Crítica publicada no Jornal do Brasil
Por Lucia Cerrone, Rio de Janeiro – 11.01.1992

 

Barra

Magia sem efeitos especiais

Talvez os teóricos tenham uma boa explicação para tudo isso, mas o certo é que, aqui ou em Bombaim, um ator adquire certa respeitabilidade se tem em seus créditos alguma montagem shakespeariana. Os biografados que, aos poucos, chegam as nossas livrarias, em determinado momento de suas carreiras largam – mesmo que por breve tempo – os milhões de dólares do cinema da Califórnia e embarcam em turnês com uma ou duas peças do autor inglês, ou vão com ele aos festivais de verão. Os mais centrados procuravam diretamente o Old Vic, em Londres, um templo de Shakespeare.

O cinema, indústria sem ressentimentos, retribui a gentileza, quando fala do teatro, e quase sempre tem nas telas alguém representando Sonho de uma Noite de Verão. Assim acontece com A Malvada da Bette Davis, quando a peça só é citada, ou mais recentemente em Sociedade dos Poetas Mortos, quando está literalmente em cena.

O Sonho, em cartaz no Teatro da UFF, em Niterói, é uma cuidadosa versão dedicada às crianças. A concepção de espetáculo, de Célia Bispo e Roberto Dória, trazem ao publico infantil um pouco da magia perdida, sem utilizar nenhum efeito especial que não seja a perfeita ambientação do bosque cheio de fadas, duendes e elfos onde se desenrolam as deliciosas situações.

Célia e Beto, também autores da adaptação, trazem a cena a Cia. Teatral Nosconosco, formada por atores iniciantes, que, talvez por inexperiência, comprometam, vez por outra, o ritmo da encenação. Ressalva seja feita, a trupe mambembe, que no enredo original representa uma peça dentro da outra (A Mui Trágica História de Piramo e Tisbe), destacando-se as atuações de Flávia Reis, como Filostrato, e da excelente atriz Fernanda Badaue, no seu engraçadíssimo Novelo. O restante do elenco revela uma frágil interpretação. Os diretores, no entanto, se valeram acima de tudo da qualidade do texto apresentado e imprimiram ao espetáculo que assinam uma agilidade capaz de superar essas deficiências.

Cercados por uma produção que inclui na sua ficha técnica músicas da sempre bem-vinda Bia Bedran, Sonho de uma Noite de Verão é um espetáculo harmônico com todas as possibilidades de cativar o público a que foi dedicado.

Cotação: 2 estrelas ( bom )