Cenário é criativo, mesmo que utilizando poucos elementos

Crítica publicada em O Globo – Segundo Caderno
Por Marília Coelho Sampaio – Rio de Janeiro – 31.10.2004

 

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Uma Aventura no Outro Mundo – Um musical de arrepiar!!!: Equívocos impedem uma comunicação maior com a plateia

Algumas boas surpresas numa peça irregular

Três crianças são surpreendidas por uma tempestade a caminho da escola. Uma delas aproveita o clima de medo para contar às outras duas histórias de seu ídolo, o Cavaleiro Negro. Nesse meio tempo, a chuva aumenta, o pneu da Kombi escolar fura, o motorista some e os meninos são transportados para outro mundo, cheio de criaturas assustadoras. E são as surpresas deles nesse mundo fictício que sustentam a trama de Uma Aventura no Outro Mundo – Um musical de arrepiar!!!, em cartaz no Teatro Clara Nunes, no Shopping da Gávea.

Cenário é criativo, mas figurinos não convencem

A peça começa bem, com interessante jogo de sombras que remete aos lugares por onde a Kombi passa. Como as primeiras inserções das sombras são muito poéticas, cria-se uma expectativa de que elas valorizarão o espetáculo, o que, infelizmente, não acontece. Ao longo da montagem elas se tornam pobres e repetitivas, funcionando apenas como um elo entre as cenas soltas que constituem o texto de Gillray Coutinho.

Eduardo Albini é mais feliz na criação do cenário, em que utiliza poucos elementos de cena, do que no desenho do figurino. Logo depois da tempestade, quando as crianças são “jogadas” no outro mundo, elas aparecem com figurinos em preto e branco, como o dos outros integrantes daquele lugar. Parece que essa foi a forma que Albini encontrou de sinalizar a mudança na trama. Mas não poderia ser mais interessante se elas continuassem usando suas roupas coloridas para marcar; a diferença entre elas e aqueles seres fictícios? Um pouco mais grave é o caso dos figurinos dos personagens Insônia e Ogro, que parecem ter sido criados mais com o intuito de divertir as crianças do que de favorecer os atores em suas interpretações.

A trilha também poderia ser revista e, quem sabe, o próprio título da peça. Talvez fosse mais adequado ao espetáculo somente Uma Aventura do Outro Mundo, sem o sub­título Um Musical de Arrepiar, já que estamos falando de um espetáculo com música, e não propriamente de um musical. Na realidade, só a trilha instrumental de Ricardo Camargos ‘seria suficiente na montagem: as músicas cantadas, além de exigir dos atores um preparo vocal que eles talvez não tenham, não acrescentam muito ao espetáculo. Na iluminação, Renato Machado dá conta do recado sem maiores problemas.

Elenco cumpre o que o diretor se propõe

Os sete atores do elenco parecem corresponder aos anseios do diretor de criar um espetáculo que se comunique de forma fácil e um pouco óbvia com seu jovem público, re­correndo a gritos, correrias no palco e a alguns números de plateia que não produzem o efeito desejado.

Como é a primeira vez que o diretor Luiz Antônio Rocha dirige um espetáculo voltado para o público infantil, talvez, numa próxima montagem, ele possa evitar alguns equívocos que impedem Uma Aventura no Outro Mundo de estabelecer uma comunicação maior com a plateia.