Crítica publicada no Jornal Correio da Manhã
Por Paschoal Carlos Magno – Rio de Janeiro – 21.10.1948

O “Rei” de O Casaco Encantado

Será hoje repetida às 14 e 16 horas a deliciosa fantasia em três atos O Casaco Encantado, de Lúcia Benedetti, que foi escrita especialmente para as crianças e encenada pelos “Artistas Unidos” no Ginástico.

Com direção segura do Sr. Graça Melo, cenários e figurinos de efeito executados pelo Sr. Nilson Pena, música do maestro Mazaranni, O Casaco Encantado inaugurou no Brasil o teatro para crianças com intérpretes adultos.

As Sras. Henriette Morineau, Maria Castro, Flora May, Nieta Junqueira, Lucile Perrone e os Srs. Graça Melo, A. Fregolente, Dary Reis, Jacy Campos, Orlando Guy dão à peça brilho singular de sua interpretação.

Faço porém, questão de destacar a contribuição do ator Jacy Campos no papel de “Rei”. E por quê? Porque a Sra. Henriete Morineau, que está realmente esplêndida na “Bruxa”, frequentou o Conservatório Dramático de Paris, teve a experiência de haver trabalhado sob a direção ilustre de Lambert e Jouvet, anos e anos de aprendizado e triunfo cênico. O Sr. Graça Melo, antes de ingressar no elenco de “Os Artistas Unidos”, já se firmara como um dos nossos grandes atores. O Sr. Dary Reis há dois anos iniciou sua carreira e, neste curto período de tempo, à custa de esforço, trabalho, perseverança, alargou seu lugar ao sol. Quanto às Sras. Maria Castro e Flora May, conhecedoras de todos os segredos da sua arte, os papéis que apresentam em O Casaco Encantado, respectivamente da “Avozinha” e “Princesa” são um brinquedo nas suas mãos privilegiadas. O Sr. Fregolente, que foi aluno da Escola Dramática da Prefeitura, muito aprendeu ali, como nos ensaios do “Teatro do Estudante”, sob a direção de D. Éster Leão e dos Srs. Hoffman Harnisch e Hans Sachs. Com o imenso talento que possui, quando surgiu definitivamente como profissional em “Medeia” foi para colocar-se entre nossos melhores atores. Em O Casaco Encantado a colaboração dos Srs. Orlando Guy e Nilson Pena, mas feita com grande honestidade. A parte das Sras. Nieta Junqueiro e Lucile Perrone simplesmente decorativa.

Por tudo isso justifica o entusiasmo que despertou o Sr. Jacy Campos como “Rei”. Não frequentou nenhuma escola dramática. Não tem anos de experiência teatral. É este seu quarto papel. Surgiu no “Teatro do Estudante” como assistente de direção. Depois, numa pequena parte em “A Castro”. Está no teatro, como profissional, há seis meses. Mas seu “Rei” em O Casaco Encantado merece os louvores que lhe tributaram os críticos e os espectadores. A composição do tipo que lhe foi dado apresentar, tornou-o irreconhecível a seus amigos mais íntimos. Por obra de sua caracterização chegou até a modificar, de maneira admirável, sua voz e seu andar.

Box

O “Creon” admirável de “Medeia” representará esta tarde, no Ginástico, o alfaiate João que o bruxo transforma em “Sapo”. Domingo último a criançada que enchia o Ginástico o aplaudiu com entusiasmo. Depois do espetáculo, o palco ficou repleto de meninos, caçadores de autógrafos, que queriam ver de perto seus artistas. Um deles se aproximou de Fregolente. Perguntou-lhe então com um sopro de voz: Você sofre muito quando vira sapo, sofre? Antes que Fregolente pudesse dizer alguma coisa: – Eu estava com muita pena de você. Mas você é muito engraçado como sapo, sabe?