Crítica publicada em O Globo – Segundo Caderno
Por Marília Coelho Sampaio – Rio de Janeiro – 05.07.2003
A Vida do Elefante Basílio: peça em cartaz no SESC – Tijuca reproduz no palco, de forma muito envolvente, história do escritor gaúcho Erico Verissimo
As alegrias e agruras de um elefante que roda o mundo
A Vida do Elefante Basílio, em cartaz no SESC – Tijuca é uma adaptação de Demetrio Nicolau para o livro homônimo de Erico Verissimo, escrito em 1939. A peça acompanha a trajetória de Basílio a partir da entrada de seus ancestrais na Arca de Noé. Ela mostra como ele cresceu cercado de carinho, na Índia, como sofreu ao ser mandado para um zoológico, em Londres, e como veio parar no Brasil. E a Companhia Pop de Teatro Clássico, dirigida por Demetrio, conta de forma muito envolvente a história de Verissimo.
Logo na primeira cena, o espetáculo ganha as crianças com os graciosos casais de animais que tripulam a Arca de Noé, desenhados pelo cartunista Guidacci. E, na realidade, tanto eles quanto os cenários de Krika, Coca Serpa e Demetrio Nicolau, e os bonecos de Fernando Santana, são o grande trunfo da peça. A trilha incidental de Demetrio Nicolau, que reproduz os sons do que se passa em cena, como no dilúvio e no incêndio, também tem ótimo efeito.
A história de Basílio é contada pelas atrizes Cassiana Rodrigues, Helena Borschiver, Letícia Cannavale e Silvia Rocha, que se revezam em diferentes personagens e na manipulação dos bonecos, alcançando um trabalho bastante homogêneo. Nara Keiserman, responsável pela preparação corporal, talvez pudesse enxugar um pouco os movimentos das atrizes, para valoriza-los quando realmente necessários.
O diretor acerta na forma, mas enfraquece o conteúdo
O diretor acerta em cheio na forma de contar a história, mas poderia ter valorizado o seu conteúdo.
Por exemplo, a cena em que os animais da floresta oferecem seus presentes ao elefantinho poderia ser cortada, porque é muito cansativa. Por outro lado, a última cena, em que Basílio leva tiros de um caçador, poderia ser valorizada. A peça acaba de repente, na bela cena das borboletas, que ofusca o desfecho nem um pouco suave.
Isso confirma a impressão de que durante toda a peça o sofrimento de Basílio é minimizado. E mesmo que o diretor tenha sido fiel ao livro nesse aspecto, talvez não tenha sido o melhor caminho. O sofrimento faz parte da vida e privar as crianças do contato com esse sentimento não vai ajuda-las em nada. O mais importante, na verdade, é como Basílio consegue supera-lo.
Mas isso não impede que A Vida do Elefante Basílio seja dos melhores espetáculos em cartaz na cidade.