A peça conta, de um jeito especial, como surgiu o telefone


Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 06.08.1994

 

 

Barra

Surpresa alegre e cativante

Mesmo o turista mais descolado – daqueles que evitam se engajar numa excursão em sua primeira viagem a Europa e que já saem de casa sabendo que um cafezinho e uma Perrier custam o dobro do preço se não forem servidos no balcão – não pode nem de longe imaginar que a única coisa grátis que conseguirão na terra de Rimbaud é um eventual bon jour da recepcionista do Bateau Mouche, já incluído no bilhete de 30 francos. Esse mesmo turista, que acaba fugindo de programas culturais óbvios para não encontrar com outros turistas, pode se surpreender com a programação dita exotique, como por exemplo o museu de cera de Augusto Grevin, onde, ao lado de toda a história da França, estão expostas as figuras de Madonna e Michael Jackson. Mas isso não é tudo. Fazendo valer os 45 francos do ingresso, o brinde vem na forma do mais delicado teatrinho de sombras, apresentado por um veterano artista ao som de músicas francesas reconhecíveis por um público de todo o mundo.

Tudo por um Fio, evento teatral apresentado gratuitamente para os frequentadores do Museu do Telefone, e com assinatura de Cacá Moutrhé, é um espetaculinho do tipo Primeiro Mundo, capaz de cativar o público pelo inesperado. Num palco minúsculo, ilustrado por Lídia Kosovski e Ney Madeira com dois imensos livros, de onde saem os mais diversos personagens e adereços, a saga da família Bell é contada e cantada em divertidos quadros.

No palco, Dinho Valadares, Felipe Lazaris, Paula Otero e Marcelo Vianna se desdobram em vários personagens, quase clown, para contar uma história, nada didática, sobre a descoberta do telefone por Graham Bell, assim por acaso, numa dessas inspirações que acontecem nos sonhos, dos gênios e dos simples mortais.

Cacá Mourthé, que no seu último espetáculo – Passo a Passo – trabalhou com mais de 50 atores no cenário grandioso do Paço Imperial, se comporta neste pocket com o mesmo talento e competência. As músicas de Ricardo Gilly valorizam a ação, envolvendo a plateia com seu ritmo contagiante.

Para os que não acreditam em boas surpresas, Tudo por um Fio é a prova final do ver pra crer. Habilitem-se.

Tudo por um Fio está em cartaz, com entrada, no teatro do Museu do Telefone, aos sábados e domingos (16h30).

Cotação: 3 estrelas (Ótimo)