Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 05.04.1998

 

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Contos eternos com uma nova linguagem

Na virada do século, ainda se discute o teatro da palavra versus o teatro da ação. O puro entretenimento, muito mal visto pelos teóricos, mas apreciadíssimo pelo público, ganhou fama de comercial e o teatro metáfora, quanto menos entendido, mais discutido. A impressão que se tem é de que o tempo parou lá nos anos 70. Tudo que foi visto, foi esquecido, e agora ressurge com ares de novidade. Esse é o teatro, com suas infinitas possibilidades. E dentro dele ainda pode acontecer alguma ousadia. Um Conto para Rosa, no Teatro do SESC da Tijuca, é um bom exemplo dessa experimentação que inclui a busca de uma nova linguagem para os eternos contos de fadas.

O texto de Cláudia Valli usa o eterno desses contos como base para uma história bem mais complexa. A trama se desenrola num antigo sótão da casa dos avós de Rosa, no momento em que a moça se encontra com um corretor para vender o imóvel. A chuva que cai na cidade acaba gerando um momento de espera num lugar tão querido, onde Rosa, agora uma moça de 22 anos, volta a ser menina de 9 anos e a se lembrar das histórias que o avô contava para minimizar a sua dor, quando seus pais se separaram. Sem se tornar por demais introspectivo, o espetáculo aborda a questão da perda, sem se abster de um invólucro atraente. Enfim, uma boa mistura.

Com apenas dois atores em cena (Ine Baumann e Ludoval Campos) se multiplicando em vários papéis, em interessante composição de personagens, a direção de Nara Kaisermann segue uma linha ágil para as situações de fantasia, baixando um pouco o ritmo nas pausas de mudança. Às vezes essas pausas se alongam além do necessário ou, como era de se esperar, as cenas de interferência de personagens tão conhecidos como os três porquinhos (feitas por manipulação de bonecos), O Lobo Mau, bruxas, príncipes e princesas, acabam sendo as mais esperadas.

Como grande atrativo, o espetáculo tem nos cenários de João Gomes um dos seus melhores trunfos. Quase realista, está no palco um sótão atemporal, com todos os detalhes imaginados de um lugar onde geralmente na ficção estão guardados os maiores segredos. Sem nenhum tom sombrio, o que seria óbvio, João Gomes consegue em cores claras passar para a plateia o aconchego do ambiente, na mesma medida em que aguça a sua curiosidade para os mistérios a desvendar. Fechando a cena intimista, Aurélio de Simoni cria os climas de intenções.

Um Conto para Rosa é um espetáculo de câmara, que pode ser visto como se os personagens alforriados dos contos de fadas embarcassem numa trama mais contemporânea e ainda assim não perdessem suas características mágicas.