Crítica publicada no Jornal O Globo
Por Marília Coelho Sampaio – Rio de Janeiro – 31.07.2005
Um Conto para Rosa: Cartaz do SESC Tijuca tem texto divertido, direção precisa e agrada ao público
Tema complexo, abordagem delicada
Um Conto para Rosa, em cartaz no SESC Tijuca, aborda um tema muito pertinente para o teatro infantil: a separação entre casais. Embora frequente, praticamente rotineira nos últimos anos, ela nunca deixa de abalar as crianças envolvidas na história. Neste divertido texto de Cláudia Valli, um avô recorre aos personagens dos contos de fadas para amenizar o sofrimento de sua neta de 9 anos que vive a dolorosa experiência de ver seu pai e sua mãe seguirem diferentes caminhos na vida.
Interpretação de Ludoval Campos valoriza a trama
A peça se desenrola no sótão da casa dos avós de Rosa, quando ela, já adulta, leva um possível comprador ao local. Ao relembrar passagens de sua infância, a personagem revive os encontros de Rosa ainda menina com um divertido Lobo Mau, com os medrosos Três Porquinhos, com uma bruxa psicodélica, com uma melancólica princesa e com um ingênuo príncipe. E na medida em que ela se envolve com as histórias desses personagens, acaba se esquecendo de seus próprios problemas. A surpresa maior acontece no final da trama, quando Rosa descobre que, na realidade, seu avô é o protagonista do espetáculo que acabara de assistir.
A bem-amarrada trama de Claúdia Valli é valorizada pela presença de Ludoval Campos no elenco. Versátil, bem-humorado, com bom trabalho de corpo e de voz, o ator diverte as crianças em suas diferentes aparições, com destaque para a inspirada composição do príncipe, que deixa o público completamente apaixonado pelo personagem. lne Baumann se sai bem como Rosa, assim como Otávio Reis, em suas pequenas participações, como comprador da casa e manipulador dos bonecos.
A parte técnica do espetáculo é muito bem cuidada. Em primeiro lugar, chama a atenção do público o cenário de João Gomes, que, além de reconstituir com detalhes o ambiente de um antigo sótão, está perfeitamente adequado às intervenções dos diferentes personagens na história: No figurino, Gomes também é bastante criativo, só exagerando um pouco no traje da bruxa. Pela indicação do texto, ela deveria usar “um modelito meio dark, meio gótico, meio punk”, mesmo não tendo mais idade para isso. Mas a mistura proposta pela autora acabou resultando num modelo que está muito próximo daqueles usados pelas drag-queens no carnaval, e que destoa do resto do figurino da peça.
Canções originais se destacam na peça
Luciana Maia é muito feliz na criação dos bonecos, dos adereços e das máscaras, assim como Aurélio de Simoni no desenho da iluminação, que contribui de forma especial para o clima mágico da montagem. Destacam-se ainda na peça as canções originais, com letras de Cláudia Valli e Demétrio Nicolau, e arranjos de Ricardo Leão. A direção musical, também de Nicolau, cria momentos muito divertidos, que valorizam o espetáculo.
A direção precisa e delicada, de Nara Keiserman, faz de Um Conto para Rosa uma peça muito bonita, que, mesmo tratando de um tema complexo, agrada em cheio ao público infantil.
(foto)
Rosa e o Lobo Mau: encontros no sótão amenizam sofrimento dela