Cena de Sonho de Uma Noite de
Verão 

Crítica publicada no Jornal do Commercio
por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 1997

 

 

 

Barra

Sonho de Uma Noite de Verão

Shakespeare não está no Jardim Botânico, mas em compensação encontramos um estóico grupo de jovens atores que procuram viabilizar suas carreiras de atores.

A Companhia de Teatro Bellatrix é formada por um grupo de jovens atores, recém-saídos da UNI-Rio, que fazem o seu espetáculo em meio ao Parque do Jardim Botânico, próximo ao lago das fadas, com uma produção mínima, e ao final passam um chapéu. Sem camarins, tablados ou quaisquer recursos, os atores, despojadamente, ocupam o espaço que conquistaram para exercitar o seu oficio. Este é sem dúvida o maior mérito da companhia.

A escolha de Shakespeare é, ao mesmo tempo que audaciosa, intuitivamente talvez a mais correta. As intrigas de Shakespeare são bem estruturadas, e a trama sempre cativa a atenção de seu público primeiro: o povo. Quanto a isto a Companhia Bellatrix se sai muito bem, pois o público mirim a que se destina o espetáculo acompanha atentamente a trama, participa, interage, enfim, se diverte, com absoluta compreensão do espetáculo. Falta, com certeza para ser realmente Shakespeare, todo o resto – a poesia, a sutileza, a compreensão e discussão em cena, mais profunda, sobre a natureza humana etc, etc, etc. Mas cumpre uma função: as crianças entendem a história, param seu passeio em meio ao parque para ver teatro, o grupo de atores, talentosos, exercita o seu ofício, num trabalho quase amador, pois não se cobra bilheteria, o que se pede é uma ajuda ao final do espetáculo, numa produção que atende ao mínimo do necessário para estar ali. E o retrato das possibilidades do teatro para iniciantes do Terceiro Mundo. A necessidade orgânica de exercer sua profissão descobre e abre novos espaços.

Do elenco destaquem-se o talento e a presença histriônica e bem dosada de Tarlia Laranjeira no papel de Helena. Na verdade, os atores se ressentem de uma direção; cada um exercita o seu ator, a sua maneira, o que faz o espetáculo não ter uma unidade. Vai da chanchada ao teatro de rua, passando por todos os tons e semitons. A direção é coletiva, e um primeiro passo para o crescimento da companhia talvez fosse exatamente este: uma direção mais atuante e segura.

É, no entanto, apesar destes percalços naturais, uma experiência produtiva, que cumpre sua missão primeira: distrair o público.