Misturando manipulação de bonecos à atuação do elenco de craques, a montagem apresenta um resultado revelador que conquista o público de imediato. Foto Ana Branco


Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 27.12.1997

 

 

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Espetáculo de surpresas e qualidade
Chega ao Teatro Dina Sfat, neste final de temporada, mais uma produção Centro Cultural Gama Filho, que este ano apresentou espetáculos de ótima qualidade, como Papagueno, O Menino Detrás das Nuvens e Ta na Hora Ta na Hora. A nova produção, Tem Rei lá Fora, é uma peça da diretora Lúcia Coelho, que este ano, com certeza, vive sua fase mais criativa. Inspirado na ópera Amahl e os Visitantes da Noite, de Giancarlo Menotti, um italiano radicado nos EUA que tem seu nome em destaque na ópera contemporânea, ao lado de Gershwin, o texto pega o lado mais alegre do libreto original. No palco, a historia é mantida em sua essência e acrescida de uma musicalidade bem brasileira. O resultado é revelador.

Tem Rei lá Fora, criado para a época do Natal, ultrapassa os limites do teatro de evento. Em cena, conta-se a história do menino muito pobre que conversa com as estrelas. Esse dom, porém é confundido por sua mãe como mais um efeito da fome por que passa a família do pastor de ovelhas. Num dia como outro qualquer, chegam a sua casa os três Reis Magos, a caminho de Belém. A mãe de Amhl, preocupada com a doença do filho rouba uma moeda de ouro dos visitantes. A partir daí, a trama se revela em caminhos inesperados, guiados pelos bons sentimentos.

Lucia Coelho, mais uma vez, cria um espetáculo de surpresas, no qual não economiza seu talento em mediar a performance do elenco com o efeito cênico irrepreensível que caracteriza seus espetáculos. Com um elenco de craques – Clarice Niskier, Andréa Dantas, Jorge Maya, Joyce Niskier, Fernando Sant’Ana, Cláudia Mele e Rogério Freitas -, a peça mistura manipulação de bonecos, criados por Fernando Sant’Ana, à atuação dos atores, que cantam e dançam, enchendo o palco. Uma estratégia eficiente em se tratando do gênero musical o qual, na maior parte das vezes, só apresenta bons cantores e bailarinos.

Completando a cena, o grupo de meninos músicos Cantando a Vida, que sabiamente não se intitulam “meninos carentes” com a explicação de que “carente todo mundo é!”. Regendo a orquestra, devidamente caracterizado de capitão de esquadra, o maestro José Maria Braga, também responsável pela trilha original.

Num espetáculo feliz nos mínimos detalhes, os cenários de Cica Modesto fecham a caixa do teatro com túneis de aço recortados que se movimentam formando vários ambientes. Ao final desce do urdimento uma bonita estrela guia do mesmo material. Os figurinos de Ricardo Venâncio, supercoloridos, seguem a linha do recorte sobreposto, num modelo básico para todo o elenco, onde a estamparia se repete em novos trajes para criação de outros personagens. Um toque interessante para aproximar a plateia do personagem. Tem Rei lá Fora é uma peça musical de ótima qualidade que conquistou seu público pelo enorme cuidado com que foi montada. E esse respeito pelo público se revela em cada cena do espetáculo.

Cotação: 3 estrelas (Ótimo)