Ricardo Schöpek, Ana Paula Bouzas (C) e Andréia Elia

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone, Rio de Janeiro – 19.12.1992

 

 

 

Barra

Qualidade poética numa peça ecológica

Se ainda existisse, quem não gostaria de ganhar em nota de um cruzeiro, o número de peças, livros, músicas, filmes, peças que passaram desapercebidas em suas primeiras tentativas, para depois se tornarem grande sucessos.

Uma História de Boto Vermelho, texto de Roger Mello, classificado entre 300 concorrentes do Festival Coca – Cola Ecologia, chega ao palco do Teatro Laura Alvim vitorioso. De surpreendente qualidade poética, Roger utiliza figuras do folclore brasileiro, numa construção quase cinematográfica do enredo. Se o tema já é conhecido – o boto que nas noites de lua cheia se transforma em moço bonito para conquistar o coração das meninas o que se vê em cena é revelador.

Em sua estreia na direção, Ricardo Shopke foi bastante ousado na escolha do texto, e apesar das dificuldades operacionais com os cenários de Doris Rollemberg, a encenação se desenvolve sem muitos contratempos, não comprometendo o entendimento da trama. Shopke que além da direção assina, com Andréa Maciel, as belíssimas coreografias da peça, têm nas músicas de Ubirajara Cabral o toque de brasilidade.

De elenco coeso, Uma História de Boto Vermelho revela alguns destaques: Hilda Rebello, numa composição emocionada da guardiã da lenda, Ana Paula Bouzas a romântica Joana, Andréa Elias a espevitada Conceição, João Batista com o sábio humor do peixe Boi e Ricardo Shöpke no elástico Boto. Com todos esses atributos o espetáculo emociona a plateia que acaba levando para casa a agradável sensação de ter testemunhado o surgimento de alguns novos profissionais.

Classificação 3 estrelas: (Ótimo)