Programa do espetáculo para a temporada de 1995

Layout de Marcos Arthur, Ilustrações de José Márcio

 O espetáculo estreou na cidade de São Paulo, no Teatro Ruth Escobar, sala Dina Sfat , em 1994

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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(INFORMAÇÕES DO PROGRAMA) 

(Capa)

Núcleo Zambelê apresenta

CHIMBIRINS E CHIMBIRONS

Musical Infanto-Juvenil de Marcos Arthur

(Página 01) 

Eram dois homens, duas casas e dois quintais. Apesar de vizinhos de, opiniões antagônicas, não havia ainda um muro que os separasse. Quando se viam, fingiam não se ver. Quando não tinha jeito, encaravam-se com desprezo e ódio. Sabe-se lá por que.

Um dia nasceu uma flor, vejam que ironia, uma linda flor dividindo os dois territórios. E por ela criou-se uma disputa feroz durante dias e dias. Tanto discutiram que acabaram por destruir não só a flor como também a si próprios.

Essa trama de um curta-metragem polonês, exibido pela TV Cultura há alguns anos, me despertou para a criação de Chimbirins e Chimbirons.

Em essência, o espetáculo é um pouco deste curta-metragem que me deixou perplexo ao vê-lo. Perplexo por ele desnudar tanta mesquinhez, tanta estupidez humana.

Chimbirins e Chimbirons, na verdade, é um pouco ou muito de nós mesmos.

Quando os Chimbirins entram em cena e se apresentam ao público cantando e fazendo pilhérias, cria-se uma expectativa sobre os Chimbirons. Seriam eles os vilões da história, só porque há sempre um bandido para cada mocinho que aparece?

Para surpresa de todos, os Chimbirons surgem da mesma maneira, alegres e saltitantes como os Chimbirins, com trajes e trejeitos muito semelhantes, uns falando em “ins” e outros em “ons”, única distinção. Quando se encontram cara-a-cara, pela primeira vez, viram bichos. Diabólicos querubins! Não admitem em hipótese alguma dividir o mesmo espaço e nem tampouco se misturar.

Como é que se explica tamanho ódio, tamnha rivalidade entre dois povos tão parecidos?

O final de Chimbirins e Chimbirons poderia ser tão trágico quanto o dos dois personagens e a flor do curta-metragem polonês, mas, acreditem, uma grande e comovente surpresa nos aguarda antes do caos, antes que todos, num ato estúpido.

O “Happy end” não é gratuito, sobretudo, ele embute a mensagem de que o afeto verdadeiro pode unir pessoas, independentemente de crenças e origens.
Marcos Arthur – Março de 94

(Página 02 e 03) 

Num lugar tão distante,
num tempo perdido qualquer,
num bosque esquecido do homem,
num lago claro e brilhante,
avó e neta brincavam,
trocavam segredos de mulher.

Inquieta, a travessa menina,
buscando um brinquedo sonoro,
da bolsa tira uma flauta,
faz gracejos, trinados,
caretas e danças de bailarina.

A avó observa pensativa.
Num gesto meigo de carinho,
traz ao colo a menina
e lhe conta a história da sina
dos antigos da mata nativa.
Chama alto na floresta:
“Chimbirins! Chimbirons!”
Povos daquela mata,
nem tão ruins nem tão bons.

Todos donos que eram
do céu, da água e do ar,
no espelho do lago o reflexo,
cara a cara, inimigos, sem nexo,
uma guerra a germinar.

A natureza alto esbraveja,
solta raios perdidos ao léu
uma árvore certeira é o alvo
que divide a terra e o céu.

De um lado Chimbirins,
e do outro Chimbirons.
Jaz no meio o grande lago
e a terra sem, afago e pássaros sem, sons.

(Página 04 e 05)

O destino já sabia
que tal situação
mais conflitos geraria
se nenhum abrisse mão.
Surge imponente um monstro,
uma enorme aparição,
que rapina aquela moça,
filha líder Chimbirom.

Ocupados com a própria vida,
não notaram que a moça
só encontrou saída
quando o monstro, alucinado,
recebeu uma pedrada
que arrojou um Chimbirim.

Só a moça agradecida,
viu seu rosto em segredo.
Por ser ele um Chimbirims
se calou, com muito medo.

Corações enlevados,
já flechados por cupido,
jovens amantes
de um amor proibido,
não viam mais sentido
em viver assim, separados.

Encontram-se sorrateiros
na noite escura, calada.
Surge terno o Chimbirim,
com lábios de querubim
e uma doce flauta graceja
para a moça, apaixonada.

Fadado encontro,
surpresa cruel,
desprezo, ódio,
revolta, fel.

(Página 06 e 07)

Inimigos, declaram guerra.
Pelos amantes,
não pela terra. Não há acordo.
Não há perdão.
Querem puni-los:
separação!

Entre lágrimas os olhares flamejam,
pulsa rancor nos dedos crispados.
Chimbirins e Chimbirons, amantes:
atados,
presos,
isolados.
Cada qual com seu inimigo.
Um último grito:
“Queimados!”

Mas o fogo não acende.
Já não há a quem queimar.
Os amantes ascenderam,
como bolhas de sabão,
unindo-se para sempre,
em quimeras, a dançar.

A natureza passiva, assiste
a comovente união.
Chimbirins e Chimbirons, povos,
sem armas,
sem pavor.
E num esforço coletivo,
o levante da separação.

(Página 08) 

“Guarda esta flauta, menina.
Não temas o teu coração.
A história aqui nos ensina
a ter mais compreensão.
Quando ouvires a discórdia,
quando não captares os sons,
ainda que nada entendas,
lembra-te:
Chimbirins e Chimbirons!”

Adaptação livre de Chimbirins e Chimbirons feita especialmente para este programa por Denise da Costa. Ilustrações José Márcio

(Página 14, 15, 16 e 17 – Fotos e Ilustrações)

Elenco

Chimbirins

Aldo Avilez
Cleide Queiroz
Fernando Escrich
Lizette Negreiros
Márcia Rizzardi
Maurício Xavier
Tico D’godoy Valênia Santos

Chimbirons
Eduardo Carmello
Eleonora Prado
Daniele Pimenta
Fernando Petelinkar
Meg Serra
Rita Ivanoff
José Victor de Andrade
Ronaldo Vianna

(Página 18)

Ficha Técnica

Produção Executiva: Aldo Avilez
Assistência de Produção: Ronaldo Vianna
Assistência de Direção Musical e Técnica Vocal: Márcia Rizzardi
Assistência de Cenografia e Figurinos: Márcia Rizzardi
Assistência de Iluminação: Roseli Marttinely, Adriy Mère, Silvestre Jr.
Costureira: Cida de Paula
Pintura de Arte e Confecção das Árvores: Juvenal Irene e Jonas Irene
Supervisão dos Arranjos Instrumentais e Piano: Amilton Godoy
Violoncelo: Renato Lemos
Violino: André Luiz Glaser
Voz do Bicho: Edson Montenegro
Gravação da Trilha: Estúdio Vice Versa
Técnico de Som: José Luís Goes
Mixagem: José Luís Goes e Márcia Rizzardi
Músicas Peixe à Bachiana e Momentos de Amor: Marcos Arthur e Márcia RIzzardi
Operadores de Luz: Cláudio Brandão e Roseli Marttinely
Operador de Som: Paulo Ricardo Fernandes
Maquinistas: Túlio de Assis e Warley Rabello
Administração: Geraldo F. Costa
Produção Visual e Marketing: Denise da Costa
Cartaz e Programa (Layout): Marcos Arthur
Ilustrações: José Márcio
Revisão de Texto (Chimbirins e Chimbirons): Vladimir Capella
Divulgação: Gilberto Loutrenço e Marina Villara
Fotos Divulgação: João Caldas e Deborah Rosenfeld
Fotos Programa: Wagner Malagrine

(Páginas 22 e 23)

A Opinião da Crítica


Brincadeiras sem palavras dá o tom de “Chimbirins”

(…) A peça é uma deliciosa brincadeira, tanto para crianças como adultos. As 16 vozes do Núcleo Zambelê – que compões o elenco da peça – se alternam e se aglutinam, sem instrumentos, nessa espécie de desafio melódico. E nisso o conjunto do Zambelê é afinado e compenetrado. “Chimbirins e Chimbirons” é todo cantado num idioma ininteligível. Mas a ação, acompanhada pela engraçada sonoridade das palavras, se encarrega de esclarecer a briga das duas turmas. (…) “Chimbirins e Chimbirons”, por si mesma, é uma gratificante viagem encantada. 

Marcos Bragato – Folha da Tarde, 1º de abril de 94

Chimbirins e Chimbirons encanta Adultos e Crianças

(…) O que vale mais é deixar agir sobre a plateia mirim o saudável jogo cênico proposto por Capella e por Marcos Arthur (autor e diretor musical) e , sobretudo, a incrível força da linguagem não-verbal ou, pelo menos, não convencional.

Para compensar a falta corajosa de texto em português claro, a montagem tem uma beleza plástica de arrepiar – digna do premiado cenógrafo e figurinista J. C. Serroni. Junte-se a isso o vigor que os atores cantando sem acompanhamento de instrumentos e em quatro diferentes naipes vocais.

Adultos que torcem o nariz para as “pecinhas”, ditas assim, como sinônimo de teatro menor, são obrigados a engolir o preconceito na plateia de “Chimbirins e Chimbirons”. Essa espécie de gente grande, que frequenta os horários vespertinos com uma equivocada postura blasé, cai da poltrona, desmorona do alto daquela superioridade maléfica que é inimiga nº 1 da arte feita sem rótulos nem barreiras. Papais e titios dão o braço a torcer e ficam perplexos diante do palco, hipnotizados. Vira uma plateia única, emocionada, nem adulta, nem infantil, nem pecinha nem teatrão – simplesmente uma plateia homogeneizada pela estupefação diante de tão sensível obra de arte.

Dib Caneiro Neto – O Estado de São Paulo, 2 de abril de 94

Dois Povos em Pé de Guerra
Existem várias razões para levar a criançada à plateia da peça “Chimbirins e Chimbirons”, criada por Marcos Arthur (autor) e Vladimir Capella (diretor). Aval não falta à dupla. (…) Nesta montagem, com cenários e figurinos caprichados, o trabalho dos 16 atores/cantores está acima do nível das vesperais de Sábado e Domingo. Além disso, a inteligência do público não é desrespeitada, cuidado raro com essa gente que mede menos de 1 metro e meio e geralmente não escolhe seus próprios programas.

Caco de Paula – Veja SP, 6 de abril de 94

(Página 24)

Ação dos Atores Desafia Língua Portuguesa: Chimbirins e Chimbirons é um Musical sem Falas Inteligíveis que Desafiam a Imaginação do Espectador.

Dois agrupamentos humanos vivem felizes em uma região do planeta em um tempo remoto. Descobrem que podem competir. Passam a disputar o espaço e se transformam em inimigos. O conflito aumenta quando os dois jovens de grupos diferentes se apaixonam.

Imagine essa ação transmitida por personagens que não falam palavra alguma inteligível, em qualquer língua, durante 50 minutos.

O espectador é capaz de entender toda a comunicação dramatizada nas cenas de “Chimbirins e Chimbirons”. E isso é mérito dos 16 atores do grupo Zambelê (de “Sexo, Chocolate e Zambelê”), que atua no espetáculo. (…) Ocorre no palco, num trabalho de maestria em interpretação, uma espécie de embate entre o real e a possibilidade de representá-lo por meio da linguagem verbal.

Os atores usam o corpo para desafiar a língua portuguesa. (…) Além da capacidade de falar com o corpo, o grupo representa com precisão a gramática da língua no seu fraseado “noncense” de rimas e ritmos, cantado a capela – vozes sem instrumentos.

É poesia pura.
                                                                                                Mônica Rodrigues Costa – Folha de São Paulo, 17 de abril de 94