Júri
Dib Carneiro
Etienne Jacintho
Katia Kalsavara
Marcelo Ventura
Mariana Della Borba
Grande Espetáculo da Crítica
Assembleia dos Bichos
Diretor
Ricardo Karman (A Ilha do Tesouro)
Espetáculo de Animação
Inzôonia (Claudio Saltini e Henrique Sitchin)
Cenografia com Bonecos
Sérgio Serrano (A Rainha Alérgica)
Ator
Alessandro Hernandez (Marujo, Caramujo e a Minhoca Tapioca)
Atriz
Jacqueline Obrigon (Assembleia dos Bichos)
Musical
Felizardo
(INFORMAÇÕES DO CATÁLOGO DE 2005)
Uma arte feito para menores
Uma bola vermelha na ponta do nariz, meia dúzia de cambalhotas, alguns pares de fantoches, uma canção rimando boneca com peteca. Pronto. Quantos anos os palcos de teatro infantil de São Paulo tiveram de atravessar até que ficasse definitivamente compreendido que fazer teatro para crianças é uma arte muito mais séria do que essa mera improvisação típica de festinha de aniversário. A Associação Paulista de Críticos de Artes, a APCA, acompanhou essa evolução de perto. Hoje, depois de 50 anos da entidade, a maior parte do que se apresenta no circuito teatral vespertino de São Paulo é uma programação digna, criativa, que não subestima a inteligência da garotada.
O Papel da crítica foi fundamental nesse processo. Quanto mais a imprensa pode cobrar qualidade das produções, maiores foram os avanços observados. Um excelente grupo que surgisse, apontado nos jornais como inventivo e ousado, servia imediatamente de exemplo às produções oportunistas, que passavam a entender de pronto: “Para ter espaço no jornal e ganhar o reconhecimento da APCA, na forma de prêmio, teremos de melhorar, de trabalhar com mais seriedade e talento.”
Críticos competentes e, sobretudo, persistentes, como, por exemplo, Clóvis Garcia, Tatiana Belinky e Mário Garcia Guillen, atuantes na APCA principalmente nos anos 70 e 80, ajudaram a apontar talentos então emergentes e que acabaram virando referências para o teatro infantil que se faz agora no século 21. Nomes como Ilo Krugli, do Ventoforte (Mistério das Nove Luas, Histórias de Lenços e Ventos) e Vladimir Capella (O Dia de Alan, Avoar, Como a Lua), premiados pela APCA desde o inicio de suas carreiras, desbravaram caminhos importantíssimos, apontando chaves de dramaturgia infantil até então desconhecidos no Brasil.
A APCA participou do teatro infantil em seus momentos de maior crise de divulgação, por exemplo. No fim dos anos 1980 e comecinho dos 1990, juntamente com a lista dos premiados a comissão de teatro infantil (formada pelos três nomes citados acima e por Sônia Lage) deixou registrada uma declaração que alertava o público para uma séria questão. Os membros da APCA, com coragem e militância, escreveram na ata dos melhores de 1990: “os críticos lamentam a falta de espaço para a crítica de teatro infantil”. Os jornais mudavam: críticas diminuíam consideravelmente de tamanho, virando pequenos comentários, ganhando o sinistro nome de resenhas ou, então, no caso do teatro infantil, perdiam a frequência de publicação.
Foi um período árduo, que deixou lacunas de prêmios na entidade. Entre 1991 e 1994, a APCA simplesmente deixou de eleger os melhores do teatro infantil por falta de quórum de críticos – decorrência direta da falta de espaço nos jornais. O risco de retrocesso nos palcos era grande. Afinal, como exigir melhora dos grupos se não havia o estímulo dos prêmios, se quase não havia divulgação nos jornais e, sobretudo, sem a avaliação crítica do que era apresentado nos palcos naqueles duros anos?
Mas a diretoria da APCA fez pressão, foi às redações recrutar profissionais que se interessasse em por teatro infantil, formou nova comissão julgadora, ainda que, de início, sem o brilho e o rigor dos jurados veteranos. Isso não só trouxe de volta a eleição dos melhores de cada ano, como serviu para que as críticas de teatro infantil voltassem aos poucos a ter um mínimo de periodicidade nos jornais e revistas, impulsionadas pelo ‘empurrão’ das festas de premiação da APCA. A partir daí, a APCA foi acompanhando todos os passos de melhoria dessa arte maior feita para menores. O teatro de bonecos foi deixando o amadorismo preguiçoso e ganhando cada vez mais adeptos – uma gente heroica que aprendeu tanto a dominar a técnica de animação como a ampliar seus horizontes de criatividade. Surgiram grupos como Truks, Imago, Cidade Muda, Ópera na Mala, Teatro das Coisas – todos premiados pela APCA ao longo dos anos.
O circo-teatro, que tanto se presta a entreter crianças de qualquer idade, foi tomando formas surpreendentes, com peripécias dos Parlapatões, Pia Fruas, La Mínima, Circodélico. Mais recentemente, a arte dos contadores de histórias ganhou os palcos também de forma arrebatadora com grupos como As meninas do Conto e Le Plât du Jour, entre outros. A arte da cenografia foi amadurecendo e compreendendo que nem sempre é preciso luxo de superprodução para arrebatar a plateia. J. C. Serroni tem sido, até agora, o cenógrafo mais premiado da história da APVA no setor de teatro infantil. Na vertente de teatro jovem ou para adolescentes, a dupla Débora Dubois e Toni Brandão, diretora e autor, também conquistou seu lugar de honra nos palcos e nas premiações da entidade. Instituições como SESC,Centro Cultural São Paulo e SEI, sempre generosos em oferecer seus espaços paraabrigar o teatro infantil, fazem parte do Olimpo da APCA.
Todos esses são apenas alguns exemplos de como a tradicional entidade de críticos de São Paulo sempre acompanhou, de muito perto, tudo o que se construiu, a duras penas, no teatro feito para crianças. A luta continua. Que venham mais 50 anos.
Dib Carneiro Neto