Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 20.06.1976

Barra

A (má) visita argentina

Parece-me que esta é a questão mais importante a ser levantada; o Teatro Experimental de Máscaras e Objetos veio ao Brasil com seus próprios recursos, ou foi patrocinado por alguém? E, tendo sido patrocinado, pergunto ainda: por quê?

Não que o espetáculo apresentado seja detestável, perigoso ou de mau gosto. Ele é… simplesmente, inexpressivo. Pelo que mostram, os irmãos Alfredo e Luis Portílios deveriam ter evitado cansativas viagens: poderiam ter ficado na Argentina.

O mais engraçado disso tudo é a maneira como eles se apresentam à imprensa, no release distribuído, uma semana antes do espetáculo. Cito alguns trechos: “Na versão infantil predomina o clima de circo; “a iluminação é feita de velas e tochas”; “os atores de negro, em contraste com os bonecos bastantes coloridos”; “trabalham dentro do conceito de arte pobre”, com um mínimo indispensável de elementos, para que não seja dificultada ou impossibilitada a sua realização (o grito é meu e já explico porque); “depois do encontro com Grotowski, romperam com o teatro convencional, partindo para o teatro experimental.”

Muito bem. Conclui-se facilmente que o release anuncia uma coisa e o espetáculo mostra outra. Não há clima de circo (aliás, o que não há é clima algum); a iluminação feita de velas é meramente decorativa, não tendo qualquer importância na dinâmica do espetáculo e nem em sua expressividade a luz de velas tem toda a sua força (nada original, diga-se de passagem) esmaecida porque permanecem acessas as luzes da plateia; os bonecos não têm tal colorido que marque que sua presença e que consiga vencer o peso visual das roupas negras; e finalmente uma observação sobre o encontro grotowskiano; pobre Grotowski! Também na Argentina são cometidos crimes em teu nome. É um primor tudo isso porque eles mesmos se entregam no release, quando afirmam que o assumido teatro pobre não é consequência de uma filosofia de espetáculo e sim para que não seja dificultada ou impossibilitada a sua realização. E isso é verdade: o espetáculo parece mesmo ter se sido embalado para viagem.

Acrescente-se a isso a dificuldade de se entender o texto gravado; e a postura demasiadamente exteriorizada dos atores levando a uma comunicação muito dura. As crianças, entretanto se divertiram muito e se soltaram, apesar do estilo formal e falsamente à vontade dos intérpretes. Ao final, percebe-se que os argentinos não estão fazendo um espetáculo teatral; estão propondo um exercício de participação das crianças numa brincadeira. Se existe um estímulo à criatividade em alguns momentos (a menina com a maçã/ a hora de desenhar), em outros, há apenas atos gratuitos (distribuição de máscaras e pássaros de papel) ou de participação meramente física (ajudar a carregar a escada). De qualquer forma, o que fica bem nítido é que o teatro infantil brasileiro pouco teve a ganhar com essa visita. Só espero que não tenha havido desperdício de dinheiro que poderia ter sido usado para auxiliar um grupo nacional. Ou importar um bom grupo estrangeiro.