Crítica publicada no Jornal O Globo
Por Rita Kauffman – Rio de Janeiro – 27.04.1984

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Uma Estreia com o Pé Direito

Oriundo do Grupo Navegando, de Lucia Coelho, Fabio Pilar, que dirige o Tá na Hora, Tá na Hora (mesmo nome do espetáculo em cartaz no Villa-Lobos), demonstra nessa estreia que não só aprendeu bem a lição de teatro de sua iniciadora como também absorveu-lhe o tratamento digno e respeitoso com que encara o público infantil. Com base no rico texto coletivo do Navegando, um dos méritos dessa montagem é ser completamente diferente da original apresentada há anos: O que se coloca em cena são abordagens sobre o ser humano e sobre o artista propriamente, numa trama em que a base e um circo.

Os personagens são apresentados com leveza e fluidez, apesar de ficar evidente o papel do dono do circo de representar a autoridade prepotente, que explora os mais modestos simbolizando seus artistas qualquer grupo oprimido e maltratado. A comunicabilidade com a plateia é completa: as crianças não perdoam o mau­ caráter e lhe dão uma vaia no final. O espetáculo é visualmente muito bonito, tem uma iluminação eficiente (Roberto Santos) e os pitorescos bonecos de Mônica Serpa (apresentou recentemente Brotinho por Natureza, também com bonecos muito atraentes e Fábio Pilar) chegam a se constituir em verdadeiros achados cômicos como a saparia, os cavalinhos e a cantora vaidosa e desafinada.

Muito interessante, também, é a colocação dos bonequeiros que ora aparecem de corpo inteiro, ora como bonecos e às vezes com o corpo parcialmente coberto; a criança percebe claramente que os bonecos não têm vida própria, que por trás de cada boneco há um artista que o anima. Ao ter optado por essa linguagem, Fabio Pilar valoriza a profissão do ator, mostrando sua importância na realização de um espetáculo; envolto nas boas musicas de Caíque Botkay e Charles Kahn, o Tá na Hora, Tá na Hora mantém o equilíbrio entre fantasia e realidade, sem tapear Ia criança: ela aceita com naturalidade 0 boneco e respeita o ator.

Dois momentos bonitos que vale mencionar: a construção do circo, logo no inicio e a entrada no baú, ao final. O clima de magia se completa no momento em que o ultimo ator some no baú e o primeiro já esta em cena para agradecer os calorosos aplausos, certamente bem merecidos.