Isabel Fillardis é a boneca de piche à frente de um elenco de 13 atores que cantam e dançam bem

Crítica publicada em O Globo – Segundo Caderno
por Marília Coelho Sampaio – Rio de Janeiro – 18.07.2004

 

 

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Turma do Pererê: Personagens de Ziraldo ganham musical de luxo no Teatro Carlos Gomes

Feliz tradução para o palco

Ziraldo diz no pro­grama da peça que o lançamento de “Pererê”, na década de 60, realizou seu sonho de publicar uma revista de histórias em quadrinhos genuinamente brasileira. Os adultos de hoje que não tiveram a chance de conhecer, naquela época, os habitantes da Mata do Fundão e suas divertidas histórias podem correr atrás do tempo perdido levando os filhos para ver o musical A Turma do Pererê adaptação de Tim Rescala para a obra de Ziraldo, em cartaz no Teatro Carlos Gomes.

No texto de Rescala, a partir de argumento de Ziraldo e Miguel Mendes, a aventura co­meça quando a personagem Tuiuiu decide trabalhar na TV, recebendo da diretora de seu primeiro programa a missão de descobrir qual é o brasileiro mais brasileiro. A partir daí, ela e a Turma do Pererê organizam uma expedição para percorrer o país inteiro e encontrar o legítimo representante do nosso povo. Além deles, também participam da viagem, escondidos, é claro, Seu Neném e Compadre Tonico. O objetivo da dupla? Matar a boa-praça onça Galileu, que também faz parte do grupo.

Como o Brasil é grande, a viagem e, consequentemente, a peça são longas. O espetáculo tem uma hora e meia de duração. Na primeira parada, a Amazônia, há todo um encantamento dos personagens com a riqueza da floresta e com o canto dos pássaros. De­pois, eles continuam seu traje­to, admirando-se com a pluralidade de Severinos no sertão nordestino, divertindo-se com bois fugitivos no Centro-Oes­te, espantando-se com a cor da pele dos habitantes do Sul, deliciando-se com o pão de queijo de Minas Gerais e re­quebrando-se num pagode no Rio de Janeiro. Só depois a turma retorna à Mata do Fundão. E embora a viagem seja muito prazerosa, ela poderia ter, uns dez minutos a menos para não cansar as crianças.

Fora a duração, o espetáculo é irretocável. O belo cenário em madeira pintada, de Danie­Ia Thomas e Patrícia Rabbat, que leva ao palco os desenhos de Ziraldo tais quais foram criados para o papel, é total­mente móvel e adaptável às regiões do país percorridas pe­los aventureiros personagens. Em conjunto com a bela iluminação de Aurélio de Simoni, a cena ganha ares poéticos, co­mo os da chuva no sertão, ou divertidos, como no momento em que os bois ficam desfilando por trás da vegetação na região pantaneira. O figurino de Rita Murtinho, muito discreto, sem nenhum exagero, traduz perfeitamente o espírito dos personagens das histórias em quadrinhos.

Trilha compõe painel da variedade musical brasileira

As músicas de Tim Rescala, com ritmos variados que vão do samba ao frevo, passando pela valsa, pelo maxixe e pela toada sertaneja, compõem um belo painel da nossa variedade musical. Todas elas são bem interpretadas pelos atores e pelos músicos, que, embora não sejam vistos pela plateia, estão no fosso diante do palco. Fazendo uma boa parceria com a música, estão as bem-humoradas coreografias de Márcia Rubin. Na realidade, todos os profissionais da ficha técnica, muito grande para se’ inteiramente citada, estão de parabéns.
O elenco reúne 13 atores que cantam, dançam e representam com desenvoltura, que é fundamental num musical. Maurício Tizumba compõe um Pererê divertido e Isabel Fillardis, uma boneca piche bem coquete – o dueto dos dois conquista merecidos aplausos da plateia no meio do espetáculo. Além dele destacam-se, em seus diferentes personagens, os talento: de Cláudia Netto, Carol Machado e André Sock.

Como diretora, Stella Miranda cria um espetáculo ágil, utilizando, entre outros recursos uma bem-sucedida projeção em vídeo, que alterna sua participação como atriz com a exibição de um desenho animado. O resultado de A turma oi Pererê é uma feliz tradução das histórias em quadrinhos de Ziraldo para o palco.