Programa do espetáculo que estreou no Teatro Municipal de Niterói e também fez temporada no Teatro Gláuce Rocha, em 1997

(INFORMAÇÔES DO PROGRAMA)

(Capa)

CRÔNICAS PANTAGRUÉLICAS DO INFAME RABELAIS

(Verso da Capa)

(Logos) Pedro Mello Turismo e Câmbio, Nippon, Unimed

(Página 01)

O espetáculo teatral Crônicas Pantagruélicas do Infame Rabelais é dedicado a Eduardo Imbassay Filho e Luiz Antonio Martinez Correa.

(Página 02)

Durante quatro anos, coordenei, com muito orgulho, o projeto de restauração de nosso histórico teatro de Niterói, mas restaurar um teatro não é apenas consolidar suas estruturas, reintegrar suas decorações ou inserir equipamentos de moderna tecnologia. Tudo isso foi feito, mas restaurar um teatro é restaurar também sua programação, seu uso, sua dignidade.

Essa casa de espetáculos, fundada por João Caetano e considerada o berço do teatro brasileiro, não pode ser apenas um teatro de aluguel, recebendo somente programações vindas de fora, prontas e embrulhadas para uso.

Restaurar um teatro é saber transformá-lo numa usina de criação, numa casa de sonhos possíveis. É isso que a Cia. Tribo de Araribóia, formada por vinte e dois atores de Niterói e comandada pela autora Anamaria Nunes, está fazendo. Criando nesse palco e estreando em nossa cidade, as Crônicas Pantagruélicas do Infame Rabelais, essa trupe lança as bases para a formação de um grupo de teatro de repertório, consolidando uma tradição dramática em nossa cidade, liderada no passado por Leopoldo Fróes.

Num enorme esforço de produção, que pude testemunhar diariamente, a Cia. Tribo de Araribóia mostra em nosso histórico palco o tamanho de seu sonho, com atores de Niterói, música e texto de autoria de gente nossa e cenários inspirados no universo de Bosch.

Enfim, um espetáculo de construção complexa, mostrando a possibilidade do sonho.

Teatro é o sonho possível, fora isso é a simples imaginação ou o pesadelo.

Cláudio Valério Teixeira

(Página 03)

Se Jean Cocteau, por respeito, impediu-se de escrever sobre a obra de Rabelais, a minha paixão por esse homem quem em época de fogueiras santas, arriscou a própria pele em defesa da livre manifestação artística,
liberou-me para fazê-lo personagem dessa peça, que não sei bem o que é, se farsa épico-dramática, se drama épico-farsesco ou outras frioleiras que tais.

É um grito, isso eu sei.

As crônicas de Rabelais são um grito que provoca escândalo e espanto nos hipócritas e leva aos céus os que acreditam que “o riso é a marca do homem”.

Um grito que ecoa no tempo verdades que, às vésperas do terceiro milênio, provocam as mesmas dúvidas, náuseas, pensamentos, iras, perplexidades, vertigens, reflexões, invejas, desdéns e angústias que provocavam na Idade Média.

As minhas crônicas são um grito rabelaisiano de paixão ao teatro, à vida, ao prazer e à alegria e um grito de morte a toda forma de tirania, censura, medo, culpa e vergonha.

Preparem-se, senhoras e senhores, porque Rabelais é um susto.
Também eu me assusto, não se enganem, mas Rabelais queria o palco, não fosse assim não teria me atiçado, morrendo rindo com o teatro na boca.

“Abaixem o pano, a farsa acabou!” – Por Santo Alicronso, o que fiz foi fazer a sua última vontade.

Anamaria Nunes

(Páginas 04 e 05)

François Rabelais

1494-1553

“Rabelais é as entranhas do mundo, os grandes órgãos de uma catedral cheia de esgares diabólicos e do sorriso dos anjos. Só o respeito impediu-me de escrever sobre sua obra. Imaginamos o que seria um Rabelais ilustrado por Bosch… Talvez exista, num céu qualquer, esse livro maravilhoso.”

Jean Cocteau

“Uma obra bela como a própria vida, da qual possui o mistério”

Flaubert

Rabelais é um filósofo ébrio que escreve apenas enquanto bêbado”.

Voltaire

“Rabelais é um Homero trocista”.

Theophille Gautier

“Na verdade o vício de Rabelais… também eu passei o tempo a colocar-me em situações desesperadas. Como ele, não me arrependo de nada. Como ele, não espero nada dos outros”.

Céline

Gargantua e Pantagruel são a esfinge e a quimera, um monstro de cem cabeças, cem línguas, um caos harmônico, uma farsa de infinito alcance, uma embriaguez maravilhosamente lúcida, uma loucura profundamente sábia. Rabelais contém o gênio do século e a cada instante o faz transbordar…”

Michelet

“O infame Rabelais”.

São Francisco de Salles

François Rabelais nasceu em 1494, em Chinon, na França, presumivelmente.

Por vontade de seu pai foi educado por monges no Convento de La Basmette, em Angers, onde conheceu os irmãos Du Bellay. Em 1511, foi ordenado padre no convento dos franciscanos, em Puy Saint Martin. Estudava os clássicos mas a sua dedicação às literaturas grega e latina despertou a ira dos seus superiores que o perseguiam e acabaram por confiscar todos os seus livros – a Igreja acusava-o de ocupar-se mais com o Humanismo do que com a Teologia. Indignado, transferiu-se para a Ordem dos Beneditinos. É dessa época a sua amizade com Erasmo de Roterdã, com quem mantinha correspondência.

Em 1524, admitido na Abadia de Maillezais, em Poitou, especializou-se em Medicina e Direito Romano sob a proteção do Bispo Geoffroi d’Estissac.

Enquanto o Concílio de Trento deliberava sobre a Virgindade de Nossa Senhora, venda de indulgências e outros tabus, Rabelais iniciava a sua obra profana, de um Humanismo exuberante, linguagem ousada e inventiva, que satirizava as práticas da Igreja Medieval, ridicularizava o pensamento acadêmico, a escolástica, as superstições populares e, sobretudo, desnudava todas as formas de hipocrisia, opressão e censura às artes e ao livre pensamento.

Individualista radical, glorificou o humano e o natural: “Todos os instintos humanos são saudáveis desde que não pretendam tiranizar outros homens”.

Acreditava na bondade inerente ao homem, em oposição direta a Santo Agostinho que via o homem como um ser originalmente depravado. Apesar de padre católico, manteve-se pagão, rejeitando os dogmas e moralidades cristãs.

Em 1530, sem a autorização dos seus superiores, Rabelais matriculou-se na Escola de Medicina, em Montpellier, e foi o primeiro homem a dissecar um cadáver, contrariando ordens do Vaticano.

A obra rabelaisiana é a síntese do pensamento humanista da Renascença.

O invulgar da sua escrita é tido por muitos como resultado de um trabalho apressado e inconsciente – Rabelais era capaz de escrever dezenas de páginas sem sentido algum aparente mas de uma coerência absurda em sua moralidade às avessas – o que nada mais é que o princípio número um do manifesto surrealista de Breton.

Formou-se em Medicina em 1537, publicando trabalhos científicos e assinando-os sob um ousado “Doutor em Medicina e Professor de Astrologia”. Sempre no lombo de uma mula, ficou conhecido como o “Médico dos Pobres”, atendendo-os sem nada cobrar.

Rabelais fez conferências, durante a Reforma, ao lado de Calvino e Teodoro de Bèze, provocando a ira do Vaticano.

As perseguições começaram.

Os doutores da Sorbonne e os Bispos da inquisição moveram-lhe três processos por heresia.

Sob a proteção do Cardeal du Bellay, Rabelais foi três vezes indultado pelo Papa. E, graças ao rei Francisco I, obteve permissão para editar os seus livros.

É difícil reconstruir os passos de Rabelais – perseguido, não conseguia fixar-se em lugar algum, apesar de ter os caminhos abertos pelos poderosos que apreciavam a sua inteligência e talento.

Da fogueira Rabelais sempre escapava, vivendo alegremente , demonstrando um certo desdém pelas mulheres, gostando de comer e beber copiosamente, deliciando-se no convívio de pessoas de espírito na corte francesa do rei Francisco I, seu mecenas e protetor.

Faleceu em Paris, em 9 de abril de 1553, aos 59 anos.

(Página 06)

Cia. Tribo de Araribóia

Roberto Lima: François Rabelais
Eduardo Gama: Arlequim
Kelzy Ecard: Chavasca, Mulher de Avignon, Ama de Leite
Lula Ferreira: Panurge, Bobo da Corte, Figura do Carnaval
Marcos França: Mestre Epistemão, Deus Padre da Procissão
Paulo Crocci: Gargantuá, Rei Anarca
Marco Polo: Bom Cônego, Taumasto, Chupapicá
Christine Braga: Criada, Velha Lanterneira
Ana Paula Lopes: Criada de Rabelais, Quaresma
Paulo Heusser: Beijacu, Estudante Sorbone, Prisioneiro
Lucília Dowsley: Mensageiro, Peidinho, Rapariga, Anã, Quaresma
Anselmo Fernandes: Pagem de Pantagruel, Carnaval
Flávio Trolly: Estudante Toulouse
Saulo Rodrigues: Guarda, Juiz, Figura do Carnaval
Ana Carolina Nunes: Criadinha, Mulher do Povo, Quaresma
Pedro Gawry: Panta Nenem, Guarda de Anarca, Carnaval
Beatriz Marques: Rapariga, Mulher do Povo, Flautista, Solo de Voz
Joana Lebreiro: Menina da Vela, Mulher do Povo, Carnaval
Marcia Pallet: Mulher do Povo, Figura da Quaresma
Isabelle Lopes: Esposa Anarca, Mulher do Povo Carnaval

Apresentando Zelly Mansur como Pantagruel
Ator Convidado: Flávio Antonio como o Cardeal Jean Du Bellay

(Página 07)

Anamaria Nunes: Texto, Concepção e Direção
Eleusa Mancini: Assistente de Direção
Ronald Teixeira: Cenografia
Rosa Magalhães: Figurinista
Djalma Amaral: Iluminação
Zelly Mansur: Músicas e Direção Musical
Roberto Lima: Coreógrafo
Vânia Fróes: Acompanhamento Teórico
Cida Fernandes / Júlio Gallo: Divulgação
Rodrigo Marçal / Marcelo Ribeiro: Fotografia
Anita Santoro / Luiz Alberto Lorena: Logomarca
Ana Cunha / Clarisse Sette: Produção
Marcos Ácher: Programação Visual
Denise Martins: Assistente de Coreografia
Carolina Rimolli / Aldecir Cardoso / George Bravo / Deronico Martins / Luciana Gomes / Clarice Penna Firme / Andréa Renck / Marcelo Neves: Assistentes Cenografia e Aderecistas de Cena
Carvalho: Cenotécnico
Lula Ferreira / Beatriz Marques: Assistentes de Direção Musical
Mauro Leite: Assistente Figurino
Sergio Farias: Aderecista
Joaquim: Alfaiate
D. Helena / Conceição / Josane: Costureiras

Agradecimentos

Ana Maria Cunha, Angela Nunes, Anselmo Manuel Faria de Almeida, Antonio Mecha, Beti Rabetti, Beto de Christo, Buza Ferraz, Cacá Mourthé, Cândida Dias Martins Fernandes, Carlos Manthra, Claudio Valério Teixeira, Comandante Tenente Coronel Paulo Roberto Ribeiro, Consulat General de France a Rio de Janeiro, Crazy World Design, Daniel Hertz, DCE-Fernando Santa Cruz, Dino Carrera, Diva Sette, Dora Silveira, Eduardo Rieshe,Eduardo Wotzik, Elisio Falkato, Escola Nacional de Circo, Expedito Barrera, Flavio Graft, Gegê, G.R.E.S. Unidos do Viradouro, Heleno Bernardi, Henriquetta e Paulo- Espaço Livre, Írio Galvão, Ismênia de Lima Martins, Jésus Siqueira, Leonardo Simões, Lúcia Gomes, Luiz Carlos de Carvalho, Luiz Henrique Monassa, Luiz Lobato, Madame Kaos, Maninha Cerrone, Manoel da Cunha, Marcelo Gomes, Marcelo Pereira, Marcus Menezes, Maria da Graça Martins Fernandes de Almeida, Marius, Mesbla Loja de Departamentos S/A- Niterói, Michel Provst, Instituto Brasil Europa, Ney Madeira, Prof. Delisier, Prof. Robby , Roberto Muniz, Sargento Araújo, Eduardo Nunes Vieira Ferreira, Seu Luís, Sônia Barreto, Stella, Suzanna Kruger e 3º GBM.
Agradecemos o apoio dos empresários de Niterói.

(Página 08)

(Anúncio) Werner

(Última Capa)

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