Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 28.11.1999

 

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Atores favoritos

Sobe o pano, peça em cartaz no Teatro Glória, é um pocket de pouco mais de 40 minutos dedicado ao público infantil. Por uma dessas ironias do destino, a plateia adulta comparece em massa, sem ao menos se dar ao trabalho de levar a reboque uma criança/ disfarce. As razões não são poucas; na visita guiada desse espetáculo itinerante, Marcelo Serrado e Cláudia Rodrigues, dois atores de personagem de sucesso na TV, dão ao público a oportunidade não só de ver seus astros bem de perto, mas de estar com eles na mesma cena. Melhor Impossível.

O espetáculo, que nos corredores da sala de espera do teatro, tem prólogo um tanto longo para espaço tão desconfortável. Mesmo assim, a plateia que por lá se amontoa não se importa de nem mesmo estar vendo os atores e só ouvir o texto. Já sabe que o espetáculo é feito por todo o teatro e, com certeza, depois de apresentados os personagens a coisa vai melhorar. Quase acontece. Passada a sala de espera, chega-se ao camarim, seguido de coxias e palco até chegar à plateia. Já sentado, o público espera assistir a mais algumas cenas de seus atores favoritos, mas já é o fim da peça. A plateia deixa o teatro um tanto perplexa e sem dúvida nenhuma querendo mais.

O texto de Aloísio de Abreu tem boas referências ao teatro para iniciantes. Para amarrar a visita ao espaço teatral, inicia-se a visitação com uma historinha: dois atores desempregados estão a lavar o teatro quando são surpreendidos pelo público que supostamente iria a um parque de diversões. Mas como o público pagante é sempre bem-vindo, a chance não pode ser perdida. Sem um espetáculo para apresentar, resolve-se mostrar à plateia os bastidores do teatro. As etapas de uma montagem ficam para uma próxima vez.

Assim, o público chega ao camarim onde fica conhecendo a maquiagem e a disputa pela quantidade de bilhetinhos no espelho dos atores. Na coxia, fica sabendo que tudo deve ser dito bem baixinho para não atrapalhar a peça em cena. No palco, conhece a iluminação e os truques de mestre Aurélio de Simoni. Numa bonita lembrança, são apresentados – por slides -, grandes figuras do teatro nacional. Já nas poltronas, assiste-se a um número de plateia, e quando tudo ia muito bem, cai o pano.

O espetáculo, que tem ótima apresentação dos atores, Cláudia Rodrigues e Marcelo Serrado, texto enxuto e técnica afinada, tem seu maior elemento complicador na locomoção da plateia pelo espaço. O tempo que se leva para acomodar o público máximo (80 pessoas) em local tão pequeno e de difícil acesso é maior do que o das cenas apresentadas. A atenção acaba se dispersando nas mudanças de ambiente, e o final súbito acaba frustrando a maior parte da plateia que acabou de se acomodar num espaço tão conhecido e confortável.

Cotação: 2 estrelas (Bom)