O Mambembe, jornal / programa, 28.08.1978

Convite da cerimônia de entrega aos premiados do Rio de Janeiro (e de São Paulo) realizada em 28.08.1978, no Circo Tihany, Praça Onze, Rio de Janeiro

Os Melhores Espetáculos do Ano encontram-se na página “Prêmio SNT / INACEN / FUNDACEN”.

Os premiados receberam, além da estatueta de acrílico criada por Aloísio Magalhães, Cr$ 25.000,00. Os vencedores na categoria adulta receberam Cr$ 40.000,00

Júri

Ana Maria Machado
Clóvis Levi
Márcia de Almeida
Lúcia Benedetti
Orlando Miranda (SNT – Serviço Nacional de Teatro) – Presidente da Comissão

Coordenador 1ª e 2ª Reunião: Lício Neto
Coordenador 3ª Reunião: Roberto de Cleto

Autor Peça Nacional

Indicados na 1ª Reunião Quadrimestral realizada em 08.06.1977:

Maria Clara Machado (Os Cigarras e os Formigas e Pluft, o Fantasminha)
João das Neves (A Lenda do Vale da Lua)
Benjamin Santos (A Princesa do Mar Sem Fim)
Raquel Ribas ( A Estória das Cebolas)

Indicados na 2ª Reunião Quadrimestral realizada em 28.11.1977:

Grupo Hombu (pela criação coletiva de A Gaiola de Avatsiú)
Maria de Lourdes Martini (Terra Ronca)

Indicados na 3ª Reunião Quadrimestral realizada em  19.12.1977:

Ilo Krugli, Paulo César Brito e Sonia Piccinin (O Mistério das Nove Luas)
Luís Sorel (José de Maria)

Finalistas:

Maria Clara Machado (Os Cigarras e os Formigas e Pluft, o Fantasminha)
Grupo Hombu, pela criação coletiva (A Gaiola de Avatsiú)
João das Neves (A Lenda do Vale da Lua)
Ilo Krugli, Paulo César Brito e Sonia Piccinin (O Mistério das Nove Luas)
Benjamin Santos (A Princesa do Mar Sem Fim)

Vencedor: Benjamin Santos

Diretor

Indicados na 1ª Reunião Quadrimestral realizada em 08.06.1977:

Wolf Maya (Os Cigarras e os Formigas)
Benjamin Santos (A Princesa do Mar Sem Fim)
Gracindo Junior (O Sapateiro do Rei)
Maria Clara Machado (Pluft, o Fantasminha)
Pedro Paulo Rangel (Lúcia Elétrica de Oliveira)

Indicados na 2ª Reunião Quadrimestral realizada em 28.11.1977:

Carlos Wilson Silveira (Tribobó City)
Luiz Mendonça (Dom Quixote)
Marcos Caetano Ribas (33 ou o Jogo do Acaso e O Rato Saltador)
Maria de Lourdes Martini (Terra Ronca)

Indicados na 3ª Reunião Quadrimestral realizada em  19.12.1977:

(Sem Indicações)

Finalistas:

Benjamin Santos (A Princesa do Mar Sem Fim)
Marcos Caetano Ribas (33 ou o Jogo do Acaso)
Maria de Lourdes Martini (Terra Ronca)
Wolf Maya (Os Cigarras e os Formigas)
Ilo Krugli (O Mistério das Nove Luas)

Vencedor: Ilo Krugli

Ator

Indicados na 1ª Reunião Quadrimestral realizada em 08.06.1977:

Sebastião Lemos (Os Cigarras e os Formigas)
Lauro Del Corona (Os Cigarras e os Formigas)
Manfredo Colassanti (Lúcia Elétrica de Oliveira)

Indicados na 2ª Reunião Quadrimestral realizada em 28.11.1977:

Alby Ramos (Dom Quixote)
Grande Otelo (Os Saltimbancos)
Lauro Góes (O Mágico de Oz)
Pedro Paulo Rangel (Os Saltimbancos)

Indicados na 3ª Reunião Quadrimestral realizada em  19.12.1977:

Paulo Cesar de Brito (O Mistério das Nove Luas)

Finalistas:

Grande Otelo (Os Saltimbancos)
Lauro Del Corona (Os Cigarras e os Formigas)
Pedro Paulo Rangel (Os Saltimbancos)
Alby Ramos (Dom Quixote)

Vencedor: Alby Ramos

Atriz

Indicados na 1ª Reunião Quadrimestral realizada em 08.06.1977:

Ângela Vasconcelos (Lúcia Elétrica de Oliveira)
Vera Setta (Os Cigarras e os Formigas)
Daise Poli (O Sapateiro do Rei)
Daise de Lourenço (Cantando na Neve)
Raquel Ribas (A Estória das Cebolas)

Indicados na 2ª Reunião Quadrimestral realizada em 28.11.1977:

Daise Poli (A Princesinha Mimada e O Dragão Malvado)
Elba Ramalho (Dom Quixote)
Eliane Narduchi (Dom Quixote)
Isabel Secchim (Flicts)
Maria Cristina Gatti (Tribobó City)
Marieta Severo (Os Saltimbancos)
Raquel Ribas (33 ou o Jogo do Acaso e O Rato Saltador)
Silvia Aderne (A Gaiola de Avatsiú)

Indicados na 3ª Reunião Quadrimestral realizada em  19.12.1977:

Sônia Piccinin (O Mistério das Nove Luas)

Finalistas:

Ângela Vasconcelos (Lucia Elétrica de Oliveira)
Marieta Severo (Os Saltimbancos)
Vera Setta (Os Cigarras e os Formigas)
Daise Poli (O Sapateiro do Rei, A Princesinha Mimada e O Dragão Malvado)

Vencedor: Vera Setta

Cenógrafo

Indicados na 1ª Reunião Quadrimestral realizada em 08.06.1977:

Acácio Gonçalves (Os Cigarras e os Formigas)
Kalma Murtinho (A Princesa do Mar Sem Fim)
Silvia Orthof (Cantarim de Cantará)

Indicados na 2ª Reunião Quadrimestral realizada em 28.11.1977:

Eloi Machado (A Princesinha Mimada e O Dragão Malvado)
Luís Carlos Figueiredo (Máquina de Enigmas)
Maurício Sette (Os Saltimbancos)
Sérgio Moraes (Tribobó City)

Indicados na 3ª Reunião Quadrimestral realizada em  19.12.1977:

Ilo Krugli (O Mistério das Nove Luas)
Luís Sorel (José de Maria)

Finalistas:

Acácio Gonçalves (Os Cigarras e os Formigas)
Ilo Krugli (O Mistério das Nove Luas)
Kalma Murtinho (A Princesa do Mar Sem Fim)
Sérgio Moraes (Tribobó City)
Maurício Sette (Os Saltimbancos)

Vencedor: Maurício Sette

Figurinista

Indicados na 1ª Reunião Quadrimestral realizada em 08.06.1977:

Acácio Gonçalves (Os Cigarras e os Formigas)
Ricardo Steele (O Sapateiro do Rei)
Kalma Murtinho (A Princesa do Mar Sem Fim)
Silvia Orthof (Cantarim de Cantará)
Raquel Ribas (A Estória das Cebolas)
M. Carmen (Flicts)

Indicados na 2ª Reunião Quadrimestral realizada em 28.11.1977:

Carlos Wilson Silveira (baseado nos desenhos originais de Joel de Carvalho, Tribobó City)
Grupo Hombú (criação coletiva, A Gaiola de Avatsiú)
Laerte Thomé (Dom Quixote)
Luis Carlos Figueiredo (Máquinas de Enigmas)
Maurício Sette (Os Saltimbancos)
Ricardo Steele (A Princesinha Mimada e O Dragão Malvado)

Indicados na 3ª Reunião Quadrimestral realizada em  19.12.1977:

Ilo Krugli (O Mistério das Nove Luas)

Finalistas:

Acácio Gonçalves (Os Cigarras e os Formigas)
Grupo Hombú (A Gaiola de Avatsiú)
Kalma Murtinho (A Princesa do Mar Sem Fim)
Maurício Sette (Os Saltimbancos)
Ilo Krugli (O Mistério das Nove Luas)

Vencedor: Ilo Krugli

Produtor ou Empresário

Indicados na 1ª Reunião Quadrimestral realizada em 08.06.1977:

Silvia Orthof (Cantarim de Cantará)
Wolf Maia (Os Cigarras e os Formigas)
Os Contadores de Estórias (33 ou O Jogo do Acaso)
Benjamim Santos (A Princesa do Mar Sem Fim)
Gracindo Junior (O Sapateiro do Rei)

Indicados na 2ª Reunião Quadrimestral realizada em 28.11.1977:

Rodrigo Farias Lima (Dom Quixote)
Grupo Hombu (A Gaiola de Avatsiú)
Manuel Valença (Os Saltimbancos)
Grupo Quintal (Terra Ronca)
Zoom Comunicação (Tribobó City)

Indicados na 3ª Reunião Quadrimestral realizada em  19.12.1977:

(Sem Indicação)

Finalistas:

Grupo Ventoforte (O Mistério das Nove Luas)
Manuel Valença (Os Saltimbancos)
Os Contadores de Histórias (33 ou O Jogo do Acaso)
Rodrigo Farias Lima (Dom Quixote)
Grupo Hombu (A Gaiola de Avatsiú)

Vencedor: Grupo Hombu

Categoria Especial

Indicados na 1ª Reunião Quadrimestral realizada em 08.06.1977:

Jorge de Carvalho (pela iluminação de Pluft, o Fantasminha, A Máquina de Enigmas e O Mistério das Nove Luas)
Raquel de Ribas (pelo visual de Estória de Cebolas)
Marie Louise Nery (pelos adereços de A Princesa do Mar sem Fim)
Luiz Paulo (pela música de Os Cigarras e os Formigas)

Indicados na 2ª Reunião Quadrimestral realizada em 28.11.1977:

Beatriz Bedran (pela música de Terra Ronca)
Chico Buarque de Holanda (pela adaptação de Os Saltimbancos)
Jorge de Carvalho (pela iluminação de A Máquina de Enigmas)
Ubirajara Cabral (pela música de Tribobó City)

Indicados na 3ª Reunião Quadrimestral realizada em  19.12.1977:

Jorge de Carvalho (pela iluminação de O Mistério das Nove Luas)

Finalistas:

Luiz Paulo (pela música de Os Cigarras e os Formigas)
Marie Louise Nery (pelos adereços de A Princesa do Mar sem Fim)
Ubirajara Cabral (pela música de Tribobó City)
Chico Buarque de Holanda (pela adaptação de Os Saltimbancos)
Jorge de Carvalho (pela iluminação de Pluft, o Fantasminha, A Máquina de Enigmas e O Mistério das Nove Luas)

Vencedor:
Chico Buarque de Holanda

Obs.

No caso da categoria de teatro para crianças, o regulamento do Premio MEC – Troféu Mambembe não oferece premiação para Revelação e Grupo, Movimento ou Personalidade que tenha trazido no ano uma contribuição significativa para o teatro brasileiro.

(INFORMAÇÕES DO JORNAL / PROGRAMA)

(Capa)

O maior prêmio cultural do País

O MAMBEMBE

Ano 1 – nº 1 – Rio de Janeiro, 28 de agosto de 1978

Assuntos

Os grandes de 77
Enfim, os prêmios
Aqui os eleitos
Tihany e Garcia: 50 anos de circo

Troféu distingue de uma só vez todas as categorias profissionais do Teatro

Hoje, pela primeira vez, a entrega do Prêmio MEC – Troféu Mambembe 1977. No ambiente alegre e descontraído de um circo – o Tihany – os 36 grandes do ano receberão o artístico troféu, criação de Aloísio Magalhães. Além de dinheiro vivo. No conjunto, a maior importância gasta, até hoje, em premiação cultural no Brasil. Medida adulta do MEC, para fazer do nosso teatro um grande teatro.

Mambembe – o amor à arte

Quando se diz a palavra Mambembe, quando se evoca a figura do mambembeiro, situa-se sempre o fenômeno como estritamente brasileiro ou ligado a um certo tipo de espetáculo, quase sempre de má qualidade. Esquecem os que assim pensam que através dos tempos a forma mambembe foi sempre a saída encontrada pelo teatro para entrar em contato com as mais diversas formas de plateia, caminhando para o interior de seus países. Ou, então, para sobreviver, quando os palcos tradicionais eram negados, quer por perseguição política, quer religiosa. Não se tem registro se os atores da Idade Média eram talentos especiais ou não. Mas a história do Teatro registrou, e com gratidão, o fato de terem ,no anonimato das feiras populares, mantido viva a chama do Teatro.

Último Carro, de João Neves, premiado em Rio e são Paulo. Peça de grande impacto dramático

No Brasil, o mambembe teve características muito especiais. Bem brasileiras. As companhias, ao se lançarem para o interior do país, nas condições mais precárias, eram movidas pela necessidade de iniciar e manter uma profissão. Os palcos do Rio e de são Paulo, ocupados por companhias estrangeiras, impulsionavam as nacionais para outras praças. Dessa forma, outras plateias eram criadas, iniciando, assim, a matéria-prima básica para a regulamentação de uma profissão. Mambembeiros e bandeirantes foram esses comediantes que, sem as facilidades de hoje, percorreram a imensidão desse País. Bandeirantes na medida em que, além de criarem novas plateias, despertavam novas vocações que ao se desenvolverem, deram origem a um teatro profundamente fincado nas raízes nacionais mais verdadeiras das diversas regiões que compõem o nosso País.

Se depois o nome mambembe desgastou-se e assumiu, mesmo, um caráter pejorativo, pouco importa. Nossa obrigação, aqui é fazer com que a palavra mambembe readquira o seu sentido verdadeiro, e assim homenagear e fazer justiça a todos aqueles que, de forma decisiva, contribuíram para que o teatro se transformasse, de mera forma de entretenimento, numa das áreas mais importantes e mais atuantes da cultura brasileira.

Serviço Social da Comércio (SESC) estimulando o teatro no Estado do Rio, abre quatro novas casas: Tijuca (acima), Engenho de Dentro, Friburgo e São João do Meriti. Prêmio MEC – Troféu Mambembe 77 na categoria de “Grupo, Movimento ou Personalidade”

(Verso da Capa)

Aqui, os Vencedores do Primeiro Troféu Mambembe

O Serviço Nacional do Teatro premia hoje, às 21v horas em espetáculo no Circo Tihany, no Rio, os 36 ve3ncedores do Premio MEC – Troféu Mambembe 1977. A premiação, no valor global de Cr$ 840 mil, é a maior importância já paga no Brasil a título de estímulo cultural.

Efeitos dentro os melhores das categorias adulto r infantil, no Rio e em São Paulo, os vencedores receberão uma estatueta Troféu Mambembe, de autoria de Aloísio Magalhães, e um prêmio em dinheiro no valor de Cr$ 30 mil para a categoria adulto ou Cr$ 15 mil para a infantil.

O Circo

Os vencedores do Premio MEC de Teatro – Troféu Mambembe 1977 foram escolhidos a 3 de abril em são Paulo e a 5 de abril, no Rio, pelas comissões julgadoras formadas pelo SNT.

Em São Paulo, para o setor de teatro para adultos: críticos Sábato Magaldi, Clóvis Garcia, Ilka Marinho Zanotto, Hilton Viana, Alberto Guzik, Carlos Ernesto Godoy, Jairo Arco e Flexa, Paulo Lara e Jefferson Del Rios; para o teatro infantil, Tatiana Belinky, Ingrid Dormen Koudela, Rofran Fernandes, Carlos Ernesto de Godoy e Clóvis Garcia.

No Rio, as comissões foram integradas pelos críticos Clóvis Levy, Flávio Marinho, Tânia Pacheco e Wilson Cunha para o setor adulto e Ana Maria Machado, Clóvis Levy, Márcia de Almeida e a escritora Lúcia Benedetti para o julgamento de peças infantis.

Segundo o diretor Orlando Miranda, “o ambiente de circo é o ideal para homenagear-se os grupos teatrais que mantiveram viva a tradição nacional, excursionando por todo o Brasil em condições precárias, apresentando-se em locais improvisados mas que, apesar disto, deram o melhor de sua arte.

Relação dos Vencedores do Rio de Janeiro e de São Paulo

(Página 01)

Texto da Portaria, assinada pelo Ministro Ney Braga e da Regulamentação do Premio, assinada por Orlando Miranda, Diretor do SNT)

(Páginas 02 e 03)

Nas três votações o ponto de partida

De acordo com os regulamentos do Prêmio MEC – Troféu Mambembe, os vencedores são escolhidos dentre os nomes apontados em três votações relativas aos três quadrimestres do ano. Aqui estão, nome por nome, os votados no Rio e em São Paulo, nas várias fases de 1977. Os ganhadores aparecem, com especial na página 02.

Relação dos Indicados em todas as Categorias do Rio de Janeiro e de São Paulo

(Páginas 04, 05 e 06)

Um a um, os eleitos da crítica

Pequena biografia dos ganhadores do Teatro Adulto

(Final da Página 06 e 07)

Um a um, os eleitos da crítica

Pequena biografia dos ganhadores do Teatro para Crianças

(Página 08)

Paschoal e Barreto mambembeiros com muita honra

Hoje, em meio à euforia da festa do Circo Tihany, quando o Serviço Nacional de Teatro estiver fazendo entrega dos prêmios MEC – Troféu Mambembe 1977, a classe teatral brasileira estará homenageando também dois expoentes da classe: Paschoal Carlos Magno e Barreto Júnior. Eles recebem o abraço, o carinho, o calor de todos quantos fazem teatro nesta terra. Pois, tanto Paschoal quanto Barreto, serviram-se do recurso do mambembe para difundir a arte pelo Brasil.

Barca da Cultura

Em depoimento prestado ao SNT em 20 de novembro de 1975, no Rio, disse Paschoal Carlos Magno:

“No Teatro do Estudante, montamos Leonor de Mendonça, Romanescos e Hamlet. Num momento verifiquei que um teatro só é de fato autêntico quando encena os autores novos de seu país. Nasceu o Duse. Eu tinha que ajudar, amparar e estimular os dramaturgos jovens. No meu teatro de cem lugares iniciei essa obra gigantesca que foi dar um pouco de ar, uma oportunidade ao autor brasileiro. E por cinco anos lançamos 26 autores novos, num teatro sem bilheteria”.

Mais adiante, relatando sua vocação de mambembeiro, completou Paschoal:

“Criei também a Barca da Cultura que visitou 55 cidades, desceu o Rio São Francisco, atravessou o agreste de Pernambuco, da Paraíba, do Ceará, do Maranhão, do Piauí, do Pará. Distribuiu mais de 30 mil livros, cartazes e apresentou centenas de espetáculos. Nós dormimos em lugares horrorosos, eu me cansei de dormir no chão. Mas o povo recebia aquelas 155 pessoas com lenços abanando, sacudindo flores, papel picado. Ficávamos um dia em cada cidade. A orquestra chegava tocando Rhapsody in Blue. Os sinos das igrejas repicando. Os grupos desciam para falar com as crianças. À noite, no palco armado no tombadilho da barca, havia o espetáculo, depois da distribuição dos livros, dos cartazes, de revistas e de prospectos”.

Aventuras e desventuras do mambembe na palavra de Paschoal Carlos Magno.

Mambembeiro, Sim Senhor!

Barreto Júnior foi outro que fez do mambembe meio de vida, que também semeou cultura pelo país.

Em depoimento tomado pelo SNT, no Recife, em 3 de julho de 1977, Barreto explicou, em seu estilo agradável e descontraído, sua aventura de mambembeiro:

“Cinquenta por cento de meus espetáculos eram criados por mim, na hora. Me chamam de mambembe. De fato, aprendi teatro nesses mambembes pelo interior, na beira da estrada, em carroçaria de caminhão, nas feiras. Não conheço artista no Brasil que tenha feito isto. Fazia espetáculos de feira numa cidadezinha, arrumava um palcozinho com a Prefeitura, coisinha chulé, e fazia o espetáculo para quem estava fazendo feira. Depois corria uma cuiazinha, cada um botava um niquelzinho, coisa interessante, popular mesmo. Artista popular, que eu nunca tive escola”.

Explicando que os seus cinquenta anos de teatro foram todos feitos por ele mesmo, pois “eu nunca assistia teatro, só as companhias que passavam por aqui”, acrescenta Barreto Júnior que “fui-me fazendo autodidata”.

Meu Empresário

Barreto confessa-se um mau empresário:

“Minha companhia era de forma associativa. No final do mês eu fazia uma análise da renda, da despesa e distribuía todo o resto. Eu nunca fui um empresário na verdadeira acepção do termo”.

Diz mais que nunca teve problemas com os outros artistas, “sempre foi ótimo nosso relacionamento”.

Um dos segredos das boas equipes que formou é que “sempre arregimentei quem tinha amor ao teatro, ao invés de visar o lado financeiro. Quando acontecia de não termos dinheiro pra pagar o hotel, todos se conformavam”.

As finanças do teatro mambembe eram sempre críticas. Trabalhar, uma aventura. Barreto explica melhor:

“Se era preciso fugir, fugia meia noite e tal, pra não pagar”. O problema era que havia muito preconceito: “Quando se tratava de hotéis que já tinham sido visitados por outras companhias, ninguém queria receber; porque se não houvesse renda, era cano na certa”.

“Viajei muitas vezes com três ou quatro companheiros em cima de carga de caminhão. Não fiquei só no Norte e Nordeste. Viajei muito pelo interior de Minas montado em burros de tropas. O pessoal dizia: chegou o drama ou chegou a comédia. Parecíamos ciganos e muita gente pensava que éramos mesmo. Saíamos de uma cidade, íamos pra outra pela picada”.

(Verso da Última Capa)

Hoje tem espetáculo

Um circo permanentemente montado, dotado de todos os recursos técnicos, funcionando em conjunto com uma escola de artes circenses (maqueta na foto), eis o que o Serviço Nacional de Teatro está montando na Praça da Bandeira, no Rio de Janeiro. O circo o ano todo, com uma constante rotação de novos valores. Para entretenimento do povo. Além de aprimoramento e da valorização do profissional.

Agildo Ribeiro, Elke Maravilha, Zezé Mota e Ary Fontoura, convidados pelo Serviço Nacional de Teatro, aceitaram ser os apresentadores da noite de entrega do prêmio MEC – Troféu Mambembe, marcado para hoje, 28 de agosto de 1977, às 21 horas, no circo Tihany.

O SNT convidou também personalidades artísticas nacionais para padrinhos dos 36 premiados com o Troféu Mambembe 77, em todas as categorias profissionais.

Todo Mundo

O mundo artístico nacional está presente ao Circo Tihany nesta noite festiva, para prestigiar a entrega, pela primeira vez, do Troféu Mambembe, único prêmio a distinguir, no Brasil todas as categorias profissionais envolvidas no espetáculo teatral.

Os padrinhos dos vencedores da Categoria Teatro Infantil são: Grande Otelo, Pernambuco de Oliveira, Maria Clara Machado, Silvia Orthoff, Fábio Sabag, André Valli, Zilka Sallaberry, Dirce Migliacio, Ruth de Souza, Moacir Deriquém, Angela Vasconcelos, Eduardo Tornaghi, Caíque Botkay, Arlindo Tadeu e Josefine Hélène.

Os padrinhos dos premiados da Categoria Teatro Adulto são:Francisco Moreno, presidente da Casa dos Artistas, Gracindo Júnior, Sérgio Britto, Walter Pinto, Carlos Machado, Maria Fernanda, Márcia de Windsor, Renata Sorrah, Regina Casé (Prêmio Molière 1977), Eva Tudor, Maria Della Costa, Elizaabeth Savalla, Marcelo Pichi, Tereza Rachel, Ítalo Rossi, Mme. Henriette Morineau, Louzadinha, Domingos de Oliveira, Orlando Miranda, Hidelgard Angel e Otávio Augusto.

O Show

Roberto de Cleto preparou um espetáculo de duas horas e vinte minutos, envolvendo show e entrega dos troféus.

É a seguinte a sequência do espetáculo: palavras do Ministro da Educação e Cultura, Euro Brandão e do diretor do Serviço Nacional do Teatro, Orlando Miranda, lidas por Agildo Ribeiro. Abertura do espetáculo, com balé do Circo Tihany, seguindo-se um número de malabaristas. Depois, a classe prestará uma homenagem a Tihany, por completar 50 anos de vida no circo.

Serão entregues os troféus da categoria infantil, seguindo-se um número de mágica, pelo próprio Tihany, que se consagrou mundialmente nessa especialidade.A sétima etapa será um show de ‘mágico-comico’ vindo depois homenagem a todos os mabembeiros do Brasil representados por Barreto Júnior, vindo de Recife para esse fim, ele  que encarna o verdadeiro espírito da mambembe.

Na etapa imediata entram os animais, com inúmeros de elefantes e focas, antecedendo a homenagem a Garcia, outro grande nome do circo, que também está completando 50 anos de vida circense.

Os apresentadores Agildo Ribeiros, Elke Maravilha, Zezé Mota e Ary Fontoura chamarão, a seguir, os vencedores e os padrinhos das categorias Grupo Especial, Produtor, Revelação e Figurinista.

Haverá um show de cama elástica e a apresentação de macacos amestrados, seguindo-se a entrega às cinco últimas categorias de adulto: Cenógrafo, Ator, Atriz e Autor

O Teatro dos Sete reviveu, em grande estilo, a peça de Arthur Azevedo. O Mambembe, em 1959/1960 ficou longo tempo em cartaz, no Rio.

O encerramento do espetáculo será com as águas dançantes, durante cinco minutos, após homenagem especial a Paschoal Carlos Magno.

(Última Capa)

Mambembe – O que é. Vários significados de um nome controverso

Afinal, o que é mambembe?

De acordo com o Novo Aurélio, o vocábulo tem vários significados. Como adjetivo, dos dois gêneros pode ser: medíocre, ordinário, inferior, zambembe.

Como substantivo masculino pode ser: lugar afastado, ermo, ator ou grupo teatral amador, de má qualidade. Finalmente, no sentido em que foi adotado para dar nome ao Troféu do Prêmio MEC de Teatro, grupo teatral volante.

É ainda Aurélio Buarque de Holanda que cita um trecho de Mário da Silva Brito em “Diário Intemporal”.

“Os romances, contos e novelas e peças de teatro de Alexandre Dumas andam até hoje pelos palcos, quer os dos modestos mambembes, que se exibem em humildes e improvisados pavilhões, quer os das casas de espetáculos mais sofisticados.”

Arthur Azevedo e seu Mambembe

Nascido em 1855, no Maranhão, e radicado no Rio desde 1873, Arthur Azevedo já era autor de grande sucesso quando estreou O Mambembe, burla de 3 atos com José Pixa como coautor.

A estreia foi a 7 de dezembro de 1904, no Teatro Apolo. Uma semana antes, o autor escrevia no folhetim “O Teatro”, de “A Notícia”, artigo em que já descrevia o que era mambembe, justificando, assim, a sua peça:

“O mambembe é um traço dos nossos costumes que nunca foi explorado nem no teatro, nem no romance, nem na pintura e no entanto me parecia dos mais característicos e dos mais pitorescos.”

“Para os leitores pouco versados em coisas do teatro, direi que mambembe é o nome que dão a essas companhias dramáticas nômades, que organizadas sabe Deus como, e levando um repertório eclético, percorrem cidades, vilas, povoados e arraias dos nossos Estados, dando espetáculos onde haja ou onde possam improvisar um teatro; o mambembe é velho como o teatro: começou com Thepis”

Arthur Azevedo teve a sua obra revivida em grande montagem dirigida por Gianni Ratto, que serviu de lançamento do Teatro dos Sete, com estreia em novembro de 1959, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro e, depois levada em longa temporada no Teatro Copacabana. Como atores trabalharam Fernanda Montenegro, Sérgio Brito, Ítalo Rossi e grande elenco.

Depoimentos

Em depoimentos gravados pelo SNT, vários atores têm-se referido ao mambembe.

Aqui alguns destaques de Iracema de Alencar (gravação em 06 de novembro de 1974) e de Luiza Nazareth (em 14 de janeiro de 1975).

Iracema: “Eu era chamada de pombo-correio, porque viajava muito. E gostava. Estivemos até num lugar chamado Codó. É sim, aqui no Brasil… acho que no Maranhão. O teatro não tinha cadeiras eo público trazia a sua de casa. Era aquele povo todo de cadeira debaixo do braço. Foi lá que dormi em rede pela primeira vez; não havia camas na hospedaria.”

Luiza Nazareth: “No inicio do século, vinham companhias italianas, portuguesas, com revistas e dramas, e os artistas brasileiros ficavam sem teatro. Eram obrigados a mambembar. Os mambembes, existiam porque os artistas precisavam sobreviver. Não eram empresas, não tinham contratos. Era uma associação de atores com fome. O que desse, no fim de semana a gente dividia. Era assim que os artistas vivam. Depois, conforme fosse, voltavam para o Rio, trabalhavam em companhias, mas continuavam sempre mambembando. Meu pai mambembou muito. Eu comecei a mambembar com meu pai aos nove anos de idade.”