Crítica publicada em O Globo
Por Clóvis Levi, Rio de Janeiro, 13.08.1982

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A Essência da Criança, Numa Fada Irrequieta

Colorir a chuva, transformar bule de café em passarinho, modelar nuvens pra fazer um zoológico inteiro, brincar de escorrega no arco-íris…  As travessuras de Clara Luz, personagem do livro A Fada Que Tinha Ideias, de Fernanda Lopes de almeida, serão vividas no palco do Teatro do Sesc da Tijuca (Rua Barão de Mesquita, 539) a partir de amanhã com a estreia, às 17 horas, do espetáculo homônimo. A montagem reúne nomes conhecidos e premiados nas duas áreas: literatura e teatro infantis.

“Quando alguém inventa alguma coisa, o mundo anda(…). Quem inventa uma mágica nova está ajudando o mundo”, diz, em momentos diferentes, a irrequieta fadinha, recusando-se a aprender as lições do “Livro das Fadas”: “Está coberto de bolor”, avisa.

E a rabugenta Rainha acabará cedendo às evidências: Clara Luz será uma conselheira muito melhor que as antigas, a quem pagava mensalmente milhares de estrelinhas, sem nunca ter ouvido uma sugestão interessante.

– Em Clara Luz eu não quis retratar uma criança, mas mostrar o que para mim é a essência da criança e, portanto, do ser humano, quando ainda livre de toda a distorção – comenta Fernanda Lopes de Almeida, autora, entre outros livros, de A Curiosidade Premiada, também transposto para o teatro e atualmente em cartaz com o título de Curiosa Idade.

A própria Fernanda fez a adaptação do texto de A Fada, com a assessoria de Elvira Rocha, produtora, e Eduardo Tolentino, diretor, ambos com o Troféu Mambembe no currículo: Elvira, em 80, pelo conjunto dos trabalhos A Loja das Maravilhas Naturais, Flicts e Passa, Passa Tempo; e Eduardo, em 81, pela montagem de O Anel e a Rosa, de Thackeray, considerado o melhor espetáculo infanto-juvenil do ano. Com A Fada, ele faz sua primeira experiência fora do grupo que dirige, o Tapa.

Beatriz Bedran, do Bloco da Palhoça, que já mostrou seu trabalho em dois shows, um com o nome do grupo e outro intitulado Canto de Trabalho, é a diretora musical da peça e autora das músicas, compostas em 1978 para o quadro Era Uma Vez… da TVE e agora complementadas, para uma gravação que será o play back do espetáculo, incluindo violão de seis cordas, violão caipira, violão bolacha, flauta doce, violino, rabeca e percussão. Da fita, além do próprio Bloco, participou Vânia Dantas Leite, responsável pelos efeitos especiais. Os arranjos são de Beatriz Bedran e Victor Larica, também do grupo.

Com cenários e figurinos de Sérgio Silveira e Lídia Kosovisk, dupla que em 1980 ganhou o Mambembe de melhor figurino com A Loja das Maravilhas Naturais e Flicts, A Fada Que Tinha Ideias tem iluminação de Eduardo Aldenucci e direção de produção de Graça Gomes.

No elenco, Alice Viveiros de Castro, Clara Luz; Aline Molinaro, Fada Mãe; Nádia Carvalho, Professora de Horizontologia e Estrela Vermelhinha; Fátima Valença e Bia Montez, vizinhas; nBeth Berardo, Dona Relâmpaga; Ernani Moraes, Sr. Relâmpago; Eduardo Wotzik, Relampinho; Suzana Kruger, Gota d’Água; Luciana Makowiech, Cláudia Guimarães e Ilse Rodrigues, Fadinhas, além de Elvira Rocha, que faz a Rainha e uma vizinha…  A Fada Que Tinha Ideias terá apresentações aos sábados e domingos, sempre às 17 horas, aos preços de Cr$ 400,00 ou Cr$ 200,00(para comerciários).