Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 14.11.1981

Barra
Liberdade para pássaros e também para a imaginação 

Em Viveiro de Pássaros, de João de Barro (Braguinha), em cartaz no Teatro Casa Grande, a proposta básica se realiza; contar de modo alegre uma história que leve as crianças a perceber o sofrimento dos pássaros presos em gaiolas – e, por extensão, o sofrimento de todo o ser humano quando se vê privado de sua liberdade. A ideia passa porque a trama da história é simples, direta, clara. Se, por um lado, não se encontram muitos toques sutis; tudo é óbvio e esquemático. A “conversão” final do pai mau, a caminho do bem, é ótimo exemplo de manipulação arbitrária do autor em relação às características do personagem. Mas há um dado de emoção que deve ser considerado; observando-se a plateia infantil, durante o espetáculo, fica bem patente que as crianças estão emocionalmente envolvidas e sofrem e sentem-se aliviadas com o sofrimento e com o alívio dos pássaros. Dessa forma, a ideia passa para a plateia. E passa de modo alegre, principalmente a partir das excelentes músicas de João de Barro, da interpretação bem humorada de Grande Otelo e Josephine Heléne e dos figurinos de Régis Monteiro.

A proposta básica se realiza, mas, paradoxalmente, o espetáculo não é bom porque funciona, já está dito acima. E, se funciona, porque não é bom? Porque a encenação sofre de uma enorme pobreza de ideias na sua concepção. O diretor Tanah Correa não cria imagens significativas e seu espetáculo se caracteriza por grande redundância visual. E, sendo um musical, também foi muito infeliz o trabalho da coreógrafa Mara Borba; falta criatividade na movimentação dos atores, o desenho coreográfico é sem imaginação. Dessa forma, o que poderia ser um espetáculo de maior dimensão – inclusive com o cuidado de produção realizado pela Spotlight – mostra-se apenas “direitinho”. O restante do elenco não aprece com destaque mais por culpa do texto (personagens vazios, apenas com função e não com vida) do que dos próprios atores.

Não há dúvidas de que as crianças curtem assistir a Viveiro de Pássaros; mas, com uma certa dose de criatividade, a plateia infantil certamente curtiria muito mais.