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Eddy Rezende Nunes. Foto: Paulo Rodrigues

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Os 50 Anos de O Tablado e Maria Clara Machado

Parte I

Neste local, onde fica O Tablado, sempre funcionou o Patronato Operário da Gávea, que deve ter mais de setenta anos. Na verdade era um terreno da Cúria Metropolitana, que foi cedido ao Patronato, para eles realizarem um trabalho de assistência social. O Patronato dava aulas de costura, carpintaria, encadernação, música e muitas outras coisas. Quem organizava tudo isso, era uma senhora muito inteligente, chamada Helena Bahiana, que era da diretoria. A Maria Clara Machado já trabalhava aqui, fazendo recreação infantil.

Esses cursos e a assistência social eram para as pessoas que moravam em torno da Lagoa Rodrigo de Freitas, que nesta época, tinha grandes favelas. Na verdade, um pouco diferente do que chamamos de favela hoje em dia. Do outro desta rua, tinha uma, que ia até a sede da Hípica. Anos depois, esta favela foi transferida para o Horto. A Pacheco Leão era uma rua de vilas operárias. Tinha uma enorme fábrica de tecido, onde estes e os que moravam na favela trabalhavam. E era para eles, que o Patronato funcionava.

Eu conheci Maria Clara em 1943, num grande Jubileu de Bandeirantes, que teve num acampamento internacional, dentro do Parque da Cidade, quando este foi inaugurado. Do grupo de Bandeirantes que Maria Clara fazia parte, também estava Kalma Murtinho. Depois desse Jubileu, nós continuamos a nos ver nesses encontros de Bandeirantes e num deles, ela nos convidou, eu e minha prima, Marília Macedo para participarmos do Teatro de Bonecos que ela fazia todos os domingos, depois da missa no Patronato.

Começamos a receber convites para apresentações de nossos espetáculos, em casa de amigos e estávamos cada vez mais animadas. Nós sempre participávamos das “domingueiras” do Aníbal.

O Aníbal Machado, escritor, pai da Maria Clara, era uma pessoa fascinante e adorava conversar. Todos os domingos à noite, ele reunia em sua casa um grupo de amigos e intelectuais e não admitia que a Maria Clara não estivesse presente nestes encontros. Participava destes encontros um grupo de rapazes da PUC, coordenados pelo professor de grego, Frei Sebastião Hasselman, que também fazia teatro. Nós discutamos, conversávamos e com este grupo de rapazes da PUC, saiu a ideia de fazer um espetáculo.

O Frei resolveu então fazer um teste com os rapazes da escola para escolher os que estariam na peça. O falecido ator Sérgio Cardoso, foi reprovado e o Frei ainda disse que ele não poderia nunca exercer essa profissão. Do elenco, Maria Clara era a única mulher. A apresentação foi no antigo Teatro de Bolso, que ficava na Praça General Osório e que pertencia ao Silveira Sampaio. O espetáculo era A Farsa do Advogado Patelin. No elenco estavam o João Sérgio, o Cláudio Fornagli, Geraldo Queiroz entre outros.

Foi nesta época, em 1950, que Maria Clara ganhou uma bolsa de estudos para estudar na França. Quando ela voltou, encontrou com o Martim Gonçalves (o nome verdadeiro dele era Eros Martins Gonçalves, mas como ele não gostava e mudou) e decidiram formar um núcleo. Foi ele, inclusive que deu o nome O Tablado.

Enfim, foi destas reuniões do Aníbal e o encontro com Martin, que se concretizou O Tablado. A ata de constituição foi feita também na casa da Maria Clara. O João Sérgio ficou como presidente. Ele tinha acabado de se formar advogado e colocou logo o Tablado dentro da lei, fazendo o estatuto, os registros e atas de acordo com as necessidades. Durante muito tempo servimos de referência para os grupos que estavam sendo criados e queriam estar legalizados. Eu entrei de tesoureira e continuo até hoje.

Como eu era mais organizada, ajudava a fazer as contas, organizava os papeis e as fotos. A Maria Clara nunca se preocupava com essa organização e se fosse por ela talvez nós nem teríamos todo esse acervo. Alias muitos artistas são assim, não se preocupam com suas coisas, não guardam suas fotos. Acho que eles têm outras coisas que pensar.

Nós tínhamos uma parede com pé direito muito alto e colocávamos todos os cartazes nela. A Maria Clara adorava subir numa escada e colocar as datas de estreias nos cartazes, de modo que quando queríamos ter alguma informação deste tipo era só era olhar na parede.

Em nossa estreia, em 1951, tivemos dois espetáculos curtos. O primeiro era um Nô, chamava-se O Moço Bom e Obediente, dirigido pelo Martim, onde Maria Clara trabalhava como atriz. A outra peça, também curta, era dirigida pela Maria Clara, O Pastelão e a Torta.

Nós não tínhamos dinheiro nenhum, mas recebíamos a simpatia da D. Helena, que era a presidente do Patronato e de outra diretora, a Sra. Delamare que deixava que utilizássemos tudo do patronato.

A sala onde está hoje o teatro, foi construída para ser um salão de festas para os operários. Era um pátio interno, que foi aproveitado, e foi construído de uma maneira, que hoje em dia não se faria, pois lá ficavam os bueiros de esgoto, tubulações de água. Tivemos que fazer várias reformas por causa das enchentes e chuvas, mas isso aconteceu muitos anos depois.

Naquela época não nos interessava saber se teríamos público ou não, o que queríamos era fazer. Vendo com essa distância de tempo, é muito divertido. O que tinha de discussão e briga, as vezes por nada, era incrível. Antes da estreia teve uma briga entre a Clara e o Martim, por um pedaço de lamê. Foi uma coisa! Mas o que todos queriam, era fazer o melhor. O grupo vinha pra cá, para construir e pintar o cenário, costurar as roupas, enfim tudo. A gente ficava furiosa, quando algo não ficava bom. Eu lembro que a gente brigou com Napoleão por causa de um cenário que não estava bem pregado e ele dizia. Mas eu sou engenheiro, não sou carpinteiro. Na verdade nós éramos muito metidas a fazer tudo. A gente nunca pensava em comprar algo pronto. A gente queria era fazer.

Nem cadeira nós tínhamos. As pessoas ficavam sentadas no chão ou nas poltronas do Patronato. Muito depois, quando começamos a fazer os espetáculos infantis e o público foi aumentando, é que resolvemos pedir as cadeiras emprestadas da Igreja Santa Margarida Maria.

A Maria Clara sempre escreveu os textos para o teatro de bonecos, e depois que o Tablado começou a funcionar ela começou adaptar alguns destes textos para atores. O primeiro foi O Boi e o Burro a Caminho de Belém, em 1953. A Kalma Murtinho é quem sugeriu de montar essa peça e foi ela que fez os figurinos.

A montagem era muito engraçada. O palco só tinha coxia de um lado e todo mundo ficava exprimido num dos cantos. Inclusive neste canto ficava o sistema de resistência de luz a base sal. Portanto todos os atores só podiam entrar e sair de cena por um lado. Muito tempo depois, fizemos um buraco na parede do outro lado. Só que era no alto e tínhamos que subir por escada muito vagabunda. Essa saída dava para uma porta de ferro que dava na rua e, portanto os atores tinham que dar a volta por fora do Tablado para poder entrar do outro lado. Quando chovia então, era uma beleza, fazer esse malabarismo todo. Às vezes, os atores escorregavam, se sujavam. Mas ninguém reclamava. Era divertido!

Quase todos que frequentavam as reuniões do Aníbal compareciam nos espetáculos. Muitos amigos vinham nos ver. Nós tínhamos uma amiga muito próxima, a Estela, casada com o João Cabral de Mello Neto, que sempre levava os quatro filhos e até o João foi algumas vezes. Mas aos domingos na casa do Aníbal ele sempre dizia:

“- Não aguento mais essa “pecinha” de Natal, Maria Clara! Vamos acabar com isso! Eu vou fazer um Auto de Natal e vou dar de presente pra vocês. Tem que ser uma coisa brasileira! Só falta você botar neve em cena!”.

Depois de um tempo, o João Cabral nos deu de presente um Auto de Natal. A Maria Clara leu, e achou os versos muito lindos, mas muito triste, achou que não daria para montar para crianças e resolveu guardar o texto. Em 1968, o João Cabral, estava sendo perseguido e o pessoal do Teatro Tuca de São Paulo, através do próprio João, soube desse texto e o pediram para Maria Clara, que o enviou. Nesta época o Chico Buarque também já estava no grupo e fez as músicas. O nome do texto?: Morte, Vida Severina!

Em 1953 não tínhamos condições de entender e montar um texto daqueles, com aquela concepção e dimensão que mostrava. Também nosso objetivo era um texto para crianças e acabamos remontando o Boi e o Burro, e continuamos fazendo até hoje. Fizemos também muitas apresentações em praças públicas, em fábricas. Dom Helder, era nosso fã e sempre nos colocava em algum evento da Diocese ou da Prefeitura. Sem dúvida é a peça mais remontada no Tablado.

Quando o Emílio Mattos, que fazia o Boi, comunicou que ia casar com a Zélia, Don Helder quis realizar a cerimônia. E o sermão, advinha? Foi todo em cima da peça. Num determinado momento, ele pede para a Kalma, que estava ao piano, para tocar Noite Feliz, que fazia parte do espetáculo, mas não tinha nada a ver com o casamento. Foi realmente muito engraçado. Dom Helder era fã, de todos os espetáculos do Tablado. Ele sempre vinha assisti-los.

Em 1954, o João Bithencourt voltou dos Estados Unidos, onde tinha feito um curso de roteirista. Maria Clara que já era amiga dele, o convidou para dirigir Nossa Cidade, clássico americano. Durante os ensaios, chegou a Vânia Borges, pois o grupo precisava de pessoas para cantar no Coro. Como ela tinha estudado no Colégio Bennet, conhecia todas as músicas protestantes cantadas no espetáculo. Chegou, acabou ensinando a todos e continua no Tablado até hoje, como eu.

O grupo ensaiou meses e como o João não estreava a peça, Maria Clara resolveu montar com os mesmos atores O Rapto das Cebolinhas. Quem fazia o Maneco era o Roberto de Cleto. Este foi o primeiro texto escrito por Maria Clara, especialmente para atores.

Trabalhávamos cada vez mais e em 1955, colocamos cinco espetáculos em cartaz. Entre eles Pluft, O Fantasminha, que foi sem dúvida, nosso maior sucesso. Só no primeiro ano foram 90 apresentações. Sabe o que significa isso em 1955? O sucesso foi tanto que nos chamaram para levar o espetáculo São Paulo e lá, Maria Clara recebeu o premio pelo melhor texto do ano.

Depois desse, sempre que ela entrava nos concursos, recebia prêmios. No final virou hors-concours, pois diziam que ela já tinha ganhado muitos.

O texto fez tanto sucesso que acabou sendo traduzido por Michel Simon para o francês. Depois Juju Drummond de Andrade traduziu para o espanhol e a peça foi levada em Buenos  Aires, onde ela morava. Foram muitas as traduções e apresentações mundo afora.

Maria Clara ficou internacionalmente conhecida. Quando ela esteve em Atenas, participando de um Congresso de Teatro Infantil, discutindo direitos autorais, um dos componentes da mesa disse que o Brasil não pagava direitos autorais e um russo que também participava, disse que eles também não pagavam e informou que o maior sucesso de teatro para crianças de lá, era O Rapto das Cebolinhas que tinha sido apresentado da Geórgia a Moscou.

Em 1956, Maria Clara fez a adaptação de O Chapeuzinho Vermelho. A Anna Letycia, que nesta época era taquígrafa da Câmara dos Deputados, ajudava o Napoleão a fazer cenários de nossas peças. Como ela gostava muito de pintar, fez o cartaz do espetáculo. Naquela época, nós também fazíamos os cartazes, um a um, em silk-screen.

Foi nesse ano que tivemos um pequeno incêndio no palco. Nós havíamos terminado um ensaio do Chapeuzinho Vermelho, quando alguém jogou uma ponta de cigarro no chão e a cortina pegou fogo. Chamamos os Bombeiros, eles vieram e encharcaram tudo, o palco, o piano. Foi um Deus nos acuda.

Tivemos que reformar o teatro e para conseguirmos dinheiro, nós bolamos as chamadas Cadeiras Cativas. Quer dizer, nós compramos as cadeiras e as revendemos. Quem as comprasse, tinha direito a assistir a todas as estreias do Tablado. Chegamos a ter 280 cadeiras. Às vezes fazíamos até duas sessões por estreia. Ainda hoje temos cadeiras cativas e quem comprou naquela época continua recebendo nossos convites. Claro que o número é bem menor. Para você ter uma ideia, a mãe da Bárbara Heliodora tinha comprado 3 (três) e até hoje a Bárbara tem uma. Estamos pensando em fazer uma nova versão para renovar as poltronas e deixá-las mais confortáveis.

No mesmo ano ainda montamos O Embarque de Noé. Cenário da Belá Paes Leme, e máscaras do Dirceu Nery casado com a Marie Louise que acabavam de chegar de Paris, e se integravam ao grupo.

Tivemos algumas críticas elogiando o Germano Filho que fazia o Sr. Noé, o cenário da Belá, mas teve um crítico em particular que nos arrasou. O Paulo Francis nos destruiu. Foi nossa primeira decepção. Naquela época não havia crítico de teatro infantil e sim críticos de teatro e foi assim que ele veio ver o espetáculo. O Silveira Sampaio também nos criticou dizendo que fazer peça com bicho era um atraso.
Em compensação a segunda versão foi um sucesso, em vez de música incidental, como na primeira, esta versão era realmente um musical. O elenco cantava e dançava. Não tinha naquela época, um espetáculo que colocava em cena a quantidade de atores como nós. E olha que ainda não tínhamos a escola. Eram amigos, conhecidos que participavam do espetáculo. E saiam de um espetáculo e entravam no outro e assim por diante. A cada peça que fazíamos no Tablado, sempre tinham vários atores que vinham das anteriores. É só ver a relação de elencos e notar como os nomes se repetem. O Germano, o João das Neves, o Leizor, o Joel de Carvalho, Paulinho Nolasco, Elizabeth Galotti e tantos outros. Eram amigos que traziam amigos. Era uma grande família, tanto que a Vânia casou com o Jorge Leão Teixeira, eu com o João Sérgio Nunes, a Juarezita com o Luiz Carlos Nem, a Zélia com o Emílio Mattos, a Celina Whately com o Ivan Junqueira. Sem contar os namoros, encontros e desencontros casuais.

A montagem seguinte, em 1958, foi A Bruxinha que Era Boa, que tinha um elenco muito interessante. Trabalharam a Maria Pompeu, Ana Maria Magnus, Juarezita Alves e Bárbara Heliodora. A Bárbara era amiga de nosso bilheteiro, Fernando Cavalcanti, e sempre trazia as filhas para ver os espetáculos. Foi se aproximando e começou a trabalhar nas peças. O primeiro espetáculo que ela participou foi o Baile dos Ladrões. Depois fez uma árvore, uma bruxa, uma girafa.

Cartaz da Exposição dos 35 anos de O Tablado, 1986

Quem diria? – naquele tempo, nós éramos todas “mignons”. Quanta gente não participou do Tablado? – A Maria Tereza Vargas, foi nossa secretária e também participou dos Cadernos de Teatro.

Em 1960, estreamos O Cavalinho Azul foi outro marco na história do Tablado. Também nesse elenco tivemos amigos que vieram a ser grandes personalidades. O Yan Michalski, que já trabalhava conosco desde o Baile dos Ladrões (aliás, ele e Bárbara, que muito depois, se tornaram críticos de teatro, estrearam juntos no Tablado), O Ivan Junqueira, que hoje é da Academia Brasileira de Letras, o Anthero de Oliveira, que fazia um palhaço maravilhoso, uma personagem tão terna, a Virginia Valli, que além de atriz, era uma escritora excepcional. Ela escreveu um livro para crianças Pinto Calçudo Descobre o Brasil, fazendo brincadeiras com a história do Brasil. Acho que foi um dos primeiros livros de literatura infantil. Ela era técnica de teatro infantil, de bonecos, de mamulengo. Ela trabalhava muito com crianças excepcionais, do Instituto Pestalozzi. Além disso, tinha uma voz excelente e trabalhou anos no Tablado, inclusive dirigindo os Cadernos de Teatro.

Parte II

O espetáculo a seguir foi Maroquinhas Fru-Fru que foi um texto adaptado do teatro de bonecos que Maria Clara já havia encenado. Foi publicado nos Cadernos de Bonecos, mas ela resgatou apenas alguns dos personagens da história original. A gente gostava e fazia muito isso. Existe um pequeno livro da edição Melhoramentos que se chama Como Fazer Teatro de Bonecos, nele tem um texto chamado O Roubo do Colar de onde a Maria Clara adaptou. Como já disse, graças as Domingueiras do pai da Clara, é que nós tivemos a oportunidade de conhecer vários artistas. Foi lá, por essa época que ela teve a sorte de encontrar o Carlos Lyra. Ele soube que ela estava querendo fazer um musical do Maroquinhas e aí foi falar com ela e acabou fazendo a música. Maroquinhas Fru-Fru fala de um concurso de bolos onde o que não importa é a competição. Acontece que várias pessoas na cidade estão em função do concurso, uns querendo roubar as receitas, outras querendo a própria Maroquinhas porque ela era também muito cobiçada. Foi uma montagem muito agradável mesmo. Fazia parte do elenco da Maroquinhas, Jacqueline Laurence que estava ótima, a Maria Miranda; Tereza Redig de Campos, Virginia Valli, Celina Whately e muitos outros.

Quem começou a atuar nesta montagem foi o Carlos Wilson, o Damião. Começou no Tablado como ator em 1961 e a dirigir em 1978. Ele trabalhava com menores na Funabem e veio aqui perguntar para a Clara o que ele poderia fazer com aqueles jovens porque ele reparava que eles gostavam muito de representar. O Damião tinha uma boa formação. Mas ele queria fazer coisas diferentes, era muito inquieto e a Clara acabou convidando a ele para atuar e ele topou. Depois ele foi trabalhar no Colégio Souza Leão que era particular, mas que dava muita liberdade para experimentos e ele começou também a dar aulas de teatro lá. Ele se realizou muito porque os jovens de lá tinham quase a mesma idade dos nossos, alguns inclusive estudavam teatro aqui também.

Sempre trabalhou com muito esmero, era um ótimo produtor, fazia as coisas com calma. Seus trabalhos tinham muita vibração. Já com dinheiro ele não tinha muito cuidado. Certa vez nós lhe fizemos um pagamento e ele começou a andar mancando, porque havia guardado o dinheiro no tamanco. Minutos depois ele voltou dizendo: “Que praga! Não acho o meu dinheiro”, e eu lhe disse: “Não acha porque eu fui recolhendo do chão”. A Clara, a Kalma, a Ana, a Vânia e eu éramos as mulheres da vida dele, como ele dizia. Mas ele tinha mesmo era um fascínio pela Maria Clara.

O Fernando Pamplona também se ofereceu para colaborar na iluminação, na montagem dos refletores de Maroquinhas. Antes de ele ser conhecido como carnavalesco ele era iluminador, aliás, um grande iluminador. Ele tentou dar um jeito, porque até então não havia iluminação cênica como a gente conhece hoje. Somente na década de 70 que a iluminação deu um salto tecnológico.

A seguir Maria Clara adaptou A Gata Borralheira. Uma adaptação muito engraçada tirando aquele ranço, aquela maldade toda que tem na história. A trama tinha muitas nuances, os pretendentes eram todos pseudos-intelectuais. Sabedoria era saber falar palavras difíceis, cheias de enfeite. Foi um espetáculo muito divertido. Trabalhamos com a Martha Rosman, a Jacqueline fazia a madrasta e a menina era a Celina Whately, que fez a menina na montagem do Cavalinho Azul, em 1960.

A Clara sempre teve muitas amigas, no grupo de Bandeirantes chegou a ser chefe geral aqui do Rio de Janeiro, então conhecia muita gente. Quer dizer, que todas as dificuldades, problemas que ela constatava ficavam dentro da cabeça dela. Fosse da escola, família, sociedade, enfim tudo. Quando montamos A Menina e o Vento, de 1963 o que a inquietava era essa coisa “de tia”, de castigo. Ela tinha uma imaginação fantástica.

Das muitas peças que Clara escreveu, teve um personagem que se repetiu por várias vezes. Foi o Camaleão. Primeiro ele aparece em O Rapto das Cebolinhas, em 1958. A seguir em A Volta do Camaleão Alface em 1965, depois em O Camaleão na Lua, em 1969 e ainda tem outro que ela não montou chamado O Camaleão e as Batatas Mágicas, que era para um público bem infantil. Ela tinha um fascínio por personagens que lembravam a fazenda do seu avô em Minas onde ela se encontrava com os primos. Lá tinha tudo isso: cavalo, burro, cachorro, camaleão. Além disso, ela tinha a lembrança das histórias que o avô lhe contava.

Foi na montagem de A Volta do Camaleão que o Jorginho de Carvalho teve sua primeira participação em teatro. Foi um caso a parte. Ele estava sempre aqui na rua brincando e a Clara chamava para participar das montagens. Ele começou a se interessar e aprender aqui com os meninos da iluminação. Tempos depois saiu por aí, mas nunca nos abandonou. Voltou diversas vezes e sempre foi nosso conselheiro, nos ajudando e orientando. Nos anos 70 ele revolucionou o conceito de iluminação. Para nós era uma maravilha porque nós não dominávamos o assunto. A Clara e eu nos descabelávamos com aquela montoeira de fios que não sabíamos para que servia.

Mas nesse processo de iluminação aconteceu o seguinte: primeiro foi um amigo, que inclusive ajudou a fundar o Tablado, o Carlos Augusto Nem. Nós o conhecemos quando fizemos um viajem com as Bandeirantes aos Estados Unidos. Acho que o pai dele era presidente do Banco do Brasil e morava lá em Washington. Quando nós voltamos e começamos com o teatro ele logo disse “Tô nessa!”. Depois ele casou-se com uma das meninas daqui. Mais tarde entrou o Sérgio Catiá que também tinha muitas ideias de iluminação. E depois dele o Ricardo Machi que trabalhou no Tribobó City com o Jorginho. Ele tentou mudar o funcionamento das mesas de luz, mas ficou por pouco tempo. Depois veio o Roberto Santos, teve Neném, o Cláudio Neves, o Maneco Quinderé. Mas o Jorginho ficou muitos anos e quando ele não podia fazer por motivos de viagem a gente chamava outra pessoa, quase todos eram assistentes dele.

Voltando a falar dos espetáculos. Chegou um momento que nós percebemos, que depois de 10 anos um clássico do teatro infantil poderia ser remontado porque a nova geração desconhecia. Pluft é um exemplo. A primeira montagem é de 1955 e o segundo Pluft, foi em 1964. Esses textos são todos muito simples e imaginativos. O segredo está aí. Percebemos que quando alguém de fora monta um texto da Clara e resolve inventar mais coisas acaba complicando a história e o encanto desaparece.

Quando o farwest virou moda, ela fez uma brincadeira com os cowboys. Aí montamos em 1971, comemorando os vinte anos do Tablado, Tribobó City, que bem poderia ser Magé, Macaé e por aí vai. O bairro já existia e o pai dela tinha uma casa em Campos e quando ela pegava o trem tinha que passar por Tribobó. O Ubirajara Cabral era engenheiro da COP de Minas Gerais e nos foi apresentado pelo marido da Bete Coimbra, que também era de lá. E ela nos disse que ele era engraçadíssimo ao piano e que tinha uma vasta cultura. O primeiro trabalho dele foi no espetáculo Tribobó, mas ele acabou fazendo parte da família e fez muitos outros. Lupe Gigliotti participou também de Tribobó. Ela apareceu aqui quando a Clara fazia o espetáculo As Interferências, em 1966. Ela sempre trazia a filha, a Cininha de Paula, na época, Maria Lupcínia. Clara perguntou para ela se queria representar, ela disse que sim e entrou. Depois a Cininha fez a Maria Minhoca, em 1968.

As aulas surgiram seriamente na vida de Clara mais para na década de 70. Ela sempre gostou muito dar aula, como professora que era. Uma vez por ano ela fazia uma reunião com outras professoras, que fazia parte do trabalho das Bandeirantes. Em um dado momento elas pediram à Clara que desse umas aulas sobre o assunto porque já haviam lido a respeito nos Cadernos de Teatro. Essas aulas eram sempre nas férias, janeiro ou julho. Na verdade essas aulas eram dadas em outros locais. O Rodolpho Celli também pediu para a Clara, dar umas aulas na Escolinha de Artes. Só mais tarde surgiu uma turma maior onde estavam o Daniel, a Louise, a Sura, e que ficou sendo um grupo mais estável. Chegou um momento que a Clara resolveu juntar as turmas. Ela era professora do conservatório no Dulcina e também na UniRio e esse pessoal começou a se envolver com as montagens que a gente fazia aqui no Tablado. A Silvinha Fucs é dessa época.

Com a morte do pai, a Clara resolve também dar aulas particulares aqui no Tablado. Aí foi aparecendo gente com criança e a irmã da Maria Clara tinha um jeito todo especial de lidar com elas. As duas então davam essas aulas particulares. Foi assim que começou a escola. Somos uma grande família que vai se ajudando. Nosso método sempre foi muito bom e nós não queremos nos tornar uma escola de formação profissional.

Convite do lançamento do Livro dos 50 anos de O Tablado

O tempo foi passando, nossas crianças foram nascendo. Eu tenho sete filhos. A Vânia tem três. Tem os sobrinhos da Clara, a Cacá, o Vicente. O Rogério e o Sérgio são um pouquinho mais velhos. Tem a Lili, o Marquinhos e o filhos do Marquinhos. Acabamos tendo um público caseiro, que vinham assistir sempre e alguns acabaram ficando. Foi o caso da Cacá Mourthé. O primeiro papel de destaque foi quando ela fez Pluft, em 1977, mas bem antes ela já havia feito a Vassa Geleznova, em 74. Depois ela entrou no Dragão também, fez O Patinho Feio em 76. Cacá começou como atriz, foi chegando, trabalhando, começou a fazer assistência de direção e depois a Clara a convidou para dirigir, mas isso, já na década de 90. Mas ela não foi a única a assumira a direção dos espetáculos. Tivemos direções do Damião, Bernardo, do Toninho, do Carlos Lúcio e da própria Maria Clara. Foi de 1998 em diante que a Cacá assumiu mesmo.

Maria Clara deixou uma grande contribuição para o país. Uma contribuição imensa. Foi como um rio que vai passando e vai pegando todos os afluentes, da margem esquerda, da margem direita. Ela sempre mexeu com as pessoas. Era muito amiga mesmo, muito presente. Tratava a todos com igualdade, respeito. Adorava o teatro. Ela era muito levada, uma eterna criança.

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Depoimento dado à Antonio Carlos Bernardes, em O Tablado. A primeira parte foi realizada em 22 de janeiro de 2001 e a segunda parte em 27 de setembro de 2001. Fotos: Arquivo O Tablado

Notas Biográficas

Maria Clara Machado

Nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, filha de Aníbal Machado (escritor) e Aracy Jacob Machado. Veio para o Rio de Janeiro ainda criança, onde fez seus estudos. Começou a carreira artística com um teatro de bonecos que fundou e dirigiu durante cinco anos. Desta experiência publicou um livro “Como Fazer Teatrinho de Bonecos” (editado pela Melhoramentos), que esgotou-se rapidamente. Em 1969 a Livraria Agir reeditou-o. Ainda nesta fase escreveu dez peças para fantoches.

Em 1950 recebeu uma bolsa de estudos do governo francês, para estudar teatro em Paris, durante um ano. Na Europa recebeu outra bolsa de estudos da Unesco e fez um curso de férias em Londres. De volta a Paris em 1952, frequentou o curso de mímica de Etienne Decroux.

Ao voltar ao Brasil, em 1951, fundou no Rio de Janeiro O Tablado, companhia de amadores. O Tablado tem sido início de carreira de muitos artistas profissionais, hoje de renome.

Em 1956 fundou a revista Cadernos de Teatro, para orientar grupos amadores e professores.

De 1959 a 1974 foi professora de improvisação no antigo Conservatório Nacional de Teatro, hoje escola de teatro da UNIRIO, onde foi também diretora durante um ano (1967 /1968).

Em 1961 foi convidada pelo governo do Estado da Guanabara para dirigir o Serviço de Teatro e Diversões do Estado e ao mesmo tempo ocupou o cargo de Secretário Geral do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. (ocupou o cargo até princípio de 1963).

Em 1965 representou o Brasil no Congresso de Teatro para Juventude, realizado em Paris. Nesta ocasião teve oportunidade de ver sua peça O Cavalinho Azul, em Paris, montada para representar o Brasil no Congresso de ILT, da Unesco em Tel-Aviv.

De 1964 a 1999 dirigiu o curso de improvisação no Tablado.

O Teatro de Maria Clara Machado já atingiu o panorama internacional. Suas peças foram traduzidas para o francês, inglês, alemão, holandês, sueco, russo, espanhol, árabe, etc. sendo que as mais procuradas são: Pluft, O Fantasminha, O Rapto das Cebolinhas, A Bruxinha que era Boa, O Cavalinho Azul e A Menina e o Vento.

Tradutora de várias histórias infantis para as Editoras Cedibra, Livros de Ouro e Expressão e Cultura. A Editora Losange de Buenos Aires, editou em espanhol um livro com as seguintes peças: A Menina e o Vento, Pluft, o Fantasminha, e O Cavalinho Azul, traduzidas pôr Maria Julieta Drummond de Andrade.

Em 1979 no Centro de Estudos Brasileños foi editada na tradução de Maria Julieta Drummond de Andrade “Teatro Infantil” com as seguintes peças: O Rapto das Cebolinhas, A Bruxinha que era Boa e O Cavalinho Azul.

Maria Clara Machado faleceu em abril de 2001.

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Livros Publicados

Editora AGIR
Teatro I – Pluft, o Fantasminha, A Bruxinha que era Boa, O Rapto das Cebolinhas, O Chapeuzinho Vermelho, O Boi e o Burro no Caminho de Belém.
Teatro II – A Volta do Caaleão Alface, O Embarque de Noé, O Cavalinho Azul. Camaleão na Lua Teatro III – A Menina e o Vento, Maroquinhas Fru-Fru, A Gata Borralheira, Maria Minhoca
Teatro IV – O Diamante do Grão-Mogol, Aprendiz de Feiticeiro, Tribobó City, Gato de Botas
Teatro V – Os Cigarras e Os Formigas. O Patinho Feio, Camaleão e as Batatas Mágicas, Quem Matou o Leão?
Teatro VI – João e Maria, Um Tango Argentino, O Dragão Verde, A Coruja Sofia, A Bela Adormecida, A Coruja Sofia
Como Fazer Teatrinho de Bonecos
O Dragão Verde (Conto com ilustrações de Cybele Cotrin)
Eu e o Teatro (Coleção de cartas e memórias)
A Viagem de Clarinha (Conto com Ilustrações de Gian Calvi)
100 Jogos Deramáticos (Em parceria com Martha Rosman)
Exercícios de Palco

Editora CEDIBRA
O Cavalinho Azul (conto com ilustrações de Mary Louise Nery)
Pluft, O Fantasminha (conto com ilustrações de Anna Letycia)

Editora JOSÉ OLYMPIO
Clarinha na Ilha (conto com ilustrações de Rogério Cavalcanti)
A Aventura do Teatro

Editora BLOCH
Aventuras no Grotão da Mata
A Menina e o Vento
A Volta do Camaleão Alface
Papagaio Avião

Editora SALAMANDRA
Criança também tem Direito (com ilustrações de alunos da Rede Municipal do Rio de Janeiro)

Editora GLOBAL
Uma Aventura na Floresta

Editora NOVA AGUILAR
Maria Clara Machado – Teatro Infantil Completo

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Participação em Espetáculos para Crianças e Jovens

Como Autor e Diretor

1953 – O Boi e o Burro no Caminho de Belém
1953 – O Rapto das Cebolinhas
1954 – A Bruxinha que era Boa
1955 – Pluft, o Fantasminha
1956 – O Chapeuzinho Vermelho
1957 – O Embarque de Noé
1959 – O Cavalinho Azul
1959 – A Volta do Camaleão Alface
1961 – Maroquinhas Fru-Fru
1961 – Camaleão na Lua
1962 – A Gata Borralheira
1962 – A Menina e o Vento
1966 – O Diamante do Grão-Mogol
1967 – Maria Minhoca
1968 – Aprendiz de Feiticeiro
1971 – Tribobó City
1974 – O Patinho Feio
1974 – Os Cigarras e os Formigas
1976 – Camaleão e as Batatas Mágicas
1977 – Quem Matou o Leão?
1979 – João e Maria
1983 – O Dragão Verde
1986 – O Gato de Botas
1992 – Passo a Passo no Paço Imperial (Em parceria com Cacá Mourthé)
1993 – A Coruja Sofia
1996 – A Bela Adormecida
2000 – Jonas e a Baleia (Em parceria com Cacá Mourthé)

Prêmios de Teatro

1953 – Prêmio Anual de Peças Infantis da Prefeitura do Distrito Federal, pelo texto de O Rapto das Cebolinhas
1955 – Prêmio Anual de Peças Infantis da Prefeitura do Distrito Federal, pelo texto de A Bruxinha que era Boa
1956 – Prêmio da Associação de Críticos de São Paulo, melhor espetáculo e melhor autor nacional por Pluft, O Fantasminha
1958 – Hors Concours no Festival de Peças Infantis, SNT – MEC por A Bruxinha que era Boa
1961 – Personalidade do Ano, pela passagem do décimo ano de fundação do Tablado. Fundação Brasileira de Teatro
1962 – Atelier de Teatro de Caxias do Sul, pela peça Pluft, O Fantasminha
1965 – Prêmio Sacy (Jornal O Estado de São Paulo), de melhor autor nacional com a peça Pluft, O Fantasminha
1965 – Prêmio Conchita de Moraes, Fundação Brasileira de Teatro – Personalidade
1967 – Troféu Criança (Diário de Notícias), com O Diamante do Grão-Mogol
1968 – Troféu do Teatro Amador de Friburgo, com a peça Maria Minhoca
1968 – Golfinho de Ouro (M. Imagem e do Som), melhor autor do Est.Guanabara por Aprendiz de Feiticeiro e Maria Minhoca
1968 – Prêmio Molière / Air France, pelas peças Maria Minhoca e Aprendiz de Feiticeiro
1970 – Prêmio do 3º Festival de Peças Infantis da Guanabara, com a peça Maroquinhas Fru-Fru
1974 – Personalidade Global, O Globo e TV Globo
1980 – Prêmio Paulo Pontes em, ACET / FUNARJ – Governo do Est.do Rio de Janeiro
1981 – Prêmio Mambembe São Paulo, Personalidade do Ano
1981 – Prêmio Molière / Air France, pelos 30 anos do Tablado
1984 – Prêmio Mambembe RJ, como melhor autora por O Dragão Verde
1988 – Prêmio Coca-Cola de Teatro Infantil, Hors-Concours
1991 – Prêmio Coca-Cola RJ, pela sua dedicação ao Teatro Infantil
1991 – Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto de sua obra
1993 – Prêmio Coca-Cola RJ, Hors-Concours por Diamante do Grão-Mogol
1995 – Prêmio SATED – APART

Participação em Espetáculos Adultos

Como Autor

1963 – Referência 345
2 atos. Levada pela primeira vez na TV-RIO, 2º lugar no concurso de peças para TV.

1964 – Miss Brasil 
2 atos. Foi montada pela primeira vez em 1970 no Teatro Opinião.

1965 – As Interferências
1 ato. Foi montada pela primeira vez em 1966, com música de Reginaldo de Carvalho.
Publicada nos números 36 e 57 dos Cadernos de Teatro.

1969 – Os Embrulhos
1 ato. Foi montada pela primeira vez em 1970. Publicada no Cadernos de Teatro – 47

1972 – Um Tango Argentino
Comédia musical montada pela primeira vez em 1972. Publicada no Cadernos de Teatro – 56.

Como Atriz

1949 – A Farsa do Advogado Pathelin, medieval francês (Guilhermina)
1951 – A Moça da Cidade– mímica de Maria Clara Machado
1952 – O Moço Bom e Obediente – Betty Barr e Gould Stevens (a esposa)
1952 – Sganarelo, de Molière (Célia)
1953 – A Sapateira Prodigiosa, de Garcia Lorca (a Sapateira)
1954 – Nossa Cidade. de Thornton Wilder (Emily Webb)
1955 – O Diálogo das Carmelitas, de Bernanos (Blanche)
1955 – Tio Vânia, de Tchekov (Sônia)
1957 – O Tempo e os Conways, de J. B. Priestley (Kay)
1959 – O Living-Room, de Graham Greene (Tereza)
1959 – Do Mundo nada se Leva, de Kaufman e Hart (Essie)
1960 – D. Rosita a Solteira, de Garcia Lorca (D. Rosita)
1961 – O Mal-Entendido, de Albert Camus (Maria)
1981 – Ensina – me a Viver , de Collin Higgins (Maude)
1985 – Este Mundo é um Hospício, de Joseph Kesselring (Abigail)

Como Diretor

1951 – A Farsa do Pastelão e da Torta, medieval francês
1951 – A Moça da Cidade, mímica
1953 – A Sapateira Prodigiosa, de Garcia Lorca.
1956 – A Sombra do Desfiladeiro , de J. M. Sygne
1958 – O Matrimônio, de Gogol
1959 – Do Mundo nada se Leva, de Kaufman e Hart
1962 – O Médico a Força, de Molière
1963 – Barrabás, de Michel de Chelderode
1964 – Sonho de uma Noite de Verão, de William Shakespeare
1965 – Arlequim Servidor de Dois Patrões, de Goldini
1967 – A Farsa do Pastelão e a Torta, medieval francês
1974 – As Aventuras de Pedro Trapaceiro, medieval francês
1974 – Vassa Geleznova, de Máximo Gorki
1975 – O Dragão, de Eugène Schwarz
1979 – O Platonov, de Anton Tchekov

Participação em Cinema

Como Atriz

1951 – Angela, direção de Tom Payne, Cia. Vera Cruz
1983 – O Cavalinho Azul, direção de Eduardo Escorel (Velha que Viu)