O Rinoceronte Careca, um espetáculo infanto-juvenil

Matéria publicada no Diário Popular
Sem identificação – São Paulo – 23.08.1986

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No TBC, um Teatro do Absurdo para as Crianças e os Jovens

Um “Teatro do Absurdo” infanto-juvenil talvez seja uma boa classificação para a peça O Rinoceronte Careca que estreou sábado passado no TBC, na Sala 3 Arte. Texto de Marco Ghilardi, dirigido por José Ferro, o espetáculo é recomendado para crianças maiores de 5 anos, pois trabalha com os “absurdos” da vida quotidiana e das instituições.

No elenco, Ana Luiza Lacombe, Armando Tiraboschi, Cyrano Rosalém, Dirce Carvalho, Eleonora Rocha, Hélio Zachi e Mayara Norbim. O cenário e os figurinos são de Ary Ribeiro Jr., a coreografia e a preparação corporal de Leila Garcia e os adereços de Ana Luiza Lacombe. Julia Flávia d’Affonseca é a responsável pela trilha sonora, a iluminação Fernando Wagner e o cenotécnico é Dilson Bezerra. A produção é da Cia. de Teatro Vento Forte.

Autor

Para Marco Ghilardi, autor, O Rinoceronte Careca é uma “anti-pecinha”, para todas as idades, que pretende mostrar a trajetória, espacial e temporal, de um balão cor-de-rosa, cuja mecha, acesa na infância, vai sendo consumida com o passar dos anos, pelos ares da estupidez e da hipocrisia sociais.

O teatro proposto em O Rinoceronte Careca pode e deve ser assistido por crianças, jovens e adultos (corajosos), porque, no contexto, está inserida a preocupação de provocar um diálogo entre essas diferenças, faixas etárias e estatutárias.

Colocando dois casais em cena, com seus respectivos filhos (um menino e uma menina) e uma criada servindo as duas casas ao mesmo tempo, Marco Ghilardi vai desdobrando essas personagens em outras, numa tentativa de mostrar a ordem da família e a desordem do mundo e vice-versa. Assim vão surgindo em cena: professores, bedéis, autoridades, outras gerações, tudo isso diante da aparente mansidão biológica das crianças e da, igualmente, aparente subserviência da criada, uma espécie de Mulher Maravilha. O Rinoceronte Careca é, antes de tudo, um jogo cênico de expressões verbais e corporais que tentam se harmonizar e que procuram, insistentemente, uma linguagem teatral eficiente.

Se em Ionesco, o mago do teatro do absurdo, a preocupação é esvaziar o sentido latente da palavra, no Rinoceronte Careca, Marco Ghilardi se preocupou em procurar o sentido do sem-sentido. Nessa busca as personagens resultaram cômicas, especialmente diante dos olhos das crianças e dos jovens, sempre atentos, ainda que muita gente duvide, ao desenrolar das sensações e emoções que o teatro coloca no palco.

O Diretor

Para José Ferro, diretor, O Rinoceronte Careca é uma brincadeira, um jogo teatral onde o autor satiriza ou ironiza, bem humoradamente, as relações: criança/família e criança/escola.

José Ferro seguiu na montagem a linha do teatro-jogo, a representação no sentido do “to play” – o ato de representar como expressão da vivacidade e do bom humor. O jogo – não no sentido: vitória/derrota – mas no de acréscimo mútuo. O jogo de cena; o jogo de palavras.

Assim, a peça pode assumir, em alguns momentos, um sentido absoluto, como pode, em outros, ser totalmente desprovida dele, sem, entretanto isentá-la de significados, de símbolos, de signos.

Carol e Júnior, filhos de dois casais tradicionais, tentam reinventar, pela experimentação, e com ajuda de Mary Ervilha – uma espécie de fada, maga, doméstica – uma nova maneira de relacionar-se entre si, e com o mundo, percorrendo um caminho que vai da infância até a maturidade.

Um espetáculo como diz o autor: “para crianças, jovens e adultos (corajosos)”.

O Rinoceronte Careca ficará em cartaz no TBC, à Rua Major Diogo, 311 (fones: 34-5523 e 36-4408), até o mês de dezembro, com apresentações aos sábados, às 16:00, e domingos, às 14:30 e 16:00. Os ingressos custam Cz$ 40,00.