Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone, Rio de Janeiro – 26.01.1992

 

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A ingênua alegria dos circos

Ingênuos, ou espertos, vindos da commedia dell’arte, como bufões e arlequins, com características marcantes de atuação que os diferenciam no comportamento como Clown e Augusto, aqui traduzidos como Clóvis e Toni, os palhaços nunca estiveram tão presentes nas produções dedicadas ao público infantil como atualmente.

Um Festival de Palhaços, em cartaz no minúsculo palco do teatro Posto Seis, com direção e texto de Dilú Melo, revela uma delicada pesquisa de sua autora sobre as cenas características dos pequenos circos que aparecem de uma hora para outra na periferia das grandes cidades, ou mesmo nas cidades do interior, preservadas ao longo dos tempos na memória de seus artistas ou passadas de uma trupe a outra pela tradição oral.

Assim o público mais atento tem a oportunidade de rever situações como a do palhaço que é acusado de ser medroso pelo resto da companhia para provar sua coragem, ele conta histórias de terror acontecidas numa sexta-feira 13, à meia – noite, num cemitério escuro, até surgir em cena uma caveira, que a princípio faz fugirem seus companheiros, ficando para ele o susto final. Ou mesmo a pantomima dos dois palhaços que fazem saltar de um livro razoavelmente fino grandes dedos coloridos, sem que se descubra o truque.

Se o espetáculo tem esses trunfos, capazes de divertir o público, e mesmo cativar sua atenção, perse muito quando abre mão de resgatar a teatralidade do circo e prefere utilizar brincadeiras muito comuns em animações de festas de aniversário ou em programas de auditório. Um exemplo é a eleição do “rei a rainha por um dia”, título conferido a criança mais aplaudida. Como em outras brincadeiras de salão, o desfecho não apresenta maiores novidades.

A pouca experiência dos atores que encenam esse festival – com exceção de Maurício Brito, que interpreta o esperto Burraldo – não impede que o espetáculo seja capaz de divertir e interessar crianças entre três e cinco anos, como as que no último domingo lotavam o teatro com sua sincera gargalhada.

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