Peça aborda temas como amizade,coragem e imaginação. Foto: Fernando Honorato

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Foto: Roberta Bittencourt

Peça é baseada em período da vida do autor de O Pequeno Príncipe. Foto: Fernando Honorato

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A história de um príncipe que voava entregando cartas

Só até domingo (26), em São Paulo, a chance de conhecer a encantadora peça infantil da Cia. Mútua, de Santa Catarina

Além de incríveis montagens próprias, o grupo Sobrevento empresta sua sede (em um charmoso espaço de fácil acesso no Belenzinho, em São Paulo) para grupos de animação vindas de fora – atitude sempre louvável nesse mundo cada vez mais competitivo e egoísta. Desta vez, a convidada especialíssima é uma companhia de Santa Catarina, a Cia. Mútua, fundada em 1993 e atualmente estabelecida na cidade de Itajaí.

Alertado pela assessora de imprensa Márcia Marques de que se tratava de “uma pérola imperdível”, corri ao Espaço Sobrevento na semana passada e… Um Príncipe Chamado Exupéry realmente é sensacional. Saí de lá agradecido pela dica e extremamente emocionado pelo talento da trupe catarinense, que já faz esse mesmo espetáculo há nada menos do que seis anos consecutivos. Puxa, como demorei para conhece-los… Agora, só resta a você correr com sua família para o Belenzinho, pois serão só mais dois dias e quatro apresentações, neste sábado (25/6) e no domingo (26/6), às 16h e às 19h.

Já tive a ocasião de ver neste ano uma magnífica versão de O Pequeno Príncipe, com direção de Tony Giusti, no Top Teatro. Mas aqui, com a Cia. Mútua, a peça não é sobre o livro, e sim sobre um significativo período da vida do autor desse clássico infantil, Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944), que morreu em plena Segunda Guerra, vítima de um acidente aéreo. Aliás, prepare-se para a cena final, da morte de Exupéry. É um dos momentos mais lindos que já vi no teatro para crianças, que acompanho desde 1990. Delicada, tocante, singela, a cena envolve o público com muita emoção e produz um silêncio de inegável eloquência. Confesso que chorei.

Antes de entrar no espaço de representação, o público é detido à frente do cenário e apresentado ao ambiente que vai conhecer: o hangar da Aéropostale, companhia de aviação pioneira fundada em 1919, na França. Exupéry, piloto, atuou na empresa e, em seguida, contou essa experiência no livro Voo Noturno, entre outros. Exupéry entregava cartas em escalas de voos diários pela Europa, África e também América do Sul. Aliás, uma de suas escalas era justamente em Santa Catarina, na praia do Campeche, em Florianópolis, onde era chamado pela população local de “Zéperri”. Um dos personagens é o Seu Deca, Rafael Manoel Inácio, pescador catarinense que conviveu com o escritor naquela época.

Os bonecos, os aeroplanos de madeira e os objetos cenográficos são todos encantadores. Dá vontade de levar para casa. Os bonecos têm pernas curtas, desproporcionais ao restante do corpo, o que dá a eles um toque visual muito especial e divertido. É de se tirar o chapéu para a manipulação certeira e precisa: o boneco que representa Exupéry tira a caneta de um bolso, o bloco de notas de outro bolso e começa a anotar o que vê e ouve – você não vai acreditar como o boneco de varas é capaz de fazer isso com tanto apuro e riqueza de movimentos. Sou informado pelo material de divulgação que a produção dos bonecos e da cenografia foi cuidadosamente planejada a partir de maquetes, story-boards, protótipos e desenhos, elaborados com base no livro Dessin: Aquarelles, Pastels, Plumes et Crayons, que contém todos os desenhos feitos pelo próprio Saint-Exupéry, da infância à idade adulta.

Trata-se de um espetáculo sem palavras, mas com muito conteúdo e muito o que dizer sobre autoconhecimento, amizade, solidariedade, coragem, força, obstinação, imaginação. A trilha é ótima e ajuda a dar os climas para que a trama tenha fluência. Vamos aos créditos a essa gente tão talentosa. No elenco, Guilherme Peixoto e Mônica Longo. Direção de Willian Sieverdt. Os três – diretor e atores – assinam a dramaturgia. Cenografia de Jaime Pinheiro. Sonoplastia e trilha original de Guilhermo Santiago e Paulo Zanny. Mecanismos dos bonecos e cenários: Paulo Nazareno. Escultura de bonecos: Mônica Longo. Técnicos: Laura Correa, Luis Melo e Antônio Pereira. Palmas para todos. De pé.

Para você ter uma ideia da maravilha que é ‘Um Príncipe Chamado Exupéry’, a montagem possui o aval da Successión Saint-Exupéry, associação francesa que enviou ao Brasil duas representantes (Hélène de Sèze e Isabelle d’Agay, sobrinhas netas de Saint-Exupéry) que assistiram ao espetáculo em maio de 2011. Vejam o depoimento que elas deixaram por escrito: “Extraordinário, maravilhoso, emocionante! Não esperávamos que a história de nosso tio-avô fosse retratada de forma tão mágica e fiel à realidade. O boneco é muito parecido com nosso tio, o nariz dele é bem familiar.”  Vai perder?

Serviço

Espaço Sobrevento
Rua Coronel Albino Bairão, 42 – Belenzinho, São Paulo
Tel. 11 97018-3677
Sábado (25) s e Domingo (26) às 16h e às 19h. Ingresso gratuito