos de receber do fundo Nacional de Cultura um “não”, já que não tem mais dinheiro. Assim, talvez para o ano que vem, vamos lançar uma revista sobre o CBTIJ”.

Preconceito

Será que o teatro infantil evoluiu nesses 50 anos? Antonio Carlos responde: “Evoluiu muito. Principalmente no eixo Rio – São Paulo, a evolução foi estrondosa. Nós temos grandes produções, grandes autores do teatro infantil. É claro que no Brasil, como um todo, a coisa não anda no mesmo ritmo. E mesmo com essa evolução e grandes produções, temos enormes problemas. Por exemplo: todos os teatros da Prefeitura, com exceção do teatro Ziembinski deixaram de apresentar espetáculos infantis. É o único teatro que, além dos espetáculos, tem um programa, “Teatro Aberto para a Infância e a Juventude”, em que, uma vez por mês, há uma reunião de pessoas que conversam a respeito de teatro infantil. Infelizmente, todos os outros teatros acabaram. Não existe horário para o teatro infantil”.

E por que não há mais horário para o teatro infantil? Para Bernardes, “os diretores do teatro infantil, com grande experiência, são diretores do teatro adulto. Então, todos eles se preocupam mais com uma agenda do teatro adulto do que do teatro infantil. Sérgio Britto, Moacyr Goes, Gabriel Vilela e outros, são todos conceituados, mas do teatro adulto. Por uma razão ou outra, o teatro infantil ficava em segundo plano. Os teatros particulares são muito caros e não dá para bancar. No momento, então, falta dinheiro principalmente. Bancar uma temporada num teatro particular fica muito caro. E não são todos os teatros particulares que estão levando teatro infantil. Por outro lado, os prêmios de montagem que a Caixa Econômica dá, a Funarte ou a Funarj, para o teatro infantil são muito menos que os oferecidos para o teatro adulto. Por exemplo, se o teatro adulto ganha 60 mil, o teatro infantil ganha 20. Como se o técnico que faz o cenário, o figurino, a direção ganhasse menos. O Trabalho é o mesmo. E as produções do teatro infantil são muito mais luxuosas, mais ricas e mais criativas que as do teatro adulto. O pessoal do teatro infantil faz milagre , porque o recurso é menor, e às vezes, as produções são melhores”.

O presidente do CBTIJ declara que as produções “debilóides” já diminuíram muito: ” A proporção das pessoas que ainda fazem teatro “debilóide” é de 10% em relação a maior parte das produções no Rio e em São Paulo. Agora, no resto do país, é que eles fazem isso para desprestigiar. É que eles ainda não tem consciência do que se pode fazer em termos de teatro infantil. Toda vez que os espetáculos do Rio vão se apresentar no Festival de Blumenau ou de São José do Rio Preto, as pessoas ficam alucinadas porque elas não imaginam que a música possa ser usada daquela maneira ou que o teatro não precisa contar uma história boba ou, então, tratar a criança como se ela não entendesse o que se está falando. Acho que a tendência é melhorar.

Núcleos

Nesse emaranhado de conceituação do teatro infantil, o CBTIJ tem um papel importante: “O Centro Brasileiro de Teatro para a Infância e a Juventude é novo, mas está pouco a pouco criando. Precisamos fazer mais. Mas para fazer muita coisa precisa-se de dinheiro. Claro que não temos ajuda. Temos alguns associados e estamos tentando ampliar o número deles. Queremos que o CBTIJ não seja uma entidade somente do Rio de Janeiro. Desejamos abrir núcleos em outros Estados: Santa Catarina já está interessadas, o Espírito Santo também e acabamos de receber o convite de Minas Gerais para abrirmos um núcleo lá. E quanto mais núcleos tivermos, os outros Estados poderão trabalhar em prol do teatro infantil junto com o Rio de Janeiro”.

A campanha dos 50 anos continuará sendo desenvolvida neste ano e no ano que vem: “Já temos ideia de fazermos outra companhia institucional para criar condições de as pessoas irem ao teatro. Pretendemos tirar o registro agora de utilidade pública, vamos nos associar à Comissão de Defesa da Criança e do Adolescente, que é uma entidade ligada à prefeitura, desenvolver um projeto de levar teatro infantil às comunidades carentes, pois o teatro infantil tem de ser considerado um instrumento de educação. Há escolas que recebem vários grupos de teatro infantil e as professoras se aproveitam disso para desenvolver um trabalho com as crianças. Infelizmente, isso ocorre só nas escolas particulares. Nas escolas públicas, essas apresentações são muito difíceis. No ano passado, apresentamos um projeto à Secretaria de Cultura para a realização de teatro nas comunidades carentes, nas escolas da Prefeitura, mais ainda não obtivemos retorno. Bernardes diz que no Museu da República, todos os sábados e domingos, às 11 horas da manhã, há espetáculos gratuitos. E Mais: “O CBTIJ já participou de dois Festivais Internacionais na Dinamarca, e no ano que vem, vamos participar do Congresso Internacional da Assitej que vai ser na Noruega, quando 70 países estarão discutindo problemas de cada país com relação ao teatro infantil. Temos um plano para 99 de criar um festival aqui no Rio, mas ainda temos que fortalecer as pernas, ter uma estrutura grande para fazer bem feito. E uma nova campanha que seria “Vá ao teatro desde pequeno”.

Em dezembro, CBTIJ vai lançar novos cartões telefônicos homenageando outras grandes figuras representativas do teatro infantil no Brasil, como Pernambuco de Oliveira, Lizettte Negreiros e Lúcia Coelho.