Tistu, o Menino do Dedo Verde: superprodução de
Kiko Mascarenhas e Paulo César Medeiros


Crítica publicada no Jornal do Brasil
por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 10.10.2004

 

 

 

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Das armas às flores

Espetáculo bem-cuidado, Tistu trata de tema atual 

Tistu, o Menino do Dedo Ver­de está em cartaz no Teatro dos Quatro, na Gávea, numa superprodução de Kiko Mascarenhas e Paulo César Medeiros. Escrito por Maurice Druon, em 1957, a obra se tornou um clássico da literatura infantil. Tistu é um menino de família rica nascido em Mirapólvora, onde o pai é o dono da maior fábrica de ar­mas do mundo. Todos só pensam na guerra, que traz lucros. O personagem conhece a cidade e se incomoda com as condições dos que não têm dinheiro, dos que vivem na cadeia e dos animais cativos do zoológico.

Quando estoura uma guerra, Tistu resolve intervir, colocando seu “dedo verde” a favor da paz. Aí todas as armas da fábrica do pai passam a atirar flores, ao invés de balas. O espetáculo é uma pirotecnia visual. O cenário de Kiko Mascarenhas e Paulo César Medeiros foi concebido para receber a projeção da animação gráfica de Rico e Renato Vilarouca, que faz às vezes de cenário, dando um tom cinematográfico à encenação. Painéis complementam esta grande tela em que se transforma o palco. A luz, também de Paulo César Medeiros, é usada para receber a projeção.

Montagem de texto clássico exibe bela pirotecnia visual

A direção propõe para o início do espetáculo uma interpretação austera que sublinha o clima frio da cidade, enquanto a guerra é seu objetivo principal. Depois que Tistu transforma Mirapól­vora em Miraflores, os personagens também mudam e um novo clima se instala em cena. Esta quebra poderia ser até mais contundente – tanto quanto seria a transformação da guerra em paz.

Os excelentes figurinos de Ney Madeira têm uma concepção futurista que, sobre­postos às projeções, dão uma atemporalidade à encenação, reforçando a atualidade da história. O texto, adaptado por Mascarenhas, é fiel às ideias originais do escritor francês. Apenas há uma op­ção pelo contar sobre o mostrar, tendência que tem dominado os palcos infanto-juvenis. É uma opção que faz com que o espetáculo se destine a crianças um pouco maiores, que possam manter por mais tempo sua atenção no texto.

A trilha, de Caíque Botkay, sublinha discretamente os climas e as cenas cinematográficas, que dominam ó espetáculo. O elenco tem em Daniel Torres seu destaque maior. O pequeno ator consegue a empatia necessária que o personagem exige, compondo um Tistu esperto e ingênuo, vivo e doce, num resultado que encanta a plateia. Silvio Pozzato faz um Sr. Papai com toda a seriedade que o personagem pede, ao lado da Sra. Mamãe, Alexandra Richter, a quem cabe alguns dos bons momentos de humor.

Paulo Jr. manipula e inter­preta o pônei de Tistu, um boneco criado por Dudu de Andrade, que se inspira nas “burrinhas” do Nordeste, que funciona como narrador da história e interlocutor de Tistu. Trata-se de uma super­produção extremamente bem cuidada que propõe uma integração dos recursos multimídia ao teatro.