Matéria publicada em Jornal não identificado
Por Maria Idalina (*) – Rio de Janeiro – 1989
Um Ano de Motin – Movimento de Teatro Infantil do Rio de Janeiro
Os espetáculos de teatro para crianças lançados no Rio de Janeiro demostram a grande versatilidade nos estilos, diversidade dos meios de produção, de pesquisa, de conhecimento de marketing e, principalmente, o que pretendem dizer às crianças.
Às vezes torna-se discutível a visão de alguns autores, diretores e técnicos que, minimizando a inteligência e sensibilidade das crianças, inventam histórias sem pé nem cabeça, inflamadas de conceitos moralistas e intimidatórios, ou de alguns encenadores que confeitam com mil artimanhas as cenas, procurando assim esconder o conteúdo superficial dos temas.
Apesar da indiferença de alguns, muitos criadores de teatro para crianças organizam alquimicamente e empresarial, e se arriscam a pesquisar a linguagem, o espaço cênico, o som e a plástica, fundido essas linguagens no processo de encenação.
Esta situação do teatro infantil não é nova; ela vem de longínquas datas e basta-se por si só, sendo oportuno lembrarmos a situação da criança numa sociedade capitalista, em parte dominada por seres racionais que não incentivam a pesquisa nem experimentam novos processo culturais. A liberdade, a espontaneidade, a brincadeira e a percepção da criança são deixadas de lado, não interessam, não devem ser levadas a sério.
Motin
Refletindo sobre essa realidade, algumas pessoas se dispuseram a diagnosticar e buscar reverter a crise. Surgiu com esse espírito, no final de 1987, o Motin (Movimento de Teatro Infantil do Rio de Janeiro), que, entre outros objetivos, pretendia por5 em discussão o esvaziamento da crítica nos jornais.
É bom citar o crítico Eric Bentley, que, analisando a função da crítica, considerava em seu Teatro engajado que “o artigo de teatro dirigia-se tanto às pessoas que estão por dentro das coisas do teatro como aos leigos que estão por fora”, levantando-se assim uma discussão sobre a influência da crítica na vida de um espetáculo. Esse conflito (a quem servir) só foi resolvido por Eric quando este decidiu seguir o exemplo de outro crítico, Stark Young, que tinha uma fórmula simples: escrever aquilo que merecia o seu próprio interesse e deixar que os leitores se arranjassem como bem entendessem.
Convictos assim que a análise técnica dos espetáculos era fundamental para discutir a qualidade das montagens e assegurar a sua sobrevivência, remeteu- se aos jornais uma carta com seiscentas assinaturas, com o propósito de sensibilizar seus editores. Embrionariamente, o movimento começou a expandir-se.
Foi endereçado em seguida um ofício às entidades, e a resposta do sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado do rio de Janeiro (SATED) foi a indicação de 28 nomes para consulta e escolha dos jurados, mais três nomes da Associação Carioca de Empresários Teatrais (ACET), o que resultou no atual júri formado por Domingo Assmar Neto, Luiz Sorel (Última Hora), Mona Lisa Bithencourt (O Dia), Magda Modesto (MOTIN), Maria Lúcia Fontoura (Fundação Nacional do Livro) e Eliana Yunes (Tribuna da Imprensa e MOTIM).
Luta
A luta prossegue: no Dia Internacional do Teatro, 27 de março de 1988, realizou-se um evento no Parque do flamengo reunindo cerca de 15 grupos e uma plateia de quase quinhentas pessoas; no Teatro da Casa de Cultura Laura Alvim foi promovido um encontro com Rita Kaufman e eliana Yunes, (ex-críticas dos jornais O Globo e Jornal do Brasil, respectivamente.
Nos teatros O Tablado e Cacilda Becker e no auditório Murilo Miranda, os grupos de teatro passaram a se encontrar para discutir teórica e comercialmente (manutenção, divulgação, etc.) seus espetáculos. A primeira providência veio com a edição do I Boletim Informativo, indicando os espetáculos em cartaz em cartaz e trazendo a síntese do texto e a ficha técnica. A divulgação desse boletim nas escolas cariocas, instituições e meios de comunicação teve grande repercussão, editando-se dois meses depois o II Boletim.
Atualmente, o pessoal do MOTIN se reúne todas as terças-feiras, às 19h, no SATED, à rua Alcindo Guanabara, 17, 5º andar, para debater assuntos da categoria; pretende-se publicar um jornal e planejar as ações de 89.
Seminário
Interessante é que, paralelamente às iniciativas do MOTIN, a Associação Paulista de Teatro para a Infância e Juventude (APTIJ), solicitando a presença das entidades, da Associação dos Produtores de Espetáculos de Diversões do Estado de São Paulo, da cooperativa Paulista de Teatro, do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado de São Paulo e da FUNDACEN, realizou em 1987 um seminário para discutir aspectos específicos de teatro para a infância e a juventude. Foram abordados os seguintes temas: normas de produção; crítica do teatro infanto-juvenil, falta de espaço para este teatro na imprensa; criação; problemas de infraestrutura, manutenção e circulação de espetáculos; palestra sobre marketing cultural; palestra sobre mídia; reunião com arte-educadores; e reunião com entidades educacionais.
A partir desse seminário, a APTIJ propôs um plano de ação, definiu as atribuições dos governos federal, estadual e municipal e passou a lutar para descobrir os meios de captar recursos dos setores privados.
É saudável, enfim, participar do entusiasmo do MOTIN e da APTIJ, e acreditar que o teatro infantil possa chegar a um porto seguro.
(*) Atriz e diretora de teatro infantil