Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 05.02.2016
Pérolas do cancioneiro infantil ganham nova roupagem
Espetáculo musical da Cia. Tricromática mescla contos e cantos de forma delicada e divertida
Todo domingo de manhã, às 11h, inclusive nesta semana de carnaval, e até o dia 21 de fevereiro, permanece em cartaz, na Vila Leopoldina, em São Paulo, no Teatro UMC, o espetáculo musical Tucantaconto!, com a Cia. Tricromática. É uma atração deliciosa, que combina bem com esses dias de folia carnavalesca. Combina tanto que o teatro abriu uma sessão extra, que vai funcionar como uma espécie de matinê carnavalesca, na próxima segunda-feira, dia 8, às 15 horas. Excelente pedida para as famílias paulistanas que não viajaram.
O grupo alterna números musicais (A Hora do Canto) com contação de histórias (A Hora do Conto), de forma leve, divertida, com alguns poucos recursos de encenação teatral e uma banda ao vivo no palco, formada por Alencar Martins, Ed Encarnação, Mel Maranhão e Ronaldo Liano.
O repertório é bastante conhecido de todos, mas com arranjos inusitados e bem empolgantes. ‘Caranguejo não é peixe’, ‘Cai cai balão’, ‘Samba Lelê’ e ‘Eu entrei na roda’ são alguns dos hits infantis escolhidos. Todo mundo canta junto e pode dançar também o quanto quiser na plateia. Os contos são três: A Origem do Tambor, Quem tem medo? e O Macaco e o Hipopótamo. A Cia Tricromática foi fundada em 2009 pelos artistas Ronaldo Liano e Thaís Carvalho. Fiz três perguntas a Ronaldo, sobre sua proposta de trabalho com as crianças. Prestigiem e bom carnaval.
Crescer: Como vocês fizeram as escolhas dos três contos? O que queriam ressaltar com essas três histórias?
Ronaldo Liano: Tucantaconto! é um espetáculo que foi criado com o foco na música e no resgate das cantigas populares, de uma forma contemporânea. Na concepção, optamos por ressaltar a musicalidade nas falas, as sonoridades que acompanham as ações, os efeitos dos objetos, focando mais nos sons do que na “moral da história” tradicional das fábulas (que não deixam de estar presentes em cada conto). Porém, as fábulas selecionadas também têm um apelo imagético forte, com personagens que têm empatia com as crianças, como o sapo tocador de tambor, o porquinho medroso e o macaco que vira rei. Mais do que uma linha dramatúrgica com um tema norteador do início ao fim do espetáculo com a inserção de músicas que “casassem” com a dramaturgia e construíssem uma narrativa linear, optamos por pesquisar a junção entre show musical e teatro, transitando entre um e outro para tentar criar um macro coerente. Estamos nessa busca.
Crescer: Qual a importância da música na formação das crianças, em sua opinião?
Ronaldo Liano: Antes de responder, cito Rubem Alves: “Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música não começaria com partituras, notas e pautas. Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe contaria sobre os instrumentos que fazem a música. Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas. Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas para a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes”. Eu poderia falar sobre diversas questões. Que a música é importante por auxiliar em questões de formação cognitiva, motoras, rítmicas, sociais, lúdicas, entre outras. Que a música auxilia no processo de construção de conhecimento, que a música provoca o estímulo do raciocínio lógico-matemático quando do seu aprendizado técnico. Todos esses resultados corroborados por diversos teóricos. Porém, como artista, prefiro simplesmente acreditar que a música é um fim por si só. Não haverá necessariamente uma razão lógica para sua existência na formação da criança. Ela existe, simplesmente, porque é inerente ao ser humano. Porque faz parte da teia de referenciais subjetivos que formam nossa essência, que constroem nossa rede de afetividades e subjetividades. De uma forma ou de outra a criança receberá referenciais musicais, vindas dos pais, dos avós, dos amigos, dos pássaros, da TV, de sons aleatórios. Mas acho importante que possamos construir um universo musical rico para elas, resgatando cantigas, brincadeiras, danças e levando também mestres como Villa Lobos, Vinicius, Toquinho, Beethoven entre outros. Música é arte, e por ser arte já basta.
Crescer: Em um espetáculo como esse, a participação da plateia é fundamental. Para você, é obrigatório que o teatro para crianças seja interativo? Quais os riscos e as vantagens desse tipo de recurso que pede a atuação do público?
Ronaldo Liano: Não acredito em obrigatoriedade quando falamos de Arte. Acredito na proposta artística que está sendo levada ao palco, com suas potencialidades e fragilidades.
Propor interatividade sempre traz o risco de o público não comprar o jogo, mas ao mesmo tempo ela pode trazer o acaso, situações singulares que podem enriquecer muito a apresentação. Como quando perguntamos à criança se ela já sentiu medo, um tema recorrente no universo infantil, e que explorado, pode trazer os medos mais inusitados por parte da plateia. Creio que estamos tendo êxito nesta troca com o público. A parte interativa está mais centrada nos momentos de canções (a “Hora do Canto”), porque a música normalmente dá mais liberdade de participação da plateia. A música conduz a uma expressão em forma de dança, palmas, canto, diferente de quando estamos no momento teatral (a “Hora do Conto”). Nas partes musicais sim, acredito ser fundamental a interatividade, pois temos dois cantores-condutores que trocam diretamente com o público.
Serviço
Teatro UMC
Av. Imperatriz Leopoldina, 550 – Vila Leopoldina – São Paulo
Telefone (11) 3476-6403
Ingressos: R$ 40,00 e R$ 20,00
Domingos, às 11 h
Até 21 de fevereiro
Sessão extra de carnaval: segunda, dia 8, às 15 horas