Matéria publicada na Folha de Londrina – O Jornal do Paraná
Por Joana Lopes – Londrina – 13.05.1975

Barra

Teatro Quintal: Uma Contribuição para o Teatro Infantil Brasileiro

Em Niterói, Estado do Rio de Janeiro, existe um teatro funcionando no fundo do quintal de uma casa de família. Seu nome: Teatro Quintal, em preto e abóbora, construído por um engenheiro da própria família que teve o cuidado de atender o objetivo principal do grupo que o idealizou, ou fazer um teatro que da construção ao conteúdo fosse na medida da criança. A verdade do grupo nasceu da experiência que suas organizadoras tiveram inicialmente no trabalho de educação (jardim da infância) e, desfeito este, sentiram necessidade de se reorganizarem num trabalho comum que agregasse todos os membros da família.

Crianças, adolescentes e até mesmo as avós, chamadas por todos “Vó Adila” e “Vó Branca”.

A diretoria é composta de cinco elementos (primas e irmãs) e os demais sócios são seus pois, filhos e alguns amigos da família Bedran.

Teatro Quintal e sua Contribuição para o Teatro Infantil

“Venha ver o mundo de fantasia que há lá dentro” – este é o convite do Teatro Quintal para seus espetáculos de todo domingo, às 17 horas. As atividades artísticas iniciaram-se em 16 de setembro de 1973, com textos montados em seguida foram diretoras e os mais recentes, de autoria coletiva. Wanda Bedran nos explicou sobre a linguagem do grupo que ela está marcada por um sentido de realidade aliada ao estimulo e à imaginação. “A característica marcante de nosso trabalho é o sentido do meta-teatro. Quando fazemos teatro de bonecos, conduzimos o trabalho criticamente até a revelação do processo ao espectador. A sonoplastia por exemplo, é colocada à vista do público, e tem sido feita por nossos sobrinhos que são universitários, estudantes do colegial, e até por nossas crianças menores”.

Beatriz, adolescente filha da Wanda compõe melodias, coordena o grupo que faz a sonoplastia e destaca-se como um dos elementos mais criativos de todos. A sua grande criatividade e agilidade na comunicação fizeram grande parte do sucesso do Teatro Quintal, no último Festival de Teatro Infantil e de Bonecos realizado em Curitiba, na Fundação Teatro Guaíra Violão, percussão, canto e vocalização fazem a música. No XIV congresso Internacional do Livro Infantil, o grupo apresentou um audiovisual esquematizado em torno de nossas canções de roda mais populares. Com o título “Brincando de Roda”

Prosseguindo, Wanda nos diz: “ As crianças desenharam interpretando as cantigas de roda. A montagem das cartelas para fotografias foi feita por uma das diretoras, que também programou arranjos… Os arranjos musicais foram feitos por um de nossos jovens integrantes, e a interpretação, por todo o grupo, incluindo as crianças”.

As atividades do Teatro Quintal estão ultrapassando as fronteiras do Estado do Rio de Janeiro e sua programação tem sido distribuída em espetáculos públicos e gratuitos, patrocinados por entidades governamentais, Festivais e outras apresentações, tais como o “Domingo de Fantasia”, promovido pelo Museu de Arte Moderno do Rio de Janeiro. O grupo ganhou a concorrência do SNT para a cessão da sua sala de espetáculos durante os meses de março, abril e maio montará com o auxílio do órgão, a peça vencedora do Concurso de Textos Infantis de autoria de uma de suas diretoras.

Falando um Pouco dos Jovens Integrantes do Teatro Quintal

– Em que medido é bom e negativo este trabalho artístico realizado em família?

– Na medida do bom está o senso de responsabilidade e solidariedade familiar. Na medida do negativo está a intimidade que às vezes leva a indisciplina. Nosso teatro não tem como objetivo realizar os princípios do Teatro Educação. A atividade das crianças não é um jogo dramático, mas um trabalho dirigido pelos adultos e integrado no espetáculo… fazer um “teatro-arte” para um consumidor fora dos processos correntes.

– Como prosseguirá o trabalho de vocês na medida que outros interesses e mesmo escolha profissional distanciem os atuais participantes jovens?

– Eles, como nós, fazem outras atividades; nós somos donas-de-casa, professoras, escritoras e os jovens são estudantes – um deles é o compositor e o outro, artista plástico. Só o amadurecimento poderá nos dizer quantos e quais terão o teatro como profissão. p

– Como se processam as relações entre os jovens e as crianças no decorrer do trabalho artístico?

– Os menores, como os adolescentes, revelam um comportamento normal com implicâncias, despeitos e solidariedade.

– Os integrantes do Teatro Quintal assistem a outros espetáculos que não são feitos por eles?

– Assistem criticamente a espetáculos que pressupomos serem sempre de gabarito. Os mais velhos fazem sua própria escolha.

Você tem um caleidoscópio?

Esta pergunta, que é também um convite para o espectador caminhar com o Teatro Quintal pelo mundo das cores sons e brilhos, é o título de uma das últimas criações do grupo levada para o público do Estado do Rio e também para o curitibano no último Festival de Teatro Infantil.

Com o conhecimento e a influência direta da criança, texto e espetáculo cortam a onda do teatro pedagógicos e moralista, tão usual, e mostram o que é possível fazer quando a proposta de teatro Infantil não é um mero passatempo, nem motivação para enganando, ganhar dinheiro sem esforço e sem inteligência. É um espetáculo com atores e bonecos (feitos pelas avós), onde tudo funciona com um rigor técnico de cuidados essenciais com a luz a sonoplastia e manipulação dos bonecos. Digamos que as criações do grupo são líricas, ingênuas (sensivelmente inteligentes) e o sensorial, que é estimulado, não cria um pânico visual e de sentidos com que temos presenciado muitas vezes com propostas ou intenções semelhantes a esta do “Você Tem Um Caleidoscópio”?

Com o grupo realmente alcançamos, um caleidoscópio de esperanças que gira em torno de uma renovação do Teatro Infantil.