Jornal do Brasil – Caderno B 
Por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 31.03.2005

MOSTRA SESC CBTIJ apresenta 30 espetáculos infantis com preços populares em diferentes pontos do Rio.

Com um total de 376 apresentações, começa neste domingo, com preços populares, a V Mostra SESC CBTIJ de Teatro para Crianças, que vai até março de 2006, em 12 unidades do SESC. A programação vai se estender à Baixada Fluminense, Região Serrana e ao Norte do Estado do Rio. Ao todo serão 30 espetáculos, selecionados para a mostra por sua qualidade artística e apresentados aos sábados e domingos, às 16h e 17 h. O SESC Tijuca terá uma programação especial, levando ao público carioca, nos meses de janeiro e fevereiro do ano que vem, sete espetáculos produzidos em palcos paulistanos.

A mostra – uma bem sucedida parceria do SESC com o CBTIJ (Centro Brasileiro de Teatro para a Infância e Juventude) – já se tornou uma referência para pais e professores. Atualmente, é o mais importante movimento de difusão e formação de plateia voltado para o teatro infantil: na primeira edição, em 2001, alcançou 17 mil espectadores, chegando a 50 mil em 2004. O SESC Rio tem por objetivo principal a formação de plateia em todas as manifestações artísticas. A Mostra de Teatro Infantil é uma atividade prioritária da área cultural da instituição – diz Loana Maia, gerente de Cultura, que implementou o projeto juntamente com o CBTIJ. Parceria que, segundo ela, garantiu a qualidade e a continuidade da iniciativa.

As peças selecionadas abrangem uma grande diversidade de estilos e gêneros. Espetáculos de contadores de história como Histórias da Mãe África, com Priscilla Camargo, considerada uma das dez melhores montagens do ano de 2004 pelo Jornal do Brasil, está se apresentando ao lado de grupos iniciantes, como o Teatro Xirê, que comparece com Ciranda, destinado a crianças menores.

– Participar da mostra e poder trocar experiência com os outros grupos é de extrema importância para nós. Além disso, esta série de espetáculos patrocinados pelo SESC possibilita, economicamente, o prosseguimento de nossa pesquisa de movimento e dança – diz a diretora do grupo, Andréa Elias.

A linguagem circense também integra a programação com o espetáculo Três marujos perdidos no mar, dos Irmãos Brothers. Os palhaços Lasanha e Ravióli, presentes em todas as edições da mostra, este ano reapresentam a peça História de Topetudo.

Já é possível ver o resultado desta mostra anual continuada, pois as crianças que assistiram à primeira edição retornam ao teatro, trazendo os irmãos menores e voltando para conhecer a nova programação – diz Ana Barroso que, em parceria com Mônica Biel, desenvolve este trabalho há mais de dez anos. A mostra não deixa de fora os contos da literatura universal – representados pelo espetáculo Um soldadinho de chumbo, de Hans Christian Andersen – nem a brasilidade das lendas indígenas e dos contos populares, presente em Cores, cantos e contos do Brasil, de Fydélis Fraga.

– A intenção do CBTIJ é tornar este movimento nacional. Já temos um grupo iniciado em São Paulo e outro em formação no Rio Grande do Sul. Além disso, este ano conseguimos publicar um edital e organizamos uma comissão julgadora de especialistas, tornando mais abrangente, justa e democrática a indicação dos espetáculos que irão participar da edição de 2005 – diz Ludoval Campos, presidente do CBTIJ.

Ele lembra que o centro já abriga cerca de 300 profissionais da área e que, além da mostra, promove encontros mensais, grandes debates anuais e uma série de atividades, abertas ao público para discutir a criação e a produção teatral.
Outra iniciativa importante é o CBTIJ em Ação, um trabalho de cunho especificamente social desenvolvido dentro deste projeto. Cada grupo participante realiza um espetáculo para entidades que cuidam de crianças socialmente menos favorecidas, realizando apresentações em orfanatos e creches, como uma contrapartida social.

O circuito da mostra inclui as unidades do SESC de Nova Iguaçu, Ramos, Engenho de Dentro, Madureira, Três Rios, São João de Meriti, Barra Mansa, Niterói, São Gonçalo, Nova Friburgo, Teresópolis e Campos.

Um toque na Sensibilidade

Como membro do júri da Mostra SESC CBTIJ, mais uma vez pude constatar que um bom espetáculo parte sempre de um bom texto e que um bom trabalho de ator não é fazer com que as crianças gritem, apontem, batam palmas – o que os torna simples repetidores de atos mecânicos, anulando, assim, sua capacidade de ver, sentir e experimentar.

Mas pude mais uma vez constatar, com alegria, que também há os que sabem que o teatro pode contribuir para o desenvolvimento da criança, ajudando-a a lidar com seus medos, perdas, ciúme, inveja, onipotência, morte. Com o bom teatro a criança aprende a ver o outro, a ouvir o outro, a se relacionar com ele.

Tocando em sua sensibilidade, em seu sentimento e em sua mente, o teatro que respeita a criança, acrescenta, a faz crescer e tornar-se um ser mais inteiro. E um ser humano inteiro, criador, afetivo e vivo, é sempre algo fascinante. – Maria Helena Kühner, Dramaturga e pesquisadora.