Crítica publicada no Jornal O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 08.12.1981
No meio do caminho
Zum ou Zois, peça dos paulistas Mauro Padovan e Carlos Meceni, que esteve em cartaz no Teatro Aurimar Rocha e que está indo para o Gay-Lussac, em Niterói, é mais um espetáculo de variedade, reforçando uma tendência cada vez mais forte existente no teatro infantil atual: a maior presença do show, das brincadeiras, das adaptações, dos sketches, em vez de um texto estruturado de modo tradicional contando uma história, com início, meio e fim. (O espetáculo que recebeu sete indicações para o Prêmio Mambembe – Brincando com Fogo – é, nada mais nada menos, que um show de variedades; outro espetáculo, com três indicações para o Mambembe – Ou Isto ou Aquilo – é uma adaptação de vários poemas de Cecília Meireles). Zum ou Zois, dirigido por João Gomes, apresenta inúmeros acertos e inúmeros equívocos. O principal problema da encenação é a sua descaracterização, já que a direção não assume o caráter de sketche e todo o desenvolvimento do espetáculo é uma tentativa frustrada de ligar o que é separado, ficando num meio termo que acaba expressando um tom de indefinição. Os elementos de interesse vão e voltam. Na maioria das vezes, as cenas isoladas trazem um potencial cênico que não se realiza: cria-se, no público, a expectativa de um desfecho; e o desfecho vem geralmente esvaziado. (Exemplo: o telefonema da rainha Elizabeth; investe-se muito e, ao final, não há uma consequência cênica, não falo especificamente de trama). Há muitos tempos mortos, grandes “buracos” entre as cenas. Há um esvaziamento progressivo de muitos momentos, sem que cheguem às últimas consequências; a dança de Emanuel dos Santos com a vassoura/ a dança de Emanuel vestido de mulher.
Por outro lado, há inúmeros aspectos positivos; o tom de circo, a alegria trazida pelo clima do espetáculo e pela interpretação dos atores, uma atmosfera de simpatia logo no início, apesar de as brincadeiras não serem assim tão interessantes (o melhor momento é no Chapéu de Três Pontas). Há boa exploração do non-sense (cena do lanche); a ótima briga em língua estranha; existem expressivos climas e imagens (o uso da luz negra, o baú, a sombrinha girando, a cena do Houdini, o contorcionista). Há um trabalho seguro de interpretação onde Emanuel dos Santos e Fátima Rezende (os dois únicos atores) fazem inúmeros personagens, sempre com muita vida: faltam um pouco mais de brilho e variações entre um personagem e outro.
Em síntese: um espetáculo com altos e baixos, com a criançada ligada em certos momentos, desligada em outros. Parece ter faltado, ao diretor, a descoberta da fórmula certa para explorar mais profundamente a capacidade dos dois intérpretes e para dar uma força unificadora e mais expressiva à linguagem do espetáculo.