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Os adultos são tão sérios, cheios de máscaras, preconceitos e regras… Se pudéssemos crescer sem perder a espontaneidade e o espírito de liberdade da criança, com certeza, teríamos adultos menos doentes no mundo.

Gabriela Dominguez

O Festival Nacional de Teatro Infantil de Blumenau (FENATIB) nasceu em 1997 “da necessidade de se criar um espaço de reflexão do fazer teatral para criança”, escreveu sua mentora e organizadora, Maria Teresinha Heimann, na revista publicada no ano seguinte para documentar e, com efeito, sem querer fazer jogo de palavras e já o fazendo, refletira importância daquele acontecimento que a Fundação Cultural de Blumenau inaugurava.

“Descentralização cultural”, “arte nos bairros”, “acesso cultural”, “formação de plateia”… Sobre esses e outros temas ligados ao Festival e às ações da Fundação, Teresinha Heimann discorreu, nos documentos impressos nas revistas editadas a cada novo Festival, com o conhecimento que a prática lhe conferia. De forma especial, quando, respondendo à questão Porque o FENATIB?, escreveu o prólogo de O teatro dito infantil, edição comemorativa, lançada em 2003, e que foi organizada por Maria Helena Kúhner. Um livro memória do Festival que reuniu ensaios, artigos, transcrições dos debates e das palestras proferidas pelos profissionais que, ao longo de seis edições, tinham concorrido, até então, o FENATIB.

Agora, completos oito anos de celebrações, reflexões, atuações e ações, pode-se afirmar que quem ganhou com o FENATIB foi Blumenau e nós, gente de teatro, artistas, técnicos, educadores, que tivemos o privilégio de contribuir, em alguma medida, para a construção desse rico processo.

De forma especial, ganhou o público da cidade, em particular suas crianças e adolescentes, os principais personagens dos acontecimentos, nos quais atuaram sobre suas mentes, sonhos, corações e imaginação. Para alguns, de uma maneira menos consciente e, para outros, de um jeito mais decisivo e presente, como aconteceu com Gabriela Dominguez (17 anos), Mariliz Schrickte (17 anos) e Douglas Davidoski (17 anos).

Formação de plateia também quer dizer formação de gente, e de gente de teatro, profissionais da arte: atores, autores, sonoplastas, figurinistas, cenógrafos etc. Quer dizer formação de cidadãos e cidadãs.

O espetáculo Sobre Patativas e Corujas – Pra quem viu e não Pede Segredo (texto, sonoplastia e direção de Gabriela Dominguez) foi o grande presente que a Cia de Triato entregou ao público do oitavo FENATIB, numa demonstração VIVA de que o Festival estava, naquele momento, sendo coroado da maneira mais plena e sensível que os idos de 1997 poderiam prever ou imaginar.

Do lugar de onde vimos nascer e florescer o FENATIB, Ana, João e Nina compõem certamente, de forma emblemática, os seus protagonistas. Foi na Lona do Circo da Fundação Cultural que, com a colaboração de Leandro de Assis, o público se fez presente aos três espetáculos da Cia de Triato celebrou, em agosto de 2004, as cenas armadas por aqueles três jovens atores: Gabriela, Mariliz e Douglas.

Eles não pediram segredo, e eu não me fiz de rogado!

Quem dançou com aquelas cirandas e se encantou com os versos de Patativa do Assaré, também não quer segredo! Ao contrário, todos nós queremos que esta história tenha continuidade na voz de seus próprios autores:

“A primeira peça a gente nunca esquece… Num dos primeiros festivais, assisti Uma Professora muito Maluquinha, montada pelo grupo Real Fantasia / MG. Já era apaixonada pelo Ziraldo e, ao ver sua obra ganhando vida foi um momento mágico!”.

Hoje, ao apresentar nossa peça, vejo nas crianças da plateia a “Gabriela” de 8 anos atrás…

Nossa experiência como espectador nos deixa a preocupação de agradar as crianças, de fazer um trabalho que as encante, exatamente como nós ficávamos ao ver um bom espetáculo.

Quando viajei para a Paraíba, em Janeiro deste ano, fiquei realmente encantada com tudo o que vi. O folclore do nordeste é apaixonante, mágico. Ao me deparar com tanta coisa linda, achei que era algo a ser mais explorado por nós, aqui do sul. O grupo estava com propósitos de começar um novo trabalho, e através da minha viajem, encontrei o tema da nossa peça. A alegria, o colorido e as lendas tinham tudo a ver com uma infância que há algum tempo anda esquecida, que é sentar no chão, contar, ouvir e viver histórias e o mais importante, CRIAR sua própria maneira de brincar, sem precisar apelar aos eletrônicos…

Às vezes, me pergunto por quê escolhi o teatro como profissão. Ainda não encontrei uma resposta totalmente concreta, mas uma opção plausível que encontrei foi de que eu tenho muitas saudades da minha infância. Onde eu podia criar meu mundo de possibilidades consideradas irreais pelos adultos, ou seja, brincar de faz de conta (muito faz de verdade em minha opinião!)

O tempo foi passando, mas a necessidade de viver coisas diferentes não passou. Inconscientemente, encontrei no teatro um meio de continuar a brincar, de viver em mundos diferentes.

Obviamente que cada um de nós tem suas razões para estar no grupo. Mas com certeza a influência destes 8 anos como plateia do FENATIB foi um ponto em comum na nossa paixão pelo teatro infantil.

Pra falar bem a verdade, não abandonamos nossa infância, apenas a agregamos ao começo da nossa vida adulta”.

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Eduardo Montagnari
Professor de Sociologia e Diretor de Teatro na Universidade Estadual de Maringá. Doutor em Sociologia pela Unesp/Araraquara e com Pós-Doutorado em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp.

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Obs.
Texto retirado da Revista FENATIB, referente ao 8º e 9º Festival Nacional de Teatro Infantil de Blumenau (2004 e 2005)