Há pouco tempo, no próprio GLOBO, encomendaram-me uns textos para engordar uma reportagem sobre teatro infantil, capa de uns dos suplementos chamados jornais de bairros. A reportagem estava sendo elaborada a partir de um motivo nobre: as férias escolares, aquele fatídico período em que os adultos não sabem o que fazer com as crianças que quicam pelos cantos da casa, esbanjando energia. Seria um texto analítico sobre a temporada teatral em vigor na cidade. Mas comecei a pensar cá com meus botões e concluí que isso já seria bastante abordado no restante da reportagem. Matutando, matutando – sou mineira, gosto de fazer isso – procurei imaginar o que seria importante falar a este montão de pais, público-alvo daquele jornal.
De repente a questão me surgiu, como num grande estalo. Mais do que destacar uma ou outra peça importante seria mostrar como aqueles pais são fundamentais para o crescimento do bom teatro dedicado às suas crianças. Mais do que qualquer coisa, queria falar da parte que lhes cabia neste latifúndio. Terra que começa a ser arada justamente na hora em que eles decidem o que fazer com as crianças. Mais do que qualquer coisa, queria falar com as crianças, estejam elas de férias ou não. Como? É simples: lembrava eu de como a maioria dos pais escolhe o “teatrinho” do fim de semana. A palavra é essa mesmo, “teatrinho”. E a desvalorização já começa no nome, diminutivo tão carinhoso quanto pejorativo para uma arte que já mostrou ter o seu próprio valor em muitas regiões do país. Poucos se dão ao trabalho de saber mais sobre os espetáculos em questão. É verdade que nem sempre os jornais e revistas trazem informações suficientes para esclarecer os pais. Mas já trazem muito mais do que há alguns anos, quando o teatro infantil, salvo raríssimas exceções, até merecia mesmo ser chamado de teatrinho. Aliás, por conta dele muitos pais passaram a encarar uma ida ao teatro como uma sessão de tortura dominical.
Mas dizia eu que esse teatrinho cresceu e já ostentava nome e sobrenome através de profissionais (e listava muitos deles em atividades no Rio) que engrandeceram essa arte, provando que criança gosta mesmo é de qualidade. A garotada pode até gargalhar com historinhas bobas contadas por um bando de profissionais que parecem animadores de festas infantis. Mas duvido que elas guardarão na memória o que acabaram de ver por mais do que algumas horas.
É mais do que evidente que o bem teatro tem que crescer junto com a criança, despertando-a para muitas outras artes, da música à dança, das plásticas à história geral. E existe este bom teatro. Basta um pouquinho de atenção e paciência, ou um bom bate-papo com outras mães e pais, para encontrar o mapa da mina. O que não dá é para encarar uma sessão de teatro como um descanso provisório da labuta (pa) materna ou para os filhos e isso é um bom termômetro. Neste caso, também é melhor anotar nome e sobrenome e tomar mais cuidado da próxima vez.
Teatro é diversão, teatro é cultura, teatro é enriquecimento. Profissionais desta arte têm que fazer por merecer cada vez mais respeito por parte do seu público. E se cada um fizer direito o seu trabalho – um no palco e outro fiscalizando – esse programa que já é legal só tende a melhorar. E crescer. E provar cada vez mais que há muito tempo já deixou de ser apenas um “teatrinho”.
Mãnya Millen
Critica e repórter do Jornal O GLOBO
Obs.
Texto retirado da Revista FENATIB, referente ao 1º Festival Nacional de Teatro Infantil de Blumenau (1997)