Carlota Maria e Suli em As Tranças de Ibaê

Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 05.05.1979 

 

Barra

Uma trança forte, bonita e colorida 

Com a montagem de As Tranças de Ibaê, em cartaz no Teatro Opinião, fica mais uma vez confirmada uma das características marcantes do teatro infantil carioca: um domínio muito grande do espetáculo sobre o texto. Mesmo quando o texto procura ir um pouco mais longe que à rotina – como é o caso desta peça de Beto Coimbra e Ricardo Howat – fica sempre faltando alguma coisa. A linguagem, ainda tateante, está um tanto sofisticada.

Este também é o caso, por exemplo, de O Guerreiro de Prata, em cartaz no mesmo teatro, onde fica patente a supremacia da encenação sobre a peça. Aliás, há muitos pontos de contato entre essas duas montagens. Há uma utilização semelhante do espaço, formas enormes, músicas ao vivo dando bom clima – enfim, uma certa correspondência sonoro-visual. E um texto que procura motivar a plateia a não se entrega ás dificuldades, mostrando que o ser humano tem dentro de si as energias necessárias para transformar o sonho em realidade com o pensamento e a paixão (O Guerreiro de Prata); e para colocar uma trança mais forte, mais bonita e mais colorida no lugar da trança arrancada por insensíveis repressores.

Em As Tranças de Ibaê, o personagem quer brincar, abrir gavetas, beijar o primo (escondido). Sentindo que chegou ao fim de uma fase de aprendizado, percebe que é hora de ir, que, neste momento, o importante é seguir, mesmo tendo que abrir mão de sua casa ou de seu par eventual. Quando os personagens se separam (já que cada um sente impulsos por caminhos diferentes) há tristeza, mas há compreensão: não há conflito. E há a esperança de que o rio se junte de novo lá na frente. E quando os personagens se defrontam com os elementos repressores que não conseguem aceitar a existência de rios dentro da gente (Dentro da gente não tem rios. Tem é estômago, intestinos) eles, aparentemente derrotados, refazem a trança apreendida e estabelecem um novo ciclo.

A montagem, que contou com a coordenação de Luiz Ernesto Embassahy, trabalha com a força das imagens. Bastante criativa, a encenação conta com momentos muito bonitos: a cena do boi; a transformação do dia em noite; da noite em dia; do dia em rio. A encenação tem clima, charme, envolvimento; é visualmente alegre, musical e colorida. E utiliza máscaras, adereços e marcações para se transformar continuamente. O elenco tem o destaque em Maria Gislene: atriz que atua com simplicidade, sem artifícios, mas que transmite muita verdade, com reações precisas e comunicativas. Os demais integrantes do elenco – João Nepomuceno, Carlota Maria, Sueli e Geovan – têm um desempenho firme.

A música nos traz de volta mais uma vez a dupla Beto Coimbra – Caique Botkay que surgiu, se não me engano, compondo para o belo Histórias de Lenços e Ventos: as canções estão dentro do clima poético proposto pela montagem; e são, inclusive, responsáveis pela fixação de alguns desses climas.