Crítica publicada no Site Pecinha é a Vovozinha
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 14.06.2018

Fotos: Laércio Luz

Poderia vir a ser bom, mas peca pela inconsistência

Erro mais grave de Somos Todos Tão Jovens é a dramaturgia rasa que não aprofunda os temas, apenas reforça clichês e frases de efeito.

Conseguir falar com e para os jovens no teatro é um caso sério. Não basta que os temas sejam do universo teen. É preciso que seja bom teatro, também, senão isso afasta o potencial público que já não se interessa pelas atrações de teatro infantil e ainda não se ligou no hábito de ir às peças do horário noturno. Por isso, cada vez que entra em cartaz um espetáculo de temática jovem, retratando a juventude contemporânea, o motivo é de comemoração – mas também de apreensão. O tiro pode sair pela culatra.

Falo isso a propósito de Somos Todos Tão Jovens, em cartaz no Teatro Nair Bello, do Shopping Frei Caneca. Fui com toda a expectativa e saí arrasado, triste até, sem conseguir aplaudir, porque não é algo que eu possa recomendar. Há um esforço de produção, música ao vivo, elenco numeroso, cenário realista cheio de detalhes, mas… o problema está no texto.

Até Malhação, ícone da dramaturgia para jovens na Rede Globo há décadas, já saiu do raso há tempos, já não faz mais tramas tão simplistas e desinteressantes quanto esta peça de Vinicius de Oliveira. Seu texto, sim, é um texto raso. Nada se aprofunda. Os diálogos são pobres, repletos de clichês, não surpreendem em nada. Isso prejudica tudo, pois a direção – por mais que se esforce – não consegue salvar a peça (e o esforço da direção de Ricardo Grasson é visível). Não resolve apenas colocar microfones com pedestal e tentar fugir um pouco do naturalismo boboca impregnado no texto. Virou aqui um recurso forçado, claramente um subterfúgio, um artifício, uma tentativa da direção em resolver a inconsistência da dramaturgia. Inútil.  Também há trocas de cenas que são morosas, desnecessariamente ralentadas. É uma direção que chega a ser suja, no sentido de que há sobras demais que precisariam ser enxugadas, revisadas.

O assunto é jovem, os personagens são jovens, mas a trama é pífia, boba, casaizinhos gays em crises que o texto deixa infantilóides, uma moçada vazia praticando bullying de jardim de infância, em um clima underground que fica só no meio do caminho, uma homofobia de mesa de bar, sem o peso que o assunto merece. Poderia, sim, virar um retrato de uma época, de uma geração. Mas não com esse texto que não se aprofunda em nada nos conflitos, não desenvolve os personagens a contento, não traz um mínimo que seja de inovação, não surpreende pela inteligência, pela estrutura, por uma sacada que fosse, algum grande achado. Não. Ao contrário, fica no fácil. Teatro deveria ser bem mais do que isso, pra não virar uma sucessão de minutos intermináveis. O elenco é quase todo novato, sem carisma, sem potência para salvar na interpretação as obviedades do texto. Viram jovens apenas estereotipados, caricaturais – mas se levando muito a sério, em vez de ao menos tentarem arrancar algum humor como forma de denúncia, já que o texto, sozinho, não dá conta.

Um outro grande equívoco é a música. De novo, parece que a direção quis colocar três músicos em cena o tempo todo para ajudarem a contornar os problemas de ritmo da dramaturgia. Porém, há tempos eu não penava tanto na poltrona com uma trilha ao vivo tão monótona, cansativa, sem intenção. Não basta ter guitarra ou baixo ou bateria, para atrair a juventude, se o som que a ‘banda’ fará será maçante, repetitivo, apenas como música de fundo, sem diálogo com as cenas. No final, quando o elenco vem à frente para cantar Renato Russo, já é tarde demais para a gente se esquecer de tantos equívocos. Pena. Ao final, claro, a plateia se levanta e bate palmas de pé – e isso nada mais significa para o teatro brasileiro. Eis uma atração que vai passar sem fazer a menor diferença. Que, ao menos, passe logo. Que venha a próxima tentativa. Os jovens merecem mais talento, menos superficialidade.

Serviço

Teatro Nair Bello
Shopping Frei Caneca, Rua Frei Caneca, 569, 3º piso, Consolação, São Paulo
Telefone: (11) 3472-2414
Capacidade: 201 lugares
Duração: 70 minutos
Recomendado para maiores de 14 anos
Ingressos: R$ 60,00 e R$ 30,00 (meia-entrada)
Temporada: Sextas-feiras às 21 horas, sábados às 20 horas e domingos às 19 horas
Até 8 de julho