Crítica publicada no Jornal da Tarde
Por Clóvis Garcia – São Paulo – 17.03.1987

Barra

Um conto de fadas moderno. E boa diversão

O Grupo Kin-kã de Teatro Infantil é o mais novo conjunto dedicado ao público jovem, estreando seu primeiro espetáculo no Centro cultural são Paulo (sala Paulo Emílio), onde ficará até o fim do mês. É um grupo formado por descendentes de japoneses e de outras origens, todos brasileiros, daí o nome adotado. Kin-kã é uma pequena laranja cultivada no Brasil pelos imigrantes nipônicos, híbrida. Claro que nos lembramos imediatamente do Grupo Pon-kã, que no ano passado ganhou uma indicação do Mambembe, apresentando uma pesquisa teatral de síntese da linguagem oriental e das formas de expressão ocidentais, especialmente do gestual. O Grupo Kin-kã é formado por vários elementos participantes do Pon-kã, com uma proposta semelhante dirigida às crianças e aos adolescentes.

Sorve Star – Uma Viagem Intergelática (intergelática mesmo, de gelo), de Celso Saiki, é uma espécie de conto de fadas moderno. Os contos de fada, como sabemos, eram histórias medievais para adultos. O racionalismo dos últimos séculos relegou esses relatos às crianças, já que o fantástico não poderia combinar com a seriedade burguesa. No nosso século, porém, surgiu a ficção científica para suprir essa necessidade de fantasia, interessando aos adultos, adolescentes e atingindo as crianças, tanto mais que a realidade vem alcançando o que parecia ser apenas imaginação. No caso de Sorve Star, a viagem dos meninos Sérgio e Patty a um planeta gelado em guerra com o planeta quente, se faz sem os dados científicos mas pelo encantamento, como nos melhores contos de fada. Naturalmente o conflito é estabelecido porque vindos de um planeta em que há calor, são confundidos com espiões, agravada a situação pela invasão do rei Kika. Estabelecem-se várias confusões até a solução do conflito, com a volta dos meninos a sua realidade familiar.

A direção de Celso Saiki procurou integrar, dentro da linha proposta pelo grupo, a representação dramática com a mímica e a dança. Com direção musical de Gustavo Kurlat, músicas de José Victor, e a coreografia de Carlos Barreto e Milton Tanaka, o espetáculo decorre num clima de diversão, com elementos de farsa. Naturalmente, na estreia, ainda o ritmo certo não foi encontrado, devendo ajustar-se ao longo das representações, ganhando maior dinamismo.

O visual, além da dança e da mímica, se apoia nos figurinos de Milton Tanaka, com a utilização da qualidade expressiva das cores vermelha e azul. A cenografia está um pouco simplificada, pois a característica da encenação exigiria cenários mais elaborados, faltando um cenógrafo ao grupo. E elenco porém, supre essa falta com vitalidade e entusiasmo.