Cartaz/Programa (43,5 cm x 62 cm) Teatro Ipanema, 1982

Foto: Márcio RM

Barra

(INFORMAÇÕES DO CARTAZ/ PROGRAMA)

(Frente)

CAPITÃES DA AREIA

de Jorge amado

Teatro Ipanema

Apoio Cultural

Atlântica Boavista Seguros
Associada ao Bradesco

(Verso)

Salvador, 08 de fevereiro, 1982.

Carlos Wilson Coutinho da Silveira

Rio de Janeiro RJ

Prezado senhor

Venho de receber sua carta de 28 de janeiro acompanhada de sua adaptação para o teatro, de meu romance Capitães da Areia e dos contactos fotográficos de cenas da peça. Agradeço o envio.

Apesar de me encontrar num sufoco enorme, pois viajo dentro de poucos dias, arranjei tempo para dar uma espiada em sua adaptação e ela me pareceu muito boa. Agradeço-lhe o interesse por meu livro e sua recriação para o teatro. Capitães da Areia já teve várias adaptações para teatro no Brasil e no estrangeiro, a sua parece-me uma das melhores.

Estou enviando carta a SBAT autorizando a representação em teatro profissional de sua adaptação. Procure na SBAT, o superintendente, Djalma Bittencourt.

Sem outro assunto, desejo-lhe sucesso no empreendimento.

Abraços para Tereza Eduardo.

Muito cordialmente,

Jorge Amado

É de estranhar que a indiscutível teatralidade da obra de Jorge Amado não tenha gerado um número maior de adaptações para o palco extraídas de seus romances. Não me refiro apenas a força telúrica de sua temática, mas também,e, notadamente, a algumas personagens, como Gabriela, Thereza Batista, o negro Balduíno, Tieta, Dona Flor, Mindinho e tantas outras, que parecem prontas para saltar das páginas do livro e Ganhar o palco, marcadas por um compulsivo destino cênico. Entretanto, nenhuma delas motivou qualquer dramaturgo, o que é surpreendente. Temos notícia de uma encenação baseada em Terras do Sem Fim, adaptação de Graça Melo e, recentemente, uma teatralização da novela A Morte e a Morte de Quincas Berro d’Água, levada à cena em Salvador. É muito pouco, para um autor de obra tão extensa. E, diga-se de passagem, nenhuma das duas adaptações acima referidas conseguiu traduzir em linguagem dramática o sentido trágico, a beleza poética e a extraordinária síntese das grandezas e misérias de nosso povo contidas na obra amadiana. Agora, Carlos Wilson, com determinação e coragem, aliadas ao indispensável talento, lança-se à difícil tarefa de adaptar Capitães da Areia e leva-lo à cena. A experiência e a seriedade do adaptador nos fazem acreditar que talvez tenha chegado o momento da dramaturgia brasileira resgatar, pelo menos em parte, a grande dívida que tem para com o nosso maior romancista.

Dias Gomes

Elenco

Alexandre Dacosta: Padre José Pedro, Sr. Raul
Alexandre Frota: João Grande
Antonio Breves: João de Deus , Arcebispo
Bianca Byington: Dora
Clayton Assaf: Zé Fuinha
Sérgio H. Sales: Querido de Deus
Dedina Bernadelli: D. Ester, Cantora
Denise Mayer: Menina do Areal, D.Laura
Ernesto Piccolo: Narrador
Eduardo Bruno: Joel, Jornaleiro, Nhozinho França
Felipe Martins: Professor
Felipe Camargo: Gato
Iza do Eirado: Dalva, D. Aninha
José Muniz: Mariazinha, Diretor do Reformatório
Lucília Assis: Empregada, D. Margarida/ Menina
Marcelo Mattar: Emanuel, Almiro
Mauricio Mattar: Pirulito, Ezequiel
Marcos Jardim: Volta Seca
Maria Stella: Bruaca, Maria Bonita
Paulo Nigri: Sem Perna
Paulo Pontvianne: Boa Vida
Roberto Battaglin: Pedro Bala
Roberto Bomtempo: Barandão, Bêbado
Ronney Villela: Guarda, Stand-in
Victor Lott Ligneul: Guarda, Stand-in
Janser Barreto: Stand-in

Ficha Técnica

Autor: Jorge Amado
Adaptação: Carlos Wilson
Direção Corporal: Cláudio Baltar
Direção Musical: Carlos Cardoso
Cenário: Carlos Wilson
Figurinos: Carlos Wilson e Andréa Beltrão
Iluminação: Cláudio Neves
Produção Executiva: Regina Sampaio
Assistente de Produção: Cely Terra
Divulgação: Graça Motta, Giorgina de Moraes e Odacy
Músicos: Carlos Cardoso, Tereza, Alexandre Dacosta e Sérgio Treiger
Percussionista: Sergio Henrique Sales e Adail Clementino
Adereços: Claudinha
Assistente de Cenografia: Antonio Breves e Rosano Pace
Operador de Luz: Hugo Schwerin Secco
Execução de Figurinos: D. Dina
Assistente de Direção: Luciano Sabino
Direção geral: Carlos Wilson
Fotografia: Guga Melgar e Luiz Affonso

Agradecimentos

Casa do Estudante Universitário, Clube de Regatas do Flamengo, Shopping Center da Gávea, Bellini Presentes, Camisinha “O Mestre”, Roda de Capoeira do Garrincha Mestre, Centro de Capoeira e Senzala, Candomblé do Seu Nino, Tablado, Maria Clara Machado, Anidia Martins, Manuel Duque, Toninho Lopes, Paco, Giovanni Bernadelli, Wilson Silveira e Sra., Mimina Roveda, Paulo Mamede, Lucia Coelho, Ofélia Santiago, Solange Silva, Maria Luiza Prates, Carlos Alberto Prates Correa, Aos Compradores da Rifa

Press – Release

A propósito da estreia de nosso espetáculo Capitães da Areia, adaptado da obra homônima de Jorge Amado, julgamos conveniente relatar-lhe alguns dados referentes ao processo de formação do elenco-grupo e a algumas das intenções da montagem.

O elenco composto em sua totalidade por jovens, provém de experiências significativamente heterogêneas em teatro, e foi reunido para este trabalho por Carlos Wilson, professor e membro integrante, do grupo “O Tablado” e o diretor de diversos espetáculos, dentre os quais poderíamos destacar: Tribobó City de Maria Clara Machado, no Teatro da Galeria, em 1977, com várias indicações a prêmio, e Hoje é dia de Rock, apresentado no Tablado em 1980.

A montagem, preocupada em resguardar o alto valor da obra de Jorge Amado, procurou transportá-la para o teatro em sua totalidade, mantendo o seu clima regional através de um intensivo trabalho de corpo realizado junto ao elenco e da utilização de elementos regionais característicos, como a capoeira, o candomblé e o maculelê, sendo nisto auxiliada pelo diretor de corpo Cláudio Baltar.

Os diálogos de Jorge Amado foram mantidos em sua quase totalidade, acrescidos quando preciso de outros diálogos, necessários ao bom entendimento da obra, agora vista sob uma outra linguagem que não a literária.

Ao elenco de 23 pessoas, soma-se ainda 5 músicos, o diretor e cenógrafo, o diretor de corpo e a figurinista, totalizando assim uma cooperativa de 31 pessoas, numa época de empreendimentos geralmente pouco arrojados. Acreditamos que a escassa possibilidade de lucro, resultante de tamanho número de participantes, é inteiramente recompensada pelo prazer da montagem, pelos resultados que esperamos ter alcançado e pela experiência em termos de cooperativa e trabalho em grupo, adquirida durante o processo de ensaio da peça.

Ainda que um certo número de integrantes do elenco já tenha em seu currículo um considerável número de espetáculos apresentados, apesar de sua pouca idade, é interessante lembrar que a maioria do elenco esta se entregando pela primeira vez ao teatro sob um regime profissional. O alto número de horas de ensaios diárias, entre aulas de canto, capoeira, coreografia e ensaio da peça propriamente dita, obrigaram assim uma grande parte do elenco a uma total readaptação em termo de vida durante os seis meses de duração do ensaio, deixando os lugares e ambientes anteriormente freqüentados – do surf da praia à faculdade – e reencontrando dentro do próprio grupo um novo ambiente social, com toda uma filosofia em termos de trabalho e necessidade de realizações, passando a projetar aí todos os seus sonhos e ambições. Este processo por si só e por sua beleza constitui-se num dos elementos de maior validade da montagem, e esperamos que seus resultados estejam também refletidos no palco, com uma unidade de trabalho e empenho que esperamos ter alcançado.

Finalmente, consideramos ainda que a adaptação para o teatro de uma obra literária da importância de Capitães da Areia pode vir a representar algo de positivo dentro do qual panorama de teatro jovem, carioca e brasileiro, apresentando para o público jovem, que esperamos alcançar, inda outras facetas e possíveis mensagens em termos de realizações cênicas, num momento em que aquele teatro jovem volta-se inteiramente para a busca de novas linguagens e atrativos teatrais, realizando por vezes espetáculos de atrativos quase unicamente estéticos, ainda que válidos, ou mesmo desprovidos de qualquer atrativo. Dentro deste panorama, Capitães da Areia busca uma linguagem acessível, efetiva sob o ponto de vista estético e emocionante dentro de seu enredo, possuidor ainda de um fortíssimo conteúdo de origem social, tentando restituir assim ao espectador o prazer de ver, emocionar-se e até mesmo aprender com o teatro.

Sinceramente esperando que nossas ambições e expectativas tenham-se realizado da melhor maneira possível, subscrevemo-nos

Grupo de Teatro Capitães da Areia